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Jair Bolsonaro: Fugas, polémicas e discursos para os investidores

O presidente brasileiro esteve na cimeira de Davos e foi igual a si próprio. Com várias polémicas à mistura falou na urgência de reformas para o Brasil não se “arriscar” a ser uma Venezuela.
10 Fevereiro 2019, 20h00

Sem Donald Trump, Emmanuel Macron,  Theresa May ou Xi Jinping, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro foi um dos principais protagonistas no Fórum Económico Mundial de Davos. Polémico, como  sempre, cancelou uma conferência de imprensa apenas 40 minutos antes desta começar.

O assessor do chefe de Estado brasileiro, Tiago Pereira Gonçalves, afirmou aos jornalistas que Bolsonaro não iria dar prestar declarações devido à “abordagem antiprofissional da imprensa”. Antes, o seu departamento de comunicação tentou organizar um encontro com os média antes da reunião bilateral com o presidente italiano Giuseppe Conte, mas sem sucesso. Bolsonaro alegou falta de tempo.

O presidente brasileiro alterou também as rotinas que estavam combinadas com outros membros do governo. Após almoçar com alguns investidores e traçar planos para o futuro do Brasil, encontrou-se com o ex-primeiro ministro britânico Tony Blair e com o presidente suíço, Ueli Maurer.

No entanto, depois destes encontros dirigiu-se para o hotel, em vez de ir para o centro de conferências onde deveria ter reunido com Sérgio Moro, ministro da Justiça, e Paulo Guedes, ministro da Economia. A participação na cimeira foi ainda marcada pelas alegações de irregularidades financeiras, que envolvem o seu filho mais velho, Flavio Bolsonaro. Desencontros à parte, acabou por dar uma entrevista à Bloomberg.

À agência norte-americana garantiu que os planos para vender uma série de empresas públicas estão “quase prontos”, assim como a proposta de reforma da Segurança Social a ser enviada ao Congresso, que contempla cortes “substanciais” nas pensões e uma idade mínima para a reforma. Segundo o chefe de Estado, a aprovação da proposta é praticamente “certa”, até porque a situação financeira do Brasil não oferece alternativa.

“Há uma consciência no Brasil de que as reformas são vitais para as entidades federais continuarem a funcionar”, afirmou Bolsonaro. “O Brasil tem de dar certo. Se não, a esquerda vai voltar e não saberemos o destino do Brasil, talvez se torne mais parecido com o regime que temos na Venezuela”, disse o líder, ainda antes de comunicar o apoio a Juan Guaidó, o presidente interino daquele país sul-americano. Com os investidores aliciados com a perspetiva de um Brasil “amigo” do mercado, Bolsonaro foi um dos oradores na abertura do Fórum Económico Mundial. Numa sala lotada prometeu cortar impostos e reduzir a burocracia para tornar o país num dos 50 melhores no que toca à facilidade em fazer negócios.

O anti-establishment

Bolsonaro diz que não é nem de direita, nem de esquerda, mas as ideias que revela colocam-no muito perto da direita radical. O anti-establishment, como gosta de se intitular, já foi várias vezes considerado pelos opositores como uma mistura do presidente norte-americano, Donald Trump, com o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte. Em comum têm as políticas e os discursos, que estão longe de serem politicamente corretos.

Caracterizam-no também a retórica homofóbica e misógina. Recentemente, Bolsonaro considerou perante os membros do Partido Social Liberal (PSL) – pelo qual foi candidato às presidenciais –, que “um pai e uma mãe preferem chegar a casa e encontrar o filho todo magoado por ter jogado futebol, do que encontrar o filho a brincar com bonecas por influência da escola”. Mas há quem considere que o discurso de Bolsonaro está hoje mais suavizado. Em discursos anteriores, afirmou que preferia “um filho morto que um filho gay” e admitiu ser “preconceituoso, com orgulho”.

A “falta de tento na língua”, como acusam os seus opositores, valeu-lhe duas ações penais no Supremo Tribunal de Justiça (STJ), devido a um episódio em que afirmou em plenário que a deputada Maria do Rosário Nunes, do PT, era “feia demais para ser estuprada [violada]”.

O presidente brasileiro defende uma agenda económica liberal, a privatização de empresas do Estado e a redução de impostos. Mas a economia não é o seu forte, algo que o próprio reconhece: “É uma virtude reconhecer o que não sabemos; é melhor reconhecer do que tomar decisões erradas”.

Artigo publicado na edição 1973, de 25 de janeiro, do Jornal Económico

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