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Diretor da Prevenção Rodoviária: “Idade é fator importante na relação entre má visão e o risco de acidente”

O diretor-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa, Alain Areal, fala ao Jornal Económico sobre um estudo que relaciona funções visuais dos condutores portugueses com a probabilidade de acidentes.
27 Fevereiro 2018, 07h25

A associação Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) e a Essilor Portugal estão desde o início de fevereiro a desenvolver um estudo nacional, que dizem ser inédito, sobre as funções visuais dos condutores portugueses. O resultado deverá ser apresentado antes do final do ano.

Num comunicado conjunto, é dito que “perto 25% dos condutores circula mal-corrigido ou mesmo não corrigido e cerca de 60% dos acidentes de viação podem estar relacionados com má visão ou baixa acuidade visual” e, por isso, o estudo, que se densenvolverá até ao fim do primeiro semestre deste ano, pretende avaliar a capacidade dos condutores portugueses em função das suas capacidades visuais, necessárias para a condução, aferir os hábitos de condução e perceber como atuam numa eventual participação em acidentes rodoviários.

O Jornal Económico falou com Alain Areal, diretor-geral da Prevenção Rodoviária Portuguesa, para perceber melhor o que se pretende com o estudo da acuidade visual dos condutores portugueses.

Qual o objetivo, qual a amostra do estudo e quando estará o documento pronto para divulgação?
O estudo tem como principal objetivo avaliar as funções visuais dos condutores portugueses de acordo com as normas para a condução de um veículo a motor, definidas no Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir (Decreto-Lei-n.º40-2016, ANEXO V – nº.1). Será também estudada a associação entre as funções visuais dos condutores e a participação em acidentes rodoviários.

A amostra incluirá um mínimo de 1050 condutores portugueses que irão realizar um rastreio visual específico para condutores. Além do rastreio, os condutores irão também responder a um questionário que inclui questões relativas ao tipo de carta de condução, frequência de condução e participação em acidentes rodoviários.

A recolha dos dados será realizada durante o primeiro semestre de 2018 e os resultados serão divulgados até ao final do presente ano.

É possível fazer uma estimativa de quantos condutores conduzem em condições de má acuidade visual ou com má visão?
Não existem dados que permitam estimar a percentagem de condutores portugueses que não cumprem os mínimos definidos no Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir.

Sendo a perda de capacidades visuais um processo gradual, a visão dos condutores pode degradar-se com o passar do tempo, ao ponto de ficar abaixo dos mínimos legalmente exigidos e colocar em causa a segurança rodoviária. Como, em Portugal, as funções visuais dos condutores são avaliadas unicamente nos momentos da emissão e da renovação do título de condução, poderá existir um número elevado de condutores que tenham problemas de visão e não tenham consciência disso.

Por não haver dados disponíveis nem ser possível fazer uma estimativa é que consideramos de elevada pertinência a realização deste estudo.

Acredita ser possível eliminar todos os problemas de viação diretamente relacionados com a acuidade visual? 
A maior parte da informação do ambiente rodoviário é recolhida pelos condutores através da visão. Como exemplo, os condutores têm que ser capazes de ver os outros utentes da estrada e outros obstáculos, ver e avaliar a informação de sinais de trânsito, estimar distâncias, movimentos e velocidades de forma a tomar decisões apropriadas. A informação recolhida é de vital importância para a tomada de decisões do condutor pelo que se a recolha de informação for deficiente a probabilidade de tomarmos decisões erradas é maior e por conseguinte o risco de acidente aumenta.

Assim, uma boa visão é essencial para uma condução segura.

Quanto maior for a eficácia e regularidade dos exames à visão, quer na admissão e na renovação da habilitação legal para conduzir, bem como ao longo da vida, teoricamente será menor o número de condutores a conduzirem com problemas de visão que possam comprometer a segurança rodoviária.

Há estudos internacionais sobre problemas de viação provocados por questões de acuidade visual? Que causas e resultados apontam?
É difícil estabelecer uma relação entre problemas de visão e a participação em acidentes rodoviários, uma vez que os dados de acidentes rodoviários não incluem informação médica dos participantes nos acidentes. No entanto, existem estudos que relacionam a existência de deficiência da visão periférica com o aumento do risco de acidente rodoviário. Os problemas com a visão noturna são também referidos como uma causa importante de acidentes rodoviários.

A idade é um fator importante na relação entre os problemas de visão e o risco de acidente. É sabido que à medida que a idade avança, as funções visuais vão-se deteriorando. Os problemas visuais, associados a outros fatores relacionados com o envelhecimento, fazem com que nos idosos os problemas com a visão tenham maior impacto no risco de acidentes rodoviários.

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