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Independentistas não conseguem assegurar vantagem na Catalunha

Depois do que se passou com o referendo à independência, tudo parecia estar a favor de uma vitória clara do separatismo nas eleições de 21 de dezembro. Afinal, não é nada disso que se está a passar.
  • Yves Herman/Reuters
12 Dezembro 2017, 07h05

A exatamente 15 dias das eleições regionais na Catalunha, a formação do próximo elenco parlamentar da autonomia permanece envolta numa enorme incerteza: depois de um primeiro momento – imediatamente a seguir ao referendo sobre a independência realizado a 1 de outubro passado – em que os partidos pró-independentistas pareciam levar a dianteira, o ‘fôlego’ separatista tem vindo claramente a perder vigor.

É certo que há sondagens para todos os gostos – com os independentistas a queixarem-se sistematicamente dos critérios que estão por detrás de alguns desses estudos, propagandeados pelos jornais espanhóis –, mas o certo é que de há pelo menos duas semanas a esta parte que os independentistas não se encontram à frente de qualquer uma delas.

Quanto aos vencedores absolutos, os resultados também têm vindo a evoluir em desfavor dos independentistas. Na primeira sondagem realizada depois de o governo de Madrid anunciar o dia das eleições, a Candidatura de Unidade Popular (CUP), liderada por Oriol Junqueras, chegou a aparecer à frente das intenções de voto – o que pareceu estranho à maioria dos comentadores, dado que o partido, de extrema-esquerda, tinha apenas 10 dos 135 lugares no parlamento ‘fechado’ pelo governo de Mariano Rajoy.

Pouco depois, foi a vez do PDeCAT de Carles Puigdemont – entretanto já refugiado na Bélgica – passar para frente das sondagens. Mas isso também durou pouco tempo, e no estudo de opinião mais recente é o Ciudadanos – um dos poucos partidos que está a usar o castelhano para fazer a campanha eleitoral – que colhe a maioria das intenções de voto.

Mas as contagens por partidos não têm qualquer significado político, como disse há dias ao Jornal Económico um politólogo português que vive em Barcelona. O que está em causa é perceber-se, no final do dia 21 de dezembro, se os independentistas obtêm ou não a maioria – independentemente de conseguirem vir a formar um governo e independentemente das adições que seja necessário fazer.

Se os partidos independentistas no seu conjunto conseguirem uma maioria de votos (mesmo que, por hipótese, o Ciudadanos acabe por ganhar as eleições), Mariano Rajoy, o rei Filipe VI, o histórico dirigente socialista Felipe González e ainda o atual secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, terão um enorme problema entre mãos, que rapidamente ascenderá ao topo da agenda política – ou, mais propriamente, não chegará a sair de lá.

Independentistas desavindos

O mínimo que se pode dizer é que, aparentemente, os independentistas estão a fazer tudo ao contrário do que era suposto se queriam levar de vencida as eleições que se aproximam – e Mariano Rajoy por certo que antecipou estes desentendimentos, que correm a seu favor. Desde logo porque não conseguiram formar uma lista conjunta que agregasse as vontades independentistas do território – uma espécie de reedição do Juntos Pelo Sim, que estava no poder na Generalitat até Madrid ter decidido intervir.

O que passou para a opinião pública, segundo a mesma fonte, foi uma mensagem clara de desentendimento entre todos – afinal, a mesma mensagem que o executivo liderado pelo liberal de direita Carles Puigdemont, como presidente, e pelo esquerdista radical Oriol Junqueras, como vice-presidente, já vinha passando antes da destituição.

A incapacidade de formação da lista conjunta – numa altura em que, tudo o indicava, a exaltação dos ânimos pós-referendo para isso fortemente contribuiriam – foi entendida como um sinal muito negativo por parte do eleitorado. E não terá sido por acaso que foi precisamente a partir daí que as sondagens começaram a mostrar o afundamento dos independentistas em termos de intenção de voto.

Melodrama à vista

Para piorar as coisas, os catalães parecem a estar a observar com muita reserva a forma como a campanha está a ser estruturada do lado dos independentistas. Por uma razão: o melodrama que Puigdemont decidiu montar a partir de Bruxelas parece estar a ser contraproducente. O líder do PDeCAT, depois de fugir da Catalunha – os que não fugiram e, como ele, tinham mandados de captura, entregaram-se às autoridades (os da CUP) – decidiu que iria participar na campanha eleitoral, mas o grosso das suas intervenções resume-se a queixar-se de que não pode estar no seu próprio território para o fazer.

A dramatização da campanha não tem corrido a seu favor e alguns já afirmaram que Puigdemont pode sentir-se tentado – neste contexto adverso e na tentativa de conseguir um volte-face à última hora – a produzir uma encenação ‘hollywoodesca’: regressar a Barcelona para ser preso à saída do avião!

Entretanto, nas ruas – e é de recordar que em Barcelona as ruas são a arena política por excelência – parece haver um empate técnico entre independentistas e não-independentistas. No dia em que a fase de campanha eleitoral foi oficialmente aberta, os independentistas encheram algumas artérias de Barcelona com bandeiras e cartazes a exigir a independência da Catalunha. No dia seguinte, ontem, foi a vez de cerca de 12 mil pessoas (não são muitas, mas costumam ser 400, segundo a imprensa) comemorarem na rua os 39 anos do referendo que aprovou a Constituição espanhola.

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