Um jornal de referência publicou recentemente um artigo sobre a remuneração média dos tenistas profissionais comparativamente aos atletas de hóquei no gelo norte-americano. Federer, Nadal, Djokovic, McEnroe, Borg, Laver, Sampras, Lendl, para citar apenas os mais notórios das últimas décadas, foram desportistas com reconhecimento global, figuras e embaixadores de marcas. Eles próprios foram marcas globais de um desporto símbolo de elegância, classe e beleza.

No espectro oposto, com a exceção dos cidadãos dos EUA e do Canadá, poucos conhecem o hóquei no gelo, o jogo ou os seus praticantes. Contrariamente ao ténis, o hóquei no gelo não é um desporto com audiências globais e decerto que os seus praticantes mais eméritos não são marcas globais nem embaixadores de marcas aspiracionais ou de luxo.

Tomando como referência o jogador situado na posição do ranking 200, em cada um dos desportos, no ténis os rendimentos dão apenas para um profissionalismo pouco acima do nível de sobrevivência enquanto no hóquei os ganhos são cerca de dez vezes superiores!

Como é possível que um desporto global, como o ténis, tenha os seus praticantes (com exceção de um punhado dos jogadores de topo) com dificuldades em estabelecer uma profissão estável e o outro, hóquei no gelo, menos mediático, consiga dar em meia dúzia de anos de profissão os rendimentos de toda uma vida de um trabalhar médio?

Os tenistas não têm sindicatos. Os hoquistas têm. Simples.

Na concertação social, com os representantes das ligas profissionais, os tenistas não conseguem uma divisão equitativa dos resultados obtidos pela indústria. Cruel resultado. Mas o individualismo, a anomia social e a falta de liderança dos tenistas a isto os conduziu, minando as bases de desenvolvimento futuro do ténis.

Isto para nos relembrar a todos da importância dos sindicatos e da concertação social. E como em Portugal, em 2022, temos desafios imensos que advêm do imposto inflacionista e da perda de rendimentos que ela causa nos trabalhadores, reformados, pensionistas e aforradores.

É dever de todos, sindicatos, empresas e Governo, encontrar mecanismos que mitiguem a perda de poder de compra dos rendimentos do trabalho. Compete ao Governo usar com critério o seu poder de aligeirar a carga fiscal sobre o trabalho (nomeadamente atualizando os escalões de IRS para os valores de inflação esperada) e praticar uma atualização intercalar dos vencimentos da função pública, usando para isso o seu magistério de influência de modo que o mesmo aconteça no setor privado.

As empresas, especialmente dos setores que ganham com a nova realidade monetária e geoestratégica, talvez aquelas que o novo ministro da Economia aludiu a propósito de um imposto sobre ganhos extraordinários, terão que atualizar os salários e demais cláusulas de expressão pecuniária.

Mas não chega. Compete à concertação social, no seio das empresas, dos setores profissionais ou em fóruns regionais e nacionais, discutir e implementar medidas que estimulem a poupança privada para a reforma dos trabalhadores e das empresas em prol destes. Estimulando os pilares complementares na construção de reformas dignas. Adicionalmente, vai sendo tempo de a concertação social estabelecer mecanismos de distribuição de lucros pelos quadros e trabalhadores.

Porque nós acreditamos que o estudo, o trabalho, a determinação, a ambição de querer fazer bem o trabalho de cada qual são pilares do mérito e da meritocracia. E por isso a distribuição de lucros, como instrumento de motivação, terá que ter um equilíbrio diferente entre quadros e trabalhadores, equipas de administração e acionistas. E nesta área também a concertação social terá um papel relevante a desempenhar.