É completamente inegável a influência a que estamos sujeitos por tudo o que nos rodeia. Onde tudo o que nos entretém é uma estratégia de marketing que funciona como um relevante alicerce para influir todos os interesses, torna-se incontestável a urgência em perceber cautelosamente qual o impacto que cada estratégia tem em nós.

Como exemplo deste comportamento, está o sucesso absolutamente assombroso de uma série lançada em 2020 e conhecida certamente pelos fãs ávidos da plataforma Netflix, “The Queens’ Gambit”. Esta série foi vista na Netflix por 62 milhões de contas diferentes, em apenas 28 dias e esteve no top 10 dos conteúdos mais vistos na plataforma em 92 países, bem como em primeiro lugar em 63 destes. Ainda que, numa primeira instância, esta minissérie de sete episódios pareça apenas retratar um drama juvenil e o acompanhar do crescimento da personagem principal, Beth Harmon que, de episódio para episódio, vive lado-a-lado com um estudo intenso e um incessante treino que aspiram a um resultado permanentemente melhor, foi completamente inesperado o quão impactante viria a ser o seu enredo e o tema preponderante, o xadrez.

Desta forma, é, de facto, impressionante a magnitude que “The Queens’ Gambit” teve no interesse do público pelo tradicionalmente conhecido jogo de tabuleiro, mas talvez já um pouco esquecido e ofuscado por influências previamente impostas pelo entretenimento a que somos submetidos de forma regular. A série plantou um gosto pelo xadrez revelado por entre pesquisas constantes sobre o tópico e até mesmo compras de tabuleiros, que se tornou notório pelos websites e também pelos jogadores existentes de antemão. Foi evidente um estrondoso aumento, em mais de 250%, na pesquisa de tabuleiros do jogo apenas na plataforma de compras Ebay, somente 10 dias após o lançamento da série.

Para além disso, foi também visível uma adesão nos websites de xadrez, como é o caso do chess.com que, a partir de Novembro, bateu recordes quase diariamente. A meio desse mesmo mês, mais de 100.000 novos membros aderiam ao website todos os dias, o que representa quase cinco vezes as adesões que aconteciam previamente ao lançamento da série. Aproveitando-se disto, o website disponibiliza ainda uma opção que simula um jogo contra a protagonista de “The Queens’ Gambit”. Torna-se, deste modo, indubitável a poderosíssima estratégia que, querendo ou não, fez com que todo o negócio do que envolve o xadrez, tenha crescido praticamente de imediato após a estreia de “The Queens’ Gambit”.

Assim, resta-me ponderar aquilo a que estamos de facto sujeitos. Neste caso, falamos de um impacto positivo tanto económica como intelectualmente, no entanto, é relevante manter em mente que nem todas as séries almejam por uma consequência tão positiva. Consequentemente, as questões que se impõem são: qual vai ser a próxima forte influência, e quais vão ser as suas repercussões?