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ING: “Até agora, os mercados estão tranquilos sobre as eleições em Itália”

Os estímulos monetários do BCE e a recuperação da economia italiana deverão suportar a dívida do país, segundo o economista sénior do ING, Paolo Pizzoli. Em entrevista ao Jornal Económico, o responsável pela análise de Itália, refere, no entanto, que caso não haja um governo formado até ao verão, os riscos aumentam.
27 Fevereiro 2018, 07h20

Como é que os mercados estão a antecipar as eleições italianas?

Os mercados estão a ter, até agora, uma abordagem bastante tranquila sobre as próximas eleições italianas. O spread da dívida a 10 anos de Itália face às Bunds alemãs reduziu-se ao longo de janeiro e aumentou apenas marginalmente nas últimas sessões.

Na sua opinião, qual é o resultado mais provável das eleições?

O meu cenário base é que as eleições terão um resultado inconclusivo, sem que nenhuma das coligações concorrentes consiga alcançar uma vitória definitiva. Se for esse o caso, será necessário algum tempo para que seja alcançada uma coligação mais alargada que apoie um governo de unidade nacional.

Itália é o segundo país com maior rácio de dívida pública face ao PIB, na zona euro. Quais as possíveis implicações para a dinâmica da economia italiana, especialmente no que diz respeito aos esforços para reduzir o elevado endividamento do país?

No curto prazo, a economia italiana parece num estado de recuperação seguro. Caso a solução para o impasse seja particularmente difícil, um impacto negativo na procura interna e particularmente no investimento privado tornar-se-á uma possibilidade clara. No que diz respeito à sustentabilidade da dívida, não vejo risco a curto prazo. Também graças ao quantitative easing (QE) do Banco Central Europeu (BCE), que ainda está em vigor, o custo da dívida pública provavelmente permanecerá contido. Além disso, devemos notar que, na ausência de um novo governo, o executivo de Gentiloni vai atuar como governo provisório em funções. Num cenário sem mudanças políticas, a simples aplicação do orçamento atual deve levar a uma redução tanto do défice face ao PIB, como à dívida face ao PIB.

E para a economia e reforma da zona euro?

Não vejo nenhum impacto relevante na economia da zona euro a curto prazo. As evoluções nas frentes de reforma da zona do euro dependerão de forma mais acentuada de quando e se a Alemanha terá um grande governo de coligação.

Se não houver um vencedor claro, quais serão os próximos passos?

Será feito um grande esforço para reunir uma coligação mais alargada, além dos limites das três coligações concorrentes. Essa combinação de fatores (partes) pode implicar uma separação das coligações originais. Novamente, o processo pode ser longo do que os italianos estão habituados. Caso não seja encontrada qualquer solução antes do final de julho, penso que o risco de outras eleições após o verão aumentaria.

Quanto tempo poderá Itália funcionar sem uma solução?

Com um governo provisório em funções, Itália pode continuar a funcionar por alguns meses sem grandes problemas. Com certeza, seria principalmente assuntos ordinários e não se deve esperar nenhum progresso no processo de reformas. Em princípio, se o impasse persistir até o final do ano, a falta de aprovação do orçamento de 2019 não deve causar grandes distúrbios às finanças públicas italianas, já que uma queda automática nas taxas de IVA e impostos especiais de consumo já está prevista para janeiro de 2019. Embora prejudicial para o crescimento, ajudaria a manter o défice e a dinâmica da dívida sob controlo. No entanto, não acredito que Itália continue sem uma solução até então.

Pode haver uma situação semelhante à da Alemanha?

Não comento.

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