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Impacto da guerra comercial nas ‘commodities’ agrícolas pode ripostar contra Trump

Se a China continuar a retaliar o protecionismo de Trump, poderá pressionar ainda mais o setor. Os estados agrícolas, principais apoiantes do presidente, não estão a beneficiar do crescimento económico do país devido à guerra comercial e poderão mostrar desagrado já nestas eleições.
6 Novembro 2018, 07h40

O crescimento económico nos EUA mantém-se robusto, mas não abrange todos os setores. O impacto da guerra comercial está a ser pesado para as matérias-primas agrícolas e, em consequência, para os agricultores norte-americanos. Dado que este é um dos grupos de apoiantes do presidente Donald Trump, o desagrado poderá ser mostrado já nestas eleições intercalares.

“As quedas das bolsas americanas provocaram uma mudança do sentimento nos mercados, agora mais negativo. As matérias-primas caíram de forma transversal, mas os bens agrícolas talvez tenham a maior importância”, afirmou Ricardo Marques, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, ao Jornal Económico.

Os EUA vivem o ciclo económico mais longo das últimas décadas e não se espera uma recessão nos próximos anos. No entanto, as correções dos mercados acionistas e a guerra comercial estão a penalizar as matérias-primas. Entre os metais, os futuros do aço norte-americano acumula uma desvalorização de 16% desde o início do ano.

No campo das commodities agrícolas, o destaque está na soja, cujas exportações situavam-se, a meio do mês passado, nas 6,17 milhões de toneladas. O valor representa uma quebra de 3,4 milhões de toneladas face ao mesmo período do ano passado. Os futuros da soja norte-americana perdeu 7,5% em 2018. Da mesma forma, o milho cedeu 6%.

Se a China continuar a retaliar as políticas protecionistas do presidente Donald Trump através destes bens alimentares, poderá pressionar ainda mais o setor e, por conseguinte, os óleos alimentares.

A questão ganha especial destaque devido às eleições intercalares nos EUA, que se realizam esta terça-feira. “Os estados agrícolas, principais apoiantes de Trump, não estão a beneficiar do crescimento económico, devido à guerra comercial com a China, que parou de importar produtos agrícolas dos EUA”, alertou o economista da IMF.

O partido Republicano controla atualmente tanto o Congresso e o Senado, com uma margem confortável na câmara baixa (235 congressistas contra 193 congressistas Democratas) e com uma margem curta a câmara alta (51 contra 47 senadores Democratas e dois independentes).

No entanto, as sondagens indicam que o Partido Democrata deverá recuperar o controlo do Congresso, bem como ganhar entre seis e dez governos estaduais, apesar de não conseguir eliminar o controlo Republicano do Senado. As consequências poderão não ser imediatas, mas a posição do atual líder da administração norte-americana poderá ficar comprometida.

“A economia não deve mudar o voto de estados como Califórnia ou Nova Iorque, mas se Trump perder o apoio dos agricultores, pode perder o controlo do Senado, dificultando a recandidatura em 2020”, acrescentou Ricardo Marques.

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