As palavras têm significado. De acordo com Guy Deutscher, formado em matemática e linguística, a nossa língua materna tem o potencial de moldar a nossa forma de pensar. O conceito não é novo, há cem anos, Benjamin Lee Whorf, inspirado na física moderna, tornou-se o proponente do conceito da relatividade linguística.

Não sou linguista nem estudiosa do tema. Sou professora de estratégia, mas acredito que o idioma que falamos pode ter influência na construção dos nossos modelos mentais. E é por isso, que fico incomodada sempre que alguém se refere a objetos e conceitos normais no formato diminutivo usando os sufixos -inho, -ino, -ito. De alguma forma isto está a condicionar o povo português a pensar pequeno. Aliás não pequeno, mas antes pequenino…

E porque é que isto é de relevância para uma pessoa que ensina estratégia? Porque em parte, passo horas a debater e pensar como fazer crescer o negócio das empresas, como melhorar a competitividade das mesmas e de forma mais macro, como fazer desenvolver o nosso país para que o mesmo seja competitivo.

Sou frequentemente confrontada com o efeito linguístico de pensar pequeno, seja a nível das organizações ou no meio académico. É difícil fazer crescer e ter grande ambição quando pensamos pequeno. Sou defensora da ideia muito anglo-saxónica de “Go big or go home.” Quando desenhamos planos de desenvolvimento de negócio que logo à partida são pequenos estamos a limitar o exercício do que é possível.

Ouço frequentemente a frase: “Portugal não tem escala” e em parte a afirmação é correta, mas dependerá certamente como definimos o mercado. Se o mercado é o português, ou ainda regional dentro de Portugal, então a afirmação é 100% adequada. Mas pergunto, porque é que o mercado se restringe ao nacional?

Enquanto gestores de empresas, líderes organizacionais e líderes de pensamento, temos que deixar de pensar “pequenino” ou “pequenito”. Conheço indivíduos extraordinários, com ideias de negócio excelentes e com capacidade de trabalho e talento para fazer acontecer. Temos que fazer acreditar que tudo é possível e pensar grande é o caminho certo para o desenvolvimento das empresas e de Portugal. Esta é a minha visão.

Há países que há pouco tempo eram “coitadinhos”, mas que não deixaram que isso impedisse o seu desenvolvimento. De todos, o estudo de caso mais impressionante é o da Coreia do Sul.

No final da guerra da Coreia, 78% da população era iletrada e era um dos países mais pobres do mundo. Em 1970, o PIB per capita era de apenas 200 dólares. O caminho de desenvolvimento futuro não poderia ser baseado em recursos naturais (pois estes eram escassos). Criaram um sistema de ensino de elevada qualidade que é a força motriz por detrás do desenvolvimento tecnológico e o crescimento económico vertiginoso.

Hoje, a Coreia, faz parte do G-20, mais concretamente, é o 12º país mais rico do mundo. É um país exportador com marcas de renome como a LG Electronics, Samsung e Hyundai e conta com uma economia mais forte do que a de Espanha, Holanda ou Suíça. É um país criador de modas e tendências como o surgimento do movimento Korean Cool nas áreas de cosmética, música pop e entretenimento. Sejam ou não fãs do Gangnam Style, este país dá cartas.

Estou convicta que Portugal tem tudo para criar uma LG/Hyundai/Samsung, um Portugal Style e outras tendências que marcarão o panorama internacional. Mas isto faz-se a pensar grande. Vamos abandonar o uso dos sufixos diminutivos na linguagem corrente, mas acima de tudo no mindset português. Porque Portugal é Grande e não “grandinho”!