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Irlanda denuncia “tática de negociação” do Reino Unido

O plano do Reino Unido de avançar na próxima segunda-feira com legislação contra o acordo anterior com o Brexit é uma “tática de negociação” que não deve distrair os negociadores da União Europeia.
  • DR Daniel Leal-Olivas/ REUTERS
6 Dezembro 2020, 15h29

A câmara alta do parlamento do Reino Unido votou no mês passado a remoção das cláusulas polémicas do Projeto sobre a Lei do Mercado Interno, mas o governo pretende reintegrá-las na câmara baixa na próxima segunda-feira, assim que as negociações comerciais com a União Europeia chegarem a um momento crítico.

“O problema relacionado a essa legislação pode desaparecer se conseguirmos que as negociações se centrem na substância”, disse o ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney, em entrevista.

O governo britânico admitiu abertamente que as cláusulas são uma violação do direito internacional. A União Europeia expressou repetidamente a sua indignação face à legislação, e a questão contribuiu para a aspereza nas negociações comerciais.

A Lei do Mercado Interno provocou fúria na União quando foi introduzida pela primeira vez porque retirou os termos do acordo de Brexit  assinado por ambas as partes em janeiro. Londres diz que as cláusulas rejeitadas são uma “rede de segurança” para evitar que a União avance acordos aduaneiros complexos com a Irlanda, membro da União, e a Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido, de uma forma que limitaria o comércio interno do Reino Unido.

O retorno do projeto à Câmara dos Comuns é extremamente sensível, já que o primeiro-ministro Boris Johnson deve falar com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para chegar a um acordo ou concordar em não assiná-lo.

É quase certo que a Câmara dos Comuns votará a favor do restabelecimento das cláusulas, já que Johnson tem uma grande maioria. Mas o projeto regressará à Câmara dos Lordes, na quarta-feira que vem.

Simon Coveney considera que esta espécie de ‘jogo’ do primeiro-ministro britânico é apenas uma forma de pressionar a União e dar a entender que há uma linha vermelha que o Reino Unido pretende não pisar. Mas a convicção da Irlanda – ou pelo menos de uma parte do governo da Irlanda – é que o Reino Unido acabará por ‘acalmar’ e deixar que as negociações prossigam até um entendimento, sob pena de as duas partes criarem um problema que, no futuro, será ainda mais difícil de solucionar.

Além disso, todos os envolvidos sabem que a fronteira entre as duas Irlandas é uma das zonas mais sensíveis da geografia europeia, e com certeza que nenhum primeiro-ministro britânico quer passar para a história como o dirigente que conseguiu dar cabo da paz, que demorou tantos anos a ser conseguida.

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