[weglot_switcher]

Investimento e tecnologia são motores do crescimento

Expansão do sector é notória, particularmente nas exportações, que mais do que triplicaram nas duas últimas décadas. O próximo desafio é o da sustentabilidade, com o esperado apoio de fundos europeus.
10 Novembro 2021, 11h29

A agricultura portuguesa tem vivido um percurso de desenvolvimento significativos nas últimas duas décadas, tornando-se mais competitiva, aumentando o seu peso no conjunto da economia e a capacidade conquistar mercado no exterior. Isto é o que dizem os agentes do sector e é comprovado pelos dados, independentemente do universo de análise. O complexo agroalimentar, que inclui a agricultura e as indústrias agroalimentares, é responsável por 3,9% do total do valor acrescentado bruto (VAB) do total a economia, cerca de 6,9 mil milhões de euros a preços correntes, o que representa um crescimento de 32,5%, nos últimos 20 anos. O sector representa, também, 10,3% do emprego, com mais de meio milhão de pessoas empregadas, segundo os dados do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP). Em particular, as indústrias agroalimentares geram 2,4% do VAB, cerca de 4,2 mil milhões de euros, e representam 2,3% do emprego total, o que representa, aproximadamente, 115 mil pessoas.

“O crescimento do VAB gerado pelo complexo agroalimentar no período 2010-2019 cresceu 1,4% ao ano, em volume. Este crescimento deve-se, essencialmente, ao crescimento das indústrias agroalimentares decorrente, em grande parte, a um continuado e persistente investimento”, afirma o diretor-geral do GPP, Eduardo Diniz, ao Jornal Económico (JE).
Esta evolução afirma-se mesmo com a quebra verificada no ano passado, que foi marcado pela pandemia de Covid-19, porque nas exportações a tendência de crescimento manteve-se. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o complexo agroalimentar fechou o ano a crescer 2,5% nas exportações, com a agricultura a merecer destaque, com um crescimento de 5,5% no acumulado de janeiro a dezembro, quando comparado com período homólogo de 2019.

Nas últimas duas décadas, as exportações do complexo agroalimentar aumentaram três vezes e meia, para 6,92 mil milhões de euros. A agricultura cresceu a um ritmo superior (mais do que sextuplicou), mas, em valor, a indústria agroalimentar foi o maior contribuinte, passando de vendas ao exterior da ordem dos 1,7 mil milhões, em 2000, para 5,5 mil milhões, em 2020.

No mesmo período, o peso deste sector no conjunto das exportações também aumentou, quase 3,8 pontos percentuais, para 9,2%.
Como reflexo desta evolução, o saldo da balança comercial agroalimentar, tradicionalmente negativo, tem melhorado, mantendo um desequilíbrio que, em 2020, rondou os 3,1 mil milhões de euros. A taxa de cobertura das importações pelas exportações também melhorou, de 36,2%, em 2000, para 64%, em 2019.

No ano passado, a taxa de cobertura foi superior a 100% no vinho (516,5%), cerveja (292,8%), azeite (187,8%), pera (620,3%) e frutos de pequena baga (621,9%).

Na pecuária, o retrato é diferente, com a taxa nas carnes de bovino a ser de 9,3% e a nos suínos de 45%. No trigo foi de 1,1% e no milho 8,2% No pescado também temos défice, com uma taxa de cobertura de 38,1%.
“O sector agroalimentar tem-se revelado da maior importância no desenvolvimento económico nacional. Aliás, para a obtenção de resultados, tem sido fundamental a capacidade que os operadores da cadeia de valor têm revelado em inovar, competir e penetrar nos mercados externos, de que é exemplo o crescimento médio anual das exportações agroalimentares em quase 5% desde o ano 2010”, diz Eduardo Diniz.

 

Investir para crescer
Esta evolução positiva é justificada com o investimento feito na modernização do sector. “O uso da tecnologia e do conhecimento são centrais para as respostas do sector agroalimentar aos desafios económico (ganhos de eficiência), logístico (integração nas cadeias de valor), segurança alimentar (rastreabilidade e qualidade), sustentabilidade ambiental e climática (satisfação da procura dos cidadãos por melhor desempenho ambiental das práticas agrícolas e da produção alimentar)”, afirma Eduardo Diniz. Neste contexto, começa a vulgarizar-se a utilização de tecnologias digitais na operacionalização de técnicas de agricultura de precisão (otimização do uso dos fatores de produção, em particular no uso eficiente da água), na agro-logística e ainda na certificação ou avaliação de práticas mais exigentes e de certificação agroambiental e do bem-estar-animal”, acrescenta.

Quando olhamos para a frente, os desafios do sector para ser competitivo passam, segundo explica ao JE Francisco Silva, secretário-geral da Confagri – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal, pela redução dos custos de contexto, com a energia à cabeça, pelo apoio ao investimento, mas também pela promoção da inovação. Francisco Silva diz que as necessidades requerem “um forte investimento, mas trarão mais inovação, mais organização e sobretudo um aumento da sustentabilidade do sector, com benefícios para o ambiente, para os consumidores e para a sociedade em geral”.

 

Inovação e sustentabilidade
A inovação e a resposta do sector agroalimentar ao desafio da sustentabilidade estão entrelaçados. O diretor-geral do GPP diz que a modernização das unidades produtivas tem sido muito importante e que programas como o PDR2020 e o COMPETE 2020 são “instrumentos de apoio público importantes ao investimento e desenvolvimento agroalimentar”. Agora, os olhos estão postos no próximo quadro da Política Agrícola Comum (PAC), que a ministra da Agricultura diz estar “focada numa transição climática e digital, através da promoção de uma agricultura mais verde e resiliente” (ver entrevista neste especial).
“O debate sobre a sustentabilidade dos sistemas alimentares a nível global tem como ponto de partida um duplo desafio, que pode parecer contraditório. Por um lado, a nível demográfico, a cadeia de valor agroalimentar (agricultura, indústria, transportes e retalho) tem de aumentar a produção para satisfazer as necessidades alimentares de uma população de mais de 10 mil milhões. Por outro lado, ao nível do ambiente, clima e saúde, esses alimentos têm de ser baseados em dietas saudáveis e utilizar menos recursos naturais e com menor impacto no clima”, refere Eduardo Diniz.

Defende que “a promoção do investimento no desenvolvimento, na modernização e em tecnologias mais eficientes, constitui um dos principais fatores de competitividade do sector, devendo o mesmo ser promovido de uma forma sustentável, quer através da proteção dos recursos, quer através de uma utilização mais eficiente dos mesmos”. E explica que, ao nível das políticas públicas, a PAC tem um papel “incontornável no sistema de abastecimento alimentar mais seguro em termos internacionais que é o praticado na União Europeia” e que a proposta para o futuro “introduz um conjunto importante de alterações no modelo de gestão partilhada, traduzindo-se numa maior responsabilização dos Estados-membros”.
“Prevê-se o objetivo de aumentar a ambição ambiental e climática da PAC através de uma nova arquitetura verde”, num movimento alinhado com os objetivos europeus em matéria de ambiente e clima, conclui.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.