Os primeiros docentes angolanos selecionados para frequentar os mestrados de ensino fizeram o curso no Instituto de Educação da Universidade do Minho e já estão formados. Um novo grupo começa agora, desta feita na cidade de Benguela, no Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED). É a segunda edição do programa de formação de professores do Estado angolano que tem como parceiro o Instituto português.
Futuramente, todos os mestres vão estar envolvidos na formação de futuros educadores e professores em Angola. O Executivo de João Lourenço tem como meta formar 20 mil docentes nos próximos 10 anos.
Beatriz Pereira, presidente do Instituto de Educação da UMinho, enfatiza o foco do governo angolano na educação, um sector basilar em qualquer país. “Ao preocupar-se com o ensino pré-escolar e com as crianças mais pequenas, ao criar as suas autonomias e criar os seus quadros, Angola está no caminho certo para se poder desenvolver efetivamente”, afirma ao Jornal Económico.
O número é astronómico para um espaço de tempo tão curto, mas à medida que o processo for avançando vai aumentar a capacidade do país para o fazer, considera Leandro da Silva Almeida, anterior presidente do Instituto da Educação da UMinho. “Cada vez mais, as próprias instituições angolanas que formam professores e as competências que se vão consolidando aumentam a capacidade para fazer mais e melhor”.
Beatriz Pereira partilha a perspetiva: “Pretendemos empoderar os docentes que estamos a formar nesta fase inicial, de forma a que eles ganhem capacidade de reproduzir e serem eles próprios a formarem os seus docentes. Continuaremos a apoiá-los e a todo o projeto com toda a nossa energia, capacidade e conhecimento”.
Este projeto de formação de professores teve início em 2019. Leandro da Silva Almeida presidia ao Instituto de Educação na altura em foi assinado o acordo que envolveu a criação de três mestrados em Metodologias Específicas para a Educação de Infância, para o Ensino primário e da Língua Portuguesa para o Ensino secundário, a ministrar pelos Institutos Superiores de Ciências de Educação de Benguela, Huíla e Luanda e pelo Instituto da Educação da Universidade do Minho.
Os mestrados resultam da implementação do Programa Nacional de Formação e Gestão de Pessoal Docente de Angola e pretendem reforçar as competências e qualificações dos docentes nas áreas da Metodologia da Educação de Infância (ISCED – Huíla), das Metodologias do Ensino Primário (ISCED-Benguela) e da Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa (ISCED-Luanda), contribuindo para elevar a qualidade do ensino no país.
O programa arrancou no auge da pandemia da Covid-19. A par dos mestrandos, o projeto incluiu a vinda para Portugal de docentes dos ISCED (pares pedagógicos) para lecionarem em parceria com os docentes da UMinho, assegurando a contextualização dos conteúdos e processos à realidade de ensino angolano, nomeadamente em termos dos manuais escolares e das práticas instituídas.
João Chivando, jovem professor do Bié, integrou o grupo dos 65 mestrandos da primeira edição. Manifesta a convição de que o programa tem poder para mudar o rumo do ensino no seu país. “Estamos sendo preparados para responder às necessidades da população angolana. Somos poucos, mas o que estamos a aprender é suficiente para mudar o paradigma qualitativo daquilo que é a educação em Angola”.
Internacionalização
A relação de cooperação entre a instituição do Minho e Angola é antiga e sólida. Remonta ao início dos anos 90 do século XX, segundo conta ao JE, Leandro da Silva Almeida,quando um grupo de jovens angolanos, das áreas da Psicologia e da Educação vieram, com o apoio do governo, fazer o doutoramento em Braga. “Esse primeiro grupo que se doutorou aqui na Universidade foi de alguma forma o alicerce”, salienta. Seguiram-se outras iniciativas, entre as quais os mestrados de desenvolvimento curricular ministrados em Benguela e lecionados com o apoio de docentes de cá.
“Diria que temos três décadas de parceria com Angola, três décadas em que nos temos vindo a reinventar nesta parceria, nesta internacionalização, procurando corresponder a necessidades das instituições e necessidades do próprio governo de Angola”, afirma o professor catedrático ao JE.
Destaca, por outro lado, a importância deste trabalho conjunto numa lógica de parceria colaborativa e de aprendizagem mútua. “Temos trabalhado em conjunto, quer ao nível de estruturas do Governo, quer ao nível de outras instituições, iniciando projetos ou dando continuidade a outros, numa lógica de progressiva autonomização. Numa lógica de podermos partilhar, de co-construir respostas aos problemas que têm ido aparecendo”.
Parceria e co-criação são palavras-chave também para Beatriz Pereira. A presidente do Instituto de Educação partilha com o seu antecessor o objetivo de que estes mestrados possam vir a ser a rampa de lançamento para o desenvolvimento de programas de doutoramento entre as duas partes. “O governo de Angola está interessado em criar esses programas de doutoramento nestas instituições que estamos a apoiar, nomeadamente, desde que tenham alguns recursos e façam parcerias com universidades estrangeiras que possam também aportar um selo de qualidade aos programas”.
Marca não falta ao Instituto de Educação da UMinho. A completar 47 anos no próximo dia 12, é uma das mais prestigiadas instituições na área das Ciências da Educação dentro e fora de Portugal.
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