Havia muitos temas a explorar para este texto de opinião.

As relações com a China, um mundo sempre algo “confuciano” para nós, aproveitando a visita a Portugal do Presidente Xi Jinping nos dias 4 e 5 deste mês, em que 19 acordos de cooperação bilaterais foram estabelecidos entre Portugal e a República da China. Alguns promissores, designadamente nos domínios do mar, tecnologia e exploração do espaço. Não posso deixar de chamar a atenção para um artigo de opinião do Presidente Xi para Portugal, publicado no DN de 02/12, que diz bem da minúcia com que a China prepara as suas visitas de Estado. Um exemplo. Imaginem o Presidente da China a referir-se no artigo ao município de Freixo de Espada à Cinta, como a terra portuguesa dos tecidos de seda. É obra!

O Brexit com o seu dia D na votação (positiva ou negativa) do acordo na Câmara dos Comuns, que ocorre amanhã, 11 de Dezembro, após uma campanha da Sra. May na base do medo, sustentada num “trabalho” encomendado ao Banco de Inglaterra, em que “o negrume” do não acordo é a pedra de toque em todos os dados, desde a queda do Produto e do Emprego à subida da inflação, etc..

A “rebelião” de Paris dos “coletes amarelos” sem fim à vista, até porque é difícil negociar seja o que for, dada a diversidade de vozes “dirigentes” com algumas em recusa do diálogo com o governo. E o governo de Macron a tentar tréguas, suspendendo por seis meses algumas medidas preconizadas. Para onde vamos?!

O ressurgimento da extrema-direita na Andaluzia, até agora um feudo dos socialistas, que acabará por levar ao poder o PP e Ciudadanos, com o seu apoio.

Qualquer uma destas situações apresenta um grande interesse e impacto em Portugal, para já não falar na posição embaraçosa da União Europeia (UE) face a Itália e o “nem ata nem desata” das reformas ao nível da UE, com as divisões do costume entre os países, o que leva sempre a questionarmo-nos sobre o que fazer desta União!

Decidi-me, no entanto, falar dos impactos da Web Summit em Portugal 2016-2028, porque tive acesso a um trabalho sobre este tema, elaborado por João Cerejeira da Universidade do Minho para o GEE – Gabinete de Estudos e Estratégia do Ministério da Economia. Não tive acesso especial. Basta consultar o site do GEE. É o relatório nº 62, Novembro de 2018, Temas Económicos.

Antes de algumas considerações breves sobre o trabalho propriamente e os seus resultados, uma afirmação de princípio.

Este tipo de trabalho técnico (avaliação prospectiva) devia constituir uma norma obrigatória em acontecimentos/iniciativas de alguma dimensão. E os seus resultados publicitados junto do público em geral e dos técnicos em particular, mesmo quando o trabalho não contemple todas as suas vertentes. Há situações em que não é possível à partida um trabalho abrangente, nomeadamente as de natureza qualitativa, mas há que conjecturar referências.

Segundo, esta avaliação da Web Summit, no decurso dos seus dez anos futuros, deveria ser periódica, por exemplo de três em três anos, para testar a metodologia do exercício, os pressupostos e, sobretudo, disponibilizar à sociedade informação sobre o andamento, no sentido de eventuais reajustamentos de trajecto.

Avaliação antecipada da Web Summit

Neste ponto, cingimo-nos a reproduzir, no essencial, alguns dos valores estimados que constam do trabalho. O autor, Professor João Cerejeira, procedeu à estimação dos impactos quantitativos da Web Summit, ano a ano, para todo o período 2016-2028, segundo quatro variáveis:

  • Despesa
  • Valor Acrescentado Bruto
  • Emprego
  • Impostos Resultantes da realização

O cálculo destes impactos foi determinado através da metodologia dos multiplicadores, estimados com base num modelo input-output a partir de matrizes do INE e na base de determinados pressupostos como por exemplo o número de noites em Lisboa de cada participante/visitante, os gastos/dia por participante, a taxa de crescimento esperada para os visitantes em cada um dos próximos anos, etc.

O autor construiu três cenários (A, B, e C), diferenciando-os, pela variação de alguns dos pressupostos, por exemplo, o número de noites ou a taxa de crescimento dos visitantes/ano.

Neste contexto, muito sumariamente exemplificado, deixamos aqui alguns dos valores estimados por João Cerejeira.

Para o Valor Bruto da produção, segundo a metodologia e os pressupostos usados, os valores obtidos para esta variável no Cenário A, o mais optimista, atingiram 179.9 milhões de euros em 2017 e vão chegar aos 296.4 milhões em 2020 e 395.8 milhões em 2025/2028. No cenário C, o mais conservador (menos noites de estadia em Lisboa e taxa de crescimento de participantes menos elevada, etc.), estes valores nos mesmos anos foram/serão, respectivamente de 102.6, 144.2 e 164.8 milhões de euros, nos anos finais.

Valor Acrescentado bruto. O cálculo dos valores desta variável foi determinado a partir da Produção mediante a subtracção dos consumos intermédios e, assim, os valores obtidos, para os mesmos anos, foram no Cenário A, 105.6, 174.1 e 226.6 milhões de euros e no cenário C, 51.6, 72.5 e 82.9 milhões de euros.

Impostos. Esta variável corresponde à soma de dois tipos de impostos. O imposto sobre rendimento (25.3%) e o IVA e impostos sobre produtos líquidos de subsídios (16.1%).

Os valores estimados para os mesmos anos e cenários foram no Cenário A, 43.8 milhões em 2017, 72.2 em 2020 e 93.9 milhões de euros em 2025/2028. No Cenário C, para os mesmos anos, foram respectivamente de 21.4, 30.0 e 34.4 milhões de euros.

O Emprego deve ser lido como o equivalente anual. Para os dois Cenários extremados (A e C) e para os anos de 2017, 2020 e 2025/8, temos no Cenário A, os valores do emprego equivalente a 2172, 3582 e 4664 e para o Cenário C, 1064, 1493 e 1710.

Vejamos que se trata de cenários “extremados”. Neste sentido, os valores apresentam-se bastante distantes.

Não se referiram valores do Cenário B, que constam do trabalho, pois pela sua característica de cenário intermédio não traz grande significado à dimensão da análise.

Trata-se de um trabalho perfeito?

Não, nem podia ser. Este tipo de trabalho pela sua natureza tem sempre constrangimentos e o autor do trabalho refere alguns.

Mas quando bem pensados, quando baseados em metodologias “consistentes/robustas” e em boa recolha e escolha de informação, estes trabalhos são importantíssimos e preciosos como fonte de informação prospectiva. São trabalhos que antecipam “realidades potenciais prováveis” e, nessa base, abrem caminhos de decisão económica e política.

E o lançamento de Cenários está a falhar, entre nós, no campo das evoluções e mudanças nas tecnologias quanto aos impactos societários. Daí o meu entusiasmo e a prioridade dada ao tratamento deste relatório.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.