Inquérito à CGD: PSD diz que “não pode ser ignorada a responsabilidade política”

Os sociais-democratas defendem também que o banco público funciona como “indutor de comportamentos e práticas no mercado” e a sua “gestão danosa” levanta “riscos adicionais” e cuidados reforçados.

Jose Manuel Ribeiro/Reuters

O Partido Social Democrata (PSD) considera que não pode ser ignorada a responsabilidade política na “gestão danosa” da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Os sociais-democratas defendem que o banco público funciona como “indutor de comportamentos e práticas no mercado”, o que levanta “riscos adicionais” e cuidados reforçados na sua gestão.

“Não pode ser ignorada a responsabilidade política, em particular do Governo em funções no período mais crítico de 2005-2008 [Governo de José Sócrates], durante o qual se verificou não só uma penalizadora omissão de fiscalização acionista, mas também se registaram várias práticas que diretamente contribuíram para os problemas gerados”, lê-se nas propostas de alteração apresentadas pelo PSD, às conclusões do relatório da II comissão de inquérito à CGD.

Em causa está a substituição da administração em funções por outra de “confiança política direta”, a interferência em operações concretas de concessão de financiamentos e atribuição de “bónus milionários” a administradores da CGD.

Os sociais-democratas concordam que foi evidente que a CGD não foi gerida de forma sã e prudente, na concessão de vários dos créditos analisados, mas acrescentam à versão preliminar do relatório redigido por João Almeida que houve indícios em alguns casos de “prática de gestão danosa”. Foi o caso de Carlos Santos Ferreira, do vice-presidente Maldonado Gonelha e os administradores Armando Vara e Francisco Bandeira, que “tiveram intervenção direta nos créditos mais problemáticos”.

“Um grupo que nesta CPI reproduziu um padrão de encobrimento mútuo, através de defesa coletiva, do silêncio, da concertação de narrativas e mesmo da falta de memória. Um encobrimento mútuo de práticas de concessão de financiamentos e de créditos de favor e de créditos especulativos com condições mais favoráveis, num processo que envolveu um triângulo nefasto de figuras do poder empresarial, político e financeiro”, refere o PSD.

O partido destaca ainda o mau exemplo deixado pela má gestão da CGD. “Tratando-se do banco com a maior dimensão no mercado português, o mais sistémico dos bancos sistémicos, a Caixa Geral de Depósitos funciona até como indutor de comportamentos e práticas no mercado, o que acarreta riscos adicionais e exige cuidados reforçados na sua gestão, acompanhamento e supervisão”, dizem.

“Conclui-se que em Portugal existe e subsiste um grupo restrito de pessoas e empresas que beneficia e concede entre si tratamentos privilegiados, constituindo posições de vantagem para si, que se tornam em sacrifícios e desvantagens para os restantes agentes económicos e para os portugueses em geral”, sublinha o grupo parlamentar liderado por Fernando Negrão.

As propostas de alteração ao relatório são votadas esta tarde na especialidade.

Relacionadas

Inquérito à CGD: política de crédito “contribuiu para aumentar o risco sistémico da economia”, diz BE

A política de crédito do banco público, em particular os financiamentos que tiveram acções como garantias, contribuiu para aumentar o risco sistémico da economia. Esta é uma das conclusões do BE que quer ver incluída no relatório final da comissão de inquérito à gestão da CGD.

CGD: Assista em direto à discussão e votação do relatório da comissão

Assista em direto à discussão e votação do relatório da comissão parlamentar de inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do Banco.

CPI à CGD: Sucessivos governos exerceram de forma “deficiente” o seu dever de tutela, diz PCP

Sucessivos governos exerceram de forma deficiente e insuficiente o seu dever de tutela. Em causa está o acompanhamento de decisões de crédito da administração da Caixa.  Esta é uma das nove alterações e aditamentos  ao relatório preliminar da comissão de inquérito à gestão da CGD que foram apresentadas pelo PCP e que vão ser hoje discutidas.
Recomendadas

CPI à Caixa: relatório final já foi entregue em mão à Procuradora Geral da República

O presidente da comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa entregou em mão o relatório final à Procuradora Geral da República. Entrega realizou-se na sexta-feira passada, tendo na ocasião Luis Leite Ramos dado explicações a Lucília Gago sobre os termos em que foi feito o documento, cujas conclusões poderão ter, segundo a própria CPI, relevância criminal.

Críticas ao BdP, gestão do banco e governo de Sócrates. Conheça ao detalhe o relatório da CPI à Caixa Geral de Depósitos

Relatório final reflete as conclusões retiradas pelos deputados sobre a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e a gestão do banco público. Trabalhos começaram em março e as conclusões visam vários alvos: Banco de Portugal, gestão do banco e sucessivos Governos, com destaque para o Executivo liderado por José Sócrates.

“Expressão ‘indícios de gestão danosa’ dividiu PSD dos restantes partidos” da comissão de inquérito à CGD

Shrikesh Laxmidas, diretor-adjunto do Jornal Económico, analisou para a SIC Notícias as propostas de alterações ao relatório final da II Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Recapitalização da CGD e Gestão do banco público.
Comentários