Augusto Santos Silva prometeu uma presidência “imparcial e aglutinadora” enquanto segunda figura do Estado português. Naquele que foi o primeiro discurso à frente do Parlamento enquanto presidente da Assembleia da República, o socialista institui no poder da língua portuguesa, da liberdade e da integração, recebendo reações negativas do Chega enquanto falava.
O político dirigiu-se, logo no início, ao seu antecessor, Eduardo Ferro Rodrigues, que considera “uma inspiração maior de empenhamento cívico, coerência política, exigência ética e integridade pessoal” e exemplo vivo da máxima de Ricardo Reis “Para ser grande, sê inteiro”, que declarou ipsis verbis.
O agora presidente da Assembleia da República destacou o facto de ser o primeiro no cargo que tem origem, atividade profissional e residência permanente no Porto. Mas realçou sobretudo o facto de ter sido eleito pelo círculo da emigração, numa “representação verdadeiramente nacional”.
“É uma das melhores maneira de dizer a todos os compatriotas em todos os continentes, que os ouvimos, que deles cuidamos, que deles também se faz Portugal”, acrescentou.
O socialista sublinhou que o poder de Portugal, está na sua “história, no perfil contemporâneo de um país pacífico, coeso e desenvolvido e na constância de uma política externa aberta ao mundo, defensora do multilateralismo e do direito internacional”, assente na língua portuguesa.
“O bom requisito para ser patriota é não ser nacionalista. É não ter medo de abrir fronteiras, de integrar migrantes, de acolher refugiados, de praticar o comércio e as trocas culturais”, afirmou, numa clara alusão à crise humanitária atual. Neste ponto, a bancada do Chega mostrou-se desagradada com o discurso da segunda figura do Estado português.
Santos Silva insistiu no valor da língua portuguesa, da comunicação, e evocou Mário Soares e o poder da palavra como arma política. “O parlamento é a casa da palavra livre, tantas vezes incómoda, agreste, dura”. “Todas as ideias podem ser trazidas, mesmo aquelas que contestam a democracia, porque essa é a mais óbvia vantagem da democracia sobre a ditadura”.
Contudo, há exceções: o discurso do ódio não pode ter lugar, “aquele que negar a dignidade humana seja a quem for, o discurso de insultar o outro só porque é diferente, o que discrimina seja por que motivo, o que incita à violência e à perseguição”.
“A liberdade e a igualdade custaram demasiado para aceitarmos regredir para novos tempos de barbárie”, disse. Apesar dos tempos “particularmente difíceis” que vivemos dentro da Europa e do Mundo, o presidente do Parlamento assinalou que a XV Legislatura se iniciou num “momento luminoso” porque se cumpriram “mais dias do que a mais longa ditadura que a Europa conheceu no século XX”.
Depois de dizer que a Assembleia é o “verdadeiro centro do debate político”, exigiu “duas regras fundamentais”: “o respeito por todos os mandatos que resultam da livre expressão dos portugueses, quaisquer que sejam a sua representatividade eleitoral ou propostas programáticas”, bem como “o respeito pela vontade popular tal como ela se materializa na soma agregada dos votos individuais e se exprime na grandeza relativa dos grupos parlamentares”.