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“Impasse” parlamentar em França pode levar Macron a preferir novas eleições

Depois da derrota desta semana na Assembleia Nacional (com a maioria relativa a revelar-se insuficiente para aprovação de medidas contra a Covid-19), o Presidente francês pode preferir disputar novas eleições.
16 Julho 2022, 09h12

O Governo francês conheceu esta semana a primeira derrota na Assembleia Nacional, com a maioria relativa a revelar-se insuficiente para aprovação de medidas contra a Covid-19, um “impasse” que pode levar o Presidente a preferir disputar novas eleições.

Após cinco anos de maioria absoluta, a não aprovação por completo das medidas de combate a Covid-19 veio lembrar aos partidos que apoiam o Presidente que uma maioria relativa não chega para seguir o programa de Emmanuel Macron e os interesses do Governo.

Assim, e num método que deverá ser utilizado frequentemente na Assembleia Nacional, as oposições juntaram-se e bloquearam a reintrodução do ‘passe vacinal’ para quem queira entrar no território francês, uma medida contestada mesmo pelos especialistas de saúde.

Mesmo antes das férias, este método será colocado à prova pela nova proposta para o poder de compra, em que o Governo quer aumentar as ajudas aos franceses para a compra de combustível ou o aumento das prestações sociais, especialmente ligadas ao alojamento.

Na oposição, muitos deputados não consideram que estas ajudas são suficientes face à inflação e vão tentar introduzir as suas próprias propostas.

Vitor Pereira, investigador principal no Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa disse à Agência Lusa ser preciso esperar até “setembro ou outubro”, para ver “se o Governo consegue ou não passar leis”.

“Algumas leis são mais consensuais como o aumento do poder de compra dos franceses, mas se o Governo propõe a reforma do sistema de pensões, pode tornar-se muito complicado. Talvez o Governo até tente logo uma lei muito polémica para mostrar que não é viável governar assim durante cinco anos e impor novas eleições”, considerou.

Até agora investigador na Universidade de Pau, Pereira considera que ir para novas eleições pode ser arriscado, mas que Macron poderá não terá outra hipótese que não “mostrar-se num impasse”, caso não se concretizem grandes medidas do seu mandato como a reforma do sistema de pensões até ao verão de 2023.

Por enquanto, o Presidente disse na entrevista que deu em 14 de julho, dia nacional de França, que as oposições devem fazer “compromissos responsáveis”, não se prevendo um cenário de dissolução, que poderia desagradar aos franceses.

Vitor Pereira questiona se a primeira-ministra, Elisabeth Borne, será a melhor escolha para tentar lutar por uma maioria absoluta, devido ao seu perfil de tecnocrata.

“Sabe-se bem que Emmanuel Macron – e viu-se com Edouard Philippe – não gosta de um primeiro-ministro com autonomia e popularidade, mas se for o caso de novas eleições, será que Elisabeth Borne é uma candidata para conseguir uma maioria absoluta? Fica a dúvida, mesmo no seio da maioria”, indicou.

Mas também a primeira-ministra pode mostrar-se uma importante peça política, com o senador François Patriat, do partido do Presidente, a dizer à AFP que Borne tem “intuição e firmeza”, surpreendendo “aqueles que a julgaram mesmo antes de ela mostrar do que é capaz”.

Pereira refere que, do lado da população, há “ebulição social” em França e que pode haver recurso à mobilização por parte dos sindicatos em setembro para exigir melhores condições de vida, sendo esse um dos medos do Governo e do Presidente.

“As situações social e económica podem permitir uma certa ebulição. Como os salários não estão a seguir o aumento do custo de vida, muitas pessoas perdem muito dinheiro, e como o desemprego baixou, as pessoas têm menos medo de fazer greve e perder o trabalho. Portanto, são boas condições para mobilizações sociais, (…) é um medo que paira por cima de Emmanuel Macron”, avisou o investigador.

Ao mesmo tempo, com uma nova Assembleia, 89 deputados da extrema-direita entraram no hemiciclo, algo que representa uma “grande perigo” para a normalização da União Nacional de Marine Le Pen.

“A tradição no pós-Segunda Guerra Mundial sempre foi não banalizar a extrema-direita, mas muitos deputados do partido de Macron disseram agora que eles foram eleitos democraticamente e que representam a população. O grande perigo é que a União Nacional quer continuar a banalizar-se e mostrar uma postura de responsabilidade”, concluiu Vitor Pereira.

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