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Inflação a longo prazo, execução do PRR, crise alimentar e aumento do prémio de risco preocupam banca

Inflação no longo prazo, a execução do PRR, a crise alimentar fruto da guerra e o aumento do prémio de risco da dívida pública face à Alemanha na lista de preocupações dos CEO dos seis maiores bancos. A banca vai fazer parte da solução e não do problema defendem.
13 Maio 2022, 15h48

Os CEO da CGD, BCP, Novobanco, Santander Totta, BPI e Crédito Agrícola estiveram no Fórum Banca organizado pelo Jornal Económico e PwC. Apesar do tema principal ter sido as novas exigências decorrentes dos critérios ESG de sustentabilidade ambiental, social e de governance, o painel que juntou Paulo Macedo; Miguel Maya; António Ramalho; Pedro Castro e Almeida; João Pedro Oliveira e Costa; e Licínio Pina chamava-se “o Estado da Nação da banca” e não há como evitar discutir o impacto da inflação que atingiu os 7,2% em abril (o valor mais alto em 29 anos) na banca. Recorde-se que a presidente do BCE admitiu a subida das taxas de juro já em Julho. Christine Lagarde diz que o agravamento das taxas acontecerá “algumas semanas” depois do fim do programa de compra de dívida.

Outro tema que impacta nas contas e balanços dos bancos é a subida dos juros soberanos, e sobretudo o aumento do prémio de risco face à Alemanha para o qual os bancos não conseguem mitigar o efeito com instrumentos de cobertura, os famosos swaps.

Paulo Macedo, o CEO do maior banco português, voltou a dizer que está confiante na economia nacional e repetiu que não antevê uma recessão no curto ou médio prazo em Portugal. Lembrou que o BCE pode subir os juros abaixo de 100 pontos base até ao fim do ano e até 150 pontos em dois anos, o que não considera dramático dado o nível de taxas de juro atual “anormalmente baixo”.

“Na anterior crise estávamos com 400 pontos”, disse o CEO da CGD que voltou a falar dos mitigantes do impacto macroeconómico nas empresas e nas famílias. Desde logo o setor privado está bastante menos endividado, “ao contrário do setor público”, disse. As empresas aumentaram a autonomia financeira, diz o banqueiro.

“Temos mais poupança gerada quer pelas famílias, quer pelas empresas”, referiu acrescentando que a CGD aumentou os seus depósitos em 6 mil milhões de euros.

Paulo Macedo lembrou ainda que o crescimento do PIB no primeiro trimestre foi melhor do que o esperado e que a previsão para o fim do ano é positiva. No entanto salvaguardou que a sua análise não rejeita que a guerra acentue os cenários adversos.

Para 2023 a economia conta com o impacto positivo do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), referiu ainda o presidente da Caixa que acrescentou que é preciso assegurar que uma subida excessiva da inflação não provoque uma recessão.

O CEO da CGD lembrou que o contexto económico tende a afectar mais os bancos do centro da Europa, nomeadamente os austríacos e os holandeses que têm uma maior exposição à Rússia e à Ucrânia. Em Portugal a exposição dos bancos é residual e resume-se a uma exposição indireta através das empresas suas clientes.

Já quando questionado sobre os juros dívida pública e a sua escalada recente, Paulo Macedo voltou a dizer que o preocupa mais o alargamento do ‘spread’ face à dívida alemã, o chamado prémio de risco que afectou negativamente os capitais próprios do banco.

A CGD registou uma queda dos 3,9% dos capitais próprios no primeiro trimestre. Mas não foi apenas o impacto da dívida pública, foi também devido ao impacto da amortização dos 500 milhões das obrigações altamente subordinadas, Additional Tier 1.

Depois foi a vez de Miguel Maya, CEO do Millennium BCP, que optou por salientar que o setor bancário é dos menos rentáveis e está abaixo do valor contabilístico.

O presidente do BCP é menos optimista que o presidente da Caixa no que toca ao impacto económico na banca.

Desde logo alertou para o facto de Portugal voltar a aparecer no topo dos casos da nova vaga de Covid 19, o que pode afectar o turismo. “O mundo não é justo”, ironizou o banqueiro.

“No entanto a questão da guerra deixa-me infinitamente mais preocupado”, disse Miguel Maya explicando que o impacto não é no PIB este ano, mas haverá impactos estruturais na economia “muito fortes” que vão decorrer do conflito e das reações internacionais.

Desde logo defendeu, que o prolongamento da guerra compromete a implementação das metas ESG (environmental, social, and corporate governance). Ou seja, compromete a descarbonização que não pode ser feita a nível local e precisa da diplomacia para a mobilização à escala global.

Por outro lado, a guerra tem um tema acrescido, as restrições adicionais que está a causar ao nível dos adubos e fertilizantes e ao nível da produção de cereais, o que pode provocar fome à escala mundial, alertou Miguel Maya. “Pode-se criar um ciclo muito negativo”, disse.

Pedro Castro e Almeida, por sua vez, também dividiu o impacto do curto prazo do impacto esperado no médio prazo, mas optou por comentar o cenário central e não o mais adverso.

O presidente do Santander Totta está optimista no curto prazo. No médio e longo prazo Pedro Castro e Almeida citou o estudo da Gulbenkian Foresight Portugal 2030 que estabelece três cenários. Cenário 1: Confiança na continuidade (mais 20 anos a crescer 0,8%); Cenário 2: Com engenho, em busca de um novo espaço na Europa; e Cenário 3: Portugal “4D” – Digitalização, diversificação, dinamismo e distinção.

“O desafio é do Governo, da sociedade civil e dos empresários”, defendeu. Citando o presidente da APB, Vitor Bento, que estava presente na audiência, o CEO do Santander Totta lembrou que Portugal tem um problema estrutural de produtividade. “Somos os 25° em 27 países”, lembrou. O excessivo peso do Estado, a qualificação dos portugueses, o facto de termos a quarta maior taxa máxima de IRC do mundo e a primeira da UE, a falta de modernização e escala das empresas são alguns dos problemas do país apontados pelo banqueiro. Se há uns anos tínhamos 5% da população a ganhar o salário mínimo hoje temos 25%, frisou.

Na banca o futuro passa por toda a gente ter o banco no seu bolso, disse ainda o presidente do Santander Totta.

João Pedro Oliveira e Costa, do BPI, lembrou que todos os bancos estão melhor preparados para absorver choques. “Temos uma oportunidade com quatro anos de maioria absoluta e com o imenso dinheiro do PRR, pelo que vamos ser obrigados a fazer qualquer coisa”.

“Quando é mesmo preciso nós conseguimos”, disse o presidente do BPI que lembrou que o Estado precisa de se transformar, precisa de novo talento e de se digitalizar.

A fiscalidade das grandes empresas é um tema importante para o CEO do BPI, que defende que deveria ser mais competitiva.

Licínio Pina, presidente do Crédito Agrícola, concordou com a “oportunidade de ouro” do país para aplicar as medidas transversais necessárias ao país. Políticas de coesão territorial e justiça, são alguns exemplos.

António Ramalho, CEO do Novobanco, participou via zoom no fórum, disse que a economia portuguesa financia-se na base da indexação, e, portanto, vive das taxas de curto prazo.

“O ano 2022 não vai trazer elementos particularmente negativos”, disse o banqueiro que alertou que as empresas têm de se preparar para 2023, onde há alguma incerteza em relação à inflação.

A dívida de pública foi também abordada por António Ramalho, que falou do aumento do prémio de risco da dívida pública portuguesa face à Alemanha e do impacto na banca. “O nosso prémio de risco está em 114 pontos base, o que compara com o de Itália que está em 200 pontos base, disse o CEO que lembrou o aumento de 50 pontos bases nos últimos 4 meses”.

“Tudo indica que banca nesta crise vai fazer parte da solução e não do problema”, concluiu António Ramalho.

Já antes o Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, tinha dito que “embora a inflação deva permanecer alta durante 2022, não há razões estruturais para que não convirja para o objetivo de médio prazo à medida que os desequilíbrios sejam gradualmente resolvidos e a incerteza dissipada. Não há por ora, sinais estruturantes de desancoragem”.

No entanto, “o balanço de riscos em torno das projeções da inflação está enviesado em alta devido à possibilidade de um conflito mais longo e à imposição de sanções económicas adicionais sobre a Rússia, nomeadamente sobre a importação de energia”, alertara Centeno.

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