“Não existe um caminho para a paz. A Paz é o caminho” – M. Gandhi

A ação opressora e obsessiva de poder por parte de Israel (república parlamentar sem Constituição escrita que deve fazer jus à sua democracia), no seu forçoso alargamento territorial, é condenável; já para não referir as suas guerras secretas. Ocultas, mas existentes: “o futuro para Israel e para o seu aparelho de espionagem pode estar cheio de facas de dois gumes” (D. Raviv e Y. Melman, em «Mossad»).

Porém, a vítima Palestina – donde provêm os semitas (= judeus, hebreus ou israelitas) –, ao ter uma fação que o representa, o Hamas (movimento radical/resistente islamita e provocador de incontáveis alvos anti-israelitas), não lhe favorece. Apesar do direito do povo palestiniano à autodeterminação.

Por ambos não se reconhecerem diplomática e estatalmente pecam – várias vezes – pelo uso abusivo, impiedoso e punitivo de violência destruidora. Ainda não perceberam, depois de tantos descalabros e ondas genocidas ao longo dos tempos, que a via continua a ser exclusivamente a da Paz (que se faz com paz). Jamais com guerra, que só trará mais guerras (para os sedentos de vinganças). E por que é possível? Basta eles quererem, já que “a paz é um bem que supera qualquer barreira, porque é um bem de toda a Humanidade” (Papa Francisco).

Estes sucessivos cessares-fogo, e inútil culpabilização pública de quem retomou ou não o conflito, são como um rebuçado agridoce: é bom enquanto dura, mas, infelizmente, sabemo-los meras tentativas fátuas… Olhe-se a História.

Não se trata de tomar partido por um em detrimento doutro, mas de ser contra estas reincidências anti-humanitárias, do “chamado «novo apartheid»: colonatos ilegais, ocupação militar, violações diárias de Direitos Humanos” (Catarina Furtado). Ao discordar eu, claramente, desta fratricida política israelita sobre a Palestina e os seus cidadãos, não é sinónimo de como vejo os judeus. Um povo que admiro! Pequeno na sua extensão (0,01% da população mundial), todavia Grande na sua Cultura e Educação! Assim como admiro os bons islâmicos e os árabes de bem. Todos, juntos. Na beleza da unidade, da união.

Contudo, o problema dos limites geográficos agravou-se desde 1946 – em que o território palestiniano era quase completo –, perdendo terreno com a criação de Israel (combate entre as tendências laica e religiosa) –, em 1947, e originando a Guerra civil em 1948 (vista como independência para os israelitas e como «a Catástrofe» para os palestinianos). A meu ver, o problema maior foi o vínculo da perene rivalidade e a não concretização da solução então apresentada (1947): a «Resolução 181 da ONU», que previa a criação dos dois Estados: Israel e Palestina (com Cisjordânia e Gaza).

O quanto se teria evitado, que não somente a «Guerra dos Seis Dias» (1967), após a qual pôde Israel ocupar as terras por si anexadas: as antigas regiões da Judeia e da Samaria. E não se agudizaria a situação desde 1993, quando o Hamas (de origem egípcia) se introduziu na Faixa de Gaza para os seus primeiros ataques armados contra os rivais palestinos, incluindo os militares israelitas. Antes, a base deste eterno conflito era apenas política; desde o final do séc. XX, passou a ser étnico-religiosa e antissemita (embora os dirigentes do Hamas digam o contrário).

O que é “muito mais difícil de resolver”, como me referiu uma vez, em entrevista, Henrique Cymerman. E esta mantém-se, inospitamente, como uma das maiores pandemias desde a Modernidade: as graves infrações à liberdade religiosa. No atual «Relatório 2021», sabe-se que este direito fundamental não é respeitado em 62 dos 196 países mundiais, sendo que há pessoas perseguidas pelas suas crenças em 26 deles! Abominável e lamentável…

Pace e P. Stefani explicam que, segundo o princípio da piqquach nefesh (= salvaguarda da vida), “a cedência de territórios aos palestinianos, historicamente hostis, na realidade significaria colocar em perigo a vida dos próprios hebreus presentes nessas áreas, facto absolutamente proibido pela lei religiosa”.

Esclarecem, ainda, que os grupos ultraortodoxos (= charedim) “convencem-se da necessidade de transformar a ocupação dos territórios palestinianos numa definitiva anexação e assimilação como lugares de hebreus” (cf. «Fundamentalismo religioso contemporâneo»). O mesmo corrobora Peter Stilwell (cf. «Religião e Violência»), pois lutar pela posse dos territórios é “uma exigência cuja recusa põe em risco a própria sobrevivência do Judaísmo”.

O sonho sionista, não consensual na questão hebraica (como para os judeus ultraortodoxos) e onde internamente reside o fundamentalismo intransigente que “se coloca a si próprio em xeque-mate”, tem esse “desejo de resgate” (Pace e Stefani). Superar esta violência até ao fim – inerente à própria génese e genética da «Terra Prometida» –, “desoculta a matriz estrutural da cultura humana e da religião como produtora de cultura” (Alfredo Teixeira).

Superar esta violência, sempre, é construir a paz: “não pode ser mantida à força. Somente pode ser atingida pelo entendimento” (A. Einstein).