[weglot_switcher]

Inês Godet: Uma centelha de esperança na luta contra o cancro

Tem 25 anos e está no 2.º ano do doutoramento, após um mestrado com 20 valores, na Hopkins. A sua investigação centrada no impacto da hipóxia (ausência do oxigénio dentro do tumor, o que promove a agressividade) no cancro da mama, é já um salto em frente no conhecimento do problema.
10 Junho 2017, 20h00

Por trás da sua aparência frágil esconde-se uma vontade de ferro. O sorriso que emana dos seus olhos grandes, castanhos, transmite a alegria do pioneiro que se deleita a abrir o caminho, mesmo que nem todas as circunstâncias lhe sejam favoráveis, como, no caso, os 7.000 Km que a separam de casa e do seu maior desvelo, a irmã Mariana.
Inês Godet, 25 anos acabadinhos de fazer, é si mesma uma força, o que se revela sobretudo quando fala do outro. “Admiro imenso todas as pessoas que dedicam parte das suas vidas a tentar fazer ou descobrir algo por pura curiosidade acerca deste mundo em que vivemos, ou com o objetivo de tornar a nossa existência melhor”. Em Baltimore, EUA, numa das mais prestigiadas universidades de Medicina do Mundo, a Johns Hopkins University, a própria dá todos os dias um passo nesse sentido. Apesar do programa de doutoramento ser da escola de Engenharia, a investigação é conduzida no laboratório da Dra. Daniele Gilkes, que está inserido no departamento de Oncologia da Escola de Medicina.

“Um dos meus principais projetos – explica – consiste na criação de um sistema que requer a manipulação de células derivadas de diferentes cancros da mama, que reporta quando uma célula sente um ambiente hipóxico (ausência de oxigénio dentro do tumor que promove a sua agressividade), através de uma mudança de cor. Esta mudança é irreversível, permitindo distinguir as duas populações de células e estudá-las separadamente”, explica. A fase seguinte (experiências em animais) permitirá determinar de que forma essas células tornam mais agressiva a progressão do cancro e aceleram a cascata de metástases.
O cancro foi sempre uma nuvem negra na cabeça de Inês Godet. “Desde cedo percebi que intervir ativamente na área da Medicina me realizaria não só a nível profissional, dada a importância e a progressão deste campo, mas também a nível pessoal, por de alguma forma poder contribuir para uma sociedade mais saudável e sustentável. Com tantas questões por responder, a área da oncologia despertou o meu interesse”, explica-me.

Este seu interesse facilitou-lhe a vida quando terminou os estudos na Escola Secundária de Trancoso, vila histórica no distrito da Guarda, onde cresceu e viveu até à universidade. “A única certeza que eu tinha no final do secundário era que queria ter uma profissão que me permitisse contribuir para solucionar um dos maiores fardos da humanidade.”

Apesar da oferta em Biologia básica ser vasta, um curso mais abrangente deixá-la-ia melhor preparada para enfrentar as diversas formas de abordar a investigação científica e a doença. Foi com esta motivação que chegou ao Instituto Superior Técnico, em cujo website leu uma breve discrição sobre Engenharia Biológica. Pareceu-lhe, de imediato, a escolha certa. Era! Em 2015 seguiu para a Johns Hopkins, agradecendo a Leonor Silva, colega de Engenharia Biológica, que a apresentou ao Dr. Denis Wirtz, que a orientaria na tese de mestrado. Regressou a Lisboa com 20 valores e um convite para fazer o doutoramento, ou PhD, como por lá se diz. O primeiro ano já passou. Sobram três.
Em Baltimore, a sua vida está recheada de estrangeiros, mas também há portugueses, pessoas super interessantes, que, nalguns casos, já se tornaram bons amigos. Além de todos os seminários e palestras a que assiste frequentemente nos campus, por vezes, Inês também apresenta os posters da sua investigação em simpósios. Vai espalhando a palavra e o interesse sobre o cancro da mama. O reconhecimento tem chegado sob diversas formas. No Técnico, por exemplo, foi recentemente agraciada com o Prémio Engenheira Maria de Lourdes Pintassilgo, ao lado de Maria Graça Carvalho, antiga ministra da Ciência, outra ilustre filha da casa.

As saudades de ouvir e ver o mar e o cheiro a maresia, as pessoas humildes, e, claro, Mariana, enchem-lhe o coração. Fazem-na sonhar com um futuro tão auspicioso como o presente… mas em casa!

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.