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Inflação e custo de vida

A verdade é que ao nível salarial, o crescimento da inflação e o inevitável custo de vida se expressam, em termos reais, pela diminuição dos salários, sobretudo os salários médios.
5 Junho 2023, 07h05

Querem fazer-nos acreditar que os preços estão a descer, mas a verdade é que a inflação tem-se mantido praticamente igual ao longo deste ano – cerca de 8,6% em Março, com a inflação anual da alimentação a aumentar (segundo estudo recente de Eugénio Rosa, esta aumentou 17% em Abril de 2023).

Ou seja, os preços dos alimentos não se atenuaram nem tão pouco os preços da energia – ou não fossemos sentindo “na pele” o decréscimo do poder de compra no dia-a-dia. Houve alívio da inflação, devido a “efeito de base”, dizem alguns “interessados” em difundir tais inverdades- para mais usando termos de comparação numérica em relação aos que vingavam há cerca de um ano, nos mesmos meses …

Sendo a inflação, sucintamente, o aumento geral dos preços de bens e serviços, parece que poucos portugueses possam afirmar que a mesma tenha sido aliviada por estes tempos – todos compramos menos do que antes conseguíamos comprar pelo mesmo valor pecuniário, sejam alimentos, combustíveis, vestuário ou mesmo serviços de seguros e a renda das casas! –e este último produto com um peso substancial e determinante no orçamento da maioria dos consumidores e famílias…

Dir-se-á que a economia tem beneficiado com o turismo e com o consumo privado, sobretudo depois da pandemia, em 2022, mas a verdade é que ao nível salarial, o crescimento da inflação e o inevitável custo de vida se expressam, em termos reais, pela diminuição dos salários, sobretudo os salários médios.

Não parece haver ação política, governamental e ao nível da fiscalização, para inverter esta sobrecarga do custo de vida para os portugueses – mas as notícias manipuladoras de que a economia tem estado a crescer não param, sem, porém, justificar porque é que inflação média anual dos produtos alimentarem continua a aumentar e não se tem sentido sequer qualquer efeito do propalado IVA “Zero”.

Ao nível da função pública, já tão penalizada no seu poder de compra desde 2011, consecutivamente, tem-se assistido, por estes tempos, ainda mais, e penosamente, a uma quebra brutal dos salários líquidos destes trabalhadores. A exemplo: nos médicos esta quebra já vai nos 23%; nos professores 22% e nos técnicos superiores 19,8%. Os profissionais da investigação científica já perderam 35% da sua liquidez! – expressão inequívoca de como, em Portugal, se desvaloriza e indignifica a investigação científica nacional.

Que governo é este que destrói assim o sector público quando desinveste nos seus profissionais e os “oferece”, sobretudo aos mais qualificados, ao sector privado e à emigração? É atentar a tantos concursos de contratação pública que ficam vazios, pois com esta política remuneratória não é possível atrair profissionais com as competências que, neste momento, tanto carecem na administração pública – sobretudo na saúde e na educação…

Ou seja, as actuais políticas administrativas, comprometem o desenvolvimento e o futuro do próprio país, ante uma administração pública incapaz de dar resposta aos desafios socioeconómicos de uma população cada vez mais empobrecida e desmoralizada. Que tempos são estes?

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

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