No final de 2018 foi lançado, em Portugal, o Fundo para a Inovação Social (FIS), o primeiro instrumento financeiro criado no âmbito do Fundo Social Europeu. O FIS tem como propósito facilitar o financiamento de projetos sociais inovadores promovidos quer por ONG, quer por PME. Para tanto, o fundo dispõe de 55 milhões de euros para aplicar em duas modalidades de financiamento: crédito bancário com garantias e coinvestimento com investidores privados em capital e quase capital de PME.

O que o FIS apresenta de mais relevante é, a meu ver, o incentivo dado às empresas para se envolverem em ações de inclusão social. Sabemos que muitas PME não têm capacidade financeira para desenvolver atividades de inovação social, mesmo que sejam sensíveis aos problemas da comunidade e possuam massa crítica, competências e recursos para intervir nesta área. Os problemas de liquidez que algumas empresas revelam refletem-se, inevitavelmente, nos seus deveres de responsabilidade social.

Mas por estarem tão próximas do tecido social e disporem de conhecimento especializado na gestão de recursos, na qualificação profissional, na integração laboral, no desenvolvimento tecnológico, nas relações com o mercado, na proteção do ambiente, entre outras áreas, as empresas podem ser players importantes do terceiro setor.

As PME têm potencial para criar valor social acrescentado, a partir de projetos que se traduzam em soluções mais engenhosas, eficientes e mobilizadoras para as carências socioeconómicas da comunidade. Esta premissa é tanto mais válida se pensarmos em problemas hoje muito presentes na realidade empresarial, como a obsolescência profissional, a infoexclusão, a inadaptação tecnológica, a igualdade de género ou a sustentabilidade ambiental.

As iniciativas de responsabilidade social não devem ser protagonizadas apenas pelas grandes empresas e, muito menos, servirem tão-só para reforçar a notoriedade corporativa. Também as PME devem ser incentivadas a participar em projetos sociais, não apenas por um imperativo de cidadania mas, sobretudo, porque têm know-how, capital humano e infraestruturas com relevância na promoção da qualidade de vida. De resto, a competitividade também passa pela responsabilidade social. Quando uma empresa se preocupa com a comunidade onde está inserida, a própria comunidade reconhece essa preocupação e retribui o investimento.

Importa, pois, criar um contexto favorável à inovação e empreendedorismo social. Há que trazer as empresas para o terceiro setor, promovendo uma saudável rutura com as convencionais metodologias de apoio caritativo ou assistencialista. Deste modo, será possível provocar uma pequena revolução nas práticas de solidariedade social em Portugal e, consequentemente, encontrar respostas mais eficazes para os problemas cada vez mais complexos das sociedades contemporâneas.