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Iraque regressa ao caos, de onde nunca chegou a sair

O Iraque não conseguiu formar um governo desde que realizou eleições parlamentares em outubro do ano passado. Quase um ano depois, diversos grupos xiitas desentenderam-se e a ingovernabilidade é a consequência.
28 Julho 2022, 16h20

Mais de nove meses após as eleições parlamentares de outubro de 2021 no Iraque, os líderes políticos não conseguiram formar um governo. A crise política atingiu um ponto de ebulição quando manifestantes, a maioria apoiantes do líder xiita Muqtada al-Sadr (um dos mais poderosas do país), invadiram o parlamento iraquiano para protestar contra a corrupção e um dos candidatos a primeiro-ministro.

Al-Sadr ordenou que o seu bloco parlamentar renunciasse em massa em junho passado, depois de o parlamento não conseguiu formar governo – e isso veio aumentar ainda mais o impasse político em que o país se encontra.

Os manifestantes opõem-se à indicação de um candidato a primeiro-ministro de uma aliança rival apoiada pelo Irão: Mohammed Shia al-Sudani, ex-ministro e ex-governador provincial, é a escolha do Quadro de Coordenação pró-Irão. Al-Sadr rejeitou sua candidatura – e os analistas temem que o caos não desapareça, tanto mais que tudo acontece no seio do xiismo, a fação muçulmana que lidera o Irão.

“Al-Sudani representa apenas uma desculpa muito conveniente para Muqtada al-Sadr expressar o seu descontentamento com a Estrutura de Coordenação e o sistema político no Iraque”, disse Marsin Alshamary, investigador da Harvard Kennedy School, à Al Jazeera. Admitindo que a recusa no apoio dar-se-ia em relação a qualquer candidato, o investigador salienta que “Al-Sudani representa uma das figuras menos controversas do Quadro de Coordenação”.

O bloco de Al-Sadr tinha 74 lugares no parlamento, a maior fação em 329 cadeiras. A aliança Fatah – o bloco político da milícia pró-Irão Forças de Mobilização Popular – sofreu uma perda devastadora nas eleições.

Já depois do início das manifestações, al-Sadr repetiu o seu compromisso de formar um “governo de maioria nacional” representando diferentes fações e etnias, desde os sunitas aos curdos. Mas a intenção de al-Sadr é manter a influência do ex-primeiro-ministro Nouri al-Maliki fora da zona de poder. De qualquer modo, o Fatah alerta para a possibilidade de intensificação da violência se os grupos sunitas e curdos se juntarem a al-Sadr.

Durante meses, al-Sadr, que diz ser um crítico tanto da influência iraniana como da norte-americana no Iraque, exerceu forte oposição aos grupos apoiados pelo Irão. Um dos problemas desta divisão é que o poder no Iraque, um pouco como no Líbano, funciona por quotas (muhasasa) atribuídas a xiitas, sunitas e curdos.

Assim, apesar da vitória eleitoral de al-Sadr, a lei iraquiana exige uma super-maioria de dois terços para eleger um presidente, o que não foi possível obter – e o governo só pode ser formado quando um presidente é eleito.

Ao ordenar a renúncia do seu bloco, al-Sadr abriu caminho para que o Quadro de Coordenação formasse um governo. Agora, os analistas alertam para que uma cisão entre os grupos xiitas do Iraque, sem precedentes, pode lançar o país na ingovernabilidade.

 

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