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Irão: protestos contra o regime não dão mostras de acalmia

Os protestos começaram depois da morte, às mãos da polícia, de Mahsa Amini, que havia cometido o crime de uso de vestuário impróprio. Com o líder máximo doente, o regime enfrenta o seu pior momento.
23 Setembro 2022, 23h06

As forças de segurança iranianas terão detido um dos mais proeminentes ativistas da sociedade civil do país e um jornalista que desempenhou um papel fundamental na exposição do caso de Mahsa Amini, cuja morte provocou uma semana de protestos em todo o país.

Mahsa Amini foi declarada morta em 16 de setembro, três dias depois de ser presa pela polícia moral de Teerão, acusada de uso de indumentária imprópria. A sua família e os manifestantes dizem que a jovem morreu dos ferimentos sofridos depois de ser espancada pela polícia. As autoridades iranianas dizem que uma investigação inicial mostrou que ela morreu de insuficiência cardíaca ou derrame – o que não é necessariamente contraditório.

Os protestos estão ativos há mais de uma semana e pelo menos 36 civis terão sido mortos na repressão policial que se tem verificado.

Entretanto, o presidente do Irão, Ebrahim Raisi, disse numa conferência de imprensa à margem da Assembleia Geral da ONU que a morte de Masha Amini “deve ser investigada com firmeza”, enquanto critica o que alegou ser a “duplicidade de critérios” ocidental em questões de direitos humanos.

“A nossa maior preocupação é a salvaguarda dos direitos de cada cidadão”, disse Raisi. “Se a morte foi por negligência, com certeza será investigada, e prometo acompanhar a questão independentemente dos fóruns internacionais se posicionarem ou não”. Raisi, de linha dura, disse que o Irão não toleraria “atos caóticos”, referindo-se às seis noites de protestos.

O poder judiciário iraniano ordenou que os tribunais usem dureza com os manifestantes, alegando que estes são ‘marionetas’ de agentes estrangeiros e instigados por redes sociais anti-iranianas – uma acusação familiar levantada pelo regime quando a dissidência irrompe.

Por outro lado, o líder máximo do regime, o aiatola Khamenei, não está de boa saúde. Aos 83 anos, passou por uma cirurgia bastante invasiva e, apesar de já ter feito uma aparição pública a partir do hospital, a sua saúde – sobre a qual impera o silêncio oficial – pode não ser a melhor.

Ex-presidente do Irão e protegido do aiatola Khomeini, fundador do regime da república islâmica em 1979, o aiatola Khamenei assumiu o cargo de principal autoridade religiosa, política e militar do país em 1989. O seu possível desaparecimento não pode deixar de ser um momento de tensão interna do regime. E, se se der o caso de as manifestações coincidirem com o seu desaparecimento, o regime pode mesmo mudar, segundo afirmam alguns analistas.

Entretanto, o IRNA, órgão de comunicação ligado ao regime, diz esta sexta-feira que se verificaram várias contra-manifestações que pretendiam defender a ordem islamita que impediu Masha Amini de se apresentar vestida como estava, gritando palavras de ordem contra os manifestantes que protestaram pela sua morte.

“A manifestação foi realizada do local das orações de sexta-feira na Universidade de Teerão até a Praça Enghelab, no centro da cidade. Os manifestantes gritaram palavras de ordem contra aqueles que infringiram as leis islâmicas, e mostraram o seu ressentimento contra os recentes distúrbios e profanação. Um triste incidente da morte de uma mulher iraniana provocou protestos, que foram marcados por alguns distúrbios e profanações. Noutras cidades e províncias, o povo iraniano também reagiu ao sacrilégio para mostrar o seu apoio à Revolução Islâmica e à sua liderança”, escreve o jornal na sua versão online.

No Ocidente, multiplicam-se os apoios aos protestos. O chanceler alemão Olaf Schultz escreveu um twit em que dizia: “É terrível que Mahsa Amini tenha morrido sob custódia da polícia de Teerão. A morte de mulheres corajosas nas manifestações do Irão incomoda-me”.

Hillary Clinton, a secretária de Estado do governo Obama, escreveu: “Os iranianos estão a protestar pelos seus direitos humanos básicos. Eles merecem uma vida livre de violência e intimidação. Os olhos do mundo estão em vocês”.

A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, expressou a solidariedade do Congresso com o povo iraniano em luto pela “morte horrível” de Mahsa Amini. “As vozes corajosas do povo iraniano são ouvidas em todo o mundo”, escreveu.

O primeiro-ministro de Israel, Yair Lapid disse na Assembleia-Geral da ONU que “o regime iraniano odeia judeus, mulheres e o Ocidente e mata-os, como fez com Mehsa Amini”. “A juventude iraniana está a sofrer com os grilhões do regime da república islâmica e o mundo está em silêncio”.

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, twittou: “Apoiamos fortemente o povo do Irão, que está a protestar pacificamente e a expressar a sua vontade. Pedimos ao regime iraniano que acabe com a supressão da liberdade de expressão e pare o assédio e a discriminação contra as mulheres”.

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