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Impresa admite que grupo terá de reagir se avançar a compra da TVI pela Altice

No 27º Congresso da APDC, o tema foi a compra da TVI pela Altice, o impacto no sector, o futuro dos media e a necessidade de parcerias para que a comunicação social sobreviva. Em debate esteve o Estado da Nação dos Media.
  • APDC
27 Setembro 2017, 22h59

O presidente executivo da Impresa disse hoje durante o 27º Congresso da APDC  que o grupo terá de reagir se a Altice comprar a TVI, mas defendeu que o fundamental é que não se concretize este “negócio muito prejudicial para o setor e para a democracia”. A notícia é avançada pela Lusa. Francisco Pedro Balsemão falava aos jornalistas, à margem da sua participação num debate no congresso, em Lisboa.

O presidente executivo do grupo que detém a SIC voltou a reafirmar aos jornalistas a posição que já tinha defendido no debate, de que é contra a integração vertical de empresas do setor dos media, considerando que este é “um mercado muito pequeno e sensível” e que “qualquer alteração terá impacto sobre o pluralismo e diversidade de expressão em Portugal”, avançou a agência noticiosa.

“O engolir de um dos grandes grupos de comunicação social em Portugal, como é o caso da Media Capital, pelo maior operador de telecomunicações e distribuição em Portugal vai criar um híbrido que terá impacto em todo o ecossistema mediático. Daí que a minha preocupação enquanto cidadão não é a SIC, é a Cofina, a RTP, a imprensa regional, são outros meios, porque vai restringir o investimento publicitário, a distribuição e os conteúdos”, explicou-se.

A compra da Media Capital pela Meo/Altice não se afigura pacífica (recorde-se que o presidente da Sonaecom também já se manifestou contra o negócio). Os concorrentes da TVI e da Meo têm-se manifestado contra o negócio e o congresso da APDC, que contou ainda com a participação do presidente da ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social, cujo parecer sobre o negócio é vinculativo, foi mais uma vez palco de críticas à operação de concentração.

Paulo Azevedo (Sonaecom) afirmou recentemente que a compra da Media Capital pela francesa Altice não visa “o interesse público”. “Infelizmente tive muitas vezes de lutar contra teias tecidas por ligações entre o poder económico, o poder político e o poder mediático que não visavam o interesse público e penso que esta operação configuraria uma situação que se prestaria muito a isso voltar a acontecer de uma forma bastante mais grave”, disse então o gestor à saída de uma reunião na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

Por outro lado a presidente executiva da Media Capital, dona da TVI, Rosa Cullell, alertou para o facto de os media terem “de ter parceiros para entrar no digital. Não vamos conseguir competir num mercado com a Google ou a Amazon sem ser fortes”.

A CEO da Media Capital mostrou-se tranquila com parecer da ERC sobre negócio com Altice.

Em declarações aos jornalistas, citadas pela Lusa, após o debate do Estado da Nação dos Media, a gestora considerou que a ERC deve dar a “resposta que considere certa” e que a sua preocupação é com o “futuro dos media”.

Rosa Cullell disse ainda, segundo a Lusa, que quer é “ter parceiros com capacidade de investimento e quero que as pessoas que trabalham na Media Capital tenham um futuro com um projeto digital grande e também internacional. O que quer que a ERC diga é um assunto do regulador, não é meu, que eu sou administradora da Media Capital”, acrescentou a responsável, afirmando-se tranquila.

Para a CEO, as convergências no setor são obrigatórias, notando a necessidade de procurar “novos parceiros dentro das telecomunicações e das plataformas internacionais”.

“Temos que ir à procura de alguém que ajude os media tradicionais a crescer, caso contrário, o problema vai aparecer no futuro próximo”, alertou.

Carlos Magno, presidente da ERC, disse nesta quarta-feira que os media precisam de “um pacto” para salvar o sector e a democracia. Durante o congresso da APDC,  no painel sobre o Estado da nação dos media, o presidente do regulador aproveitou para defender que é preciso “reforçar o papel do regulador dos media. Temos de deixar o mundo analógico e entrar definitivamente no digital”. Carlos Magno disse ainda metaforicamente “que o estado dos media é uma espécie de ensaio do Felini com orquestra do Titanic. Nenhum guionista sabe como terminar este filme”. O presidente da ERC considerou ainda que o sector dos media “não está para treinadores de bancada” e é urgente um pacto entre todos os “players” para salvar o sector e a democracia.

A Altice anunciou em 14 de julho, após dois anos de ter comprado a PT Portugal (Meo), que tinha chegado a acordo com a espanhola Prisa para a compra da Media Capital, dona da TVI, entre outros meios, numa operação avaliada em 440 milhões de euros. A operação envolve ainda uma OPA da Meo à Media Capital.

Em 18 de setembro, a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) considerou, num parecer enviado à Autoridades da concorrência, que a compra da Media Capital (dona da TVI) pela Altice (dona da PT/Meo) não deverá ter lugar “nos termos em que foi proposta, porque é suscetível de criar entraves significativos à concorrência efetiva” em vários mercados. Este parecer da Anacom não é vinculativo.

O debate que reuniu os responsáveis dos principais grupos de media contou este ano com a presença do director-geral da Google, motor de busca que é acusado de canibalizar os media, nas receitas publicitárias online. Bernardo Correia participou na mesa redonda com  os líderes da RTP (Gonçalo Reis); da Media Capital (Rosa Cullell); da Impresa (Francisco Pedro Balsemão) e ainda Rolando Oliveira da Controlinveste. Todos defenderam que as parcerias são a solução para o crescimento das receitas publicitárias.

Apesar de não poder estar presente na 27ª edição do congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), Marcelo Rebelo de Sousa deixou uma mensagem sobre o futuros dos media. Na mensagem lida por Luís Ferreira Lopes, em representação da Casa Civil da Presidência da República, Marcelo destacou a importância do congresso para o debate dos desafios da transformação digital, “para além do debate do Estado Nação por exemplo dos media, que são fundamentais para a democracia”.

“A chamada transformação digital é a mais rápida e mais significativa na história do homem”, recordou na sua mensagem o Chefe de Estado.

 

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