João Gomes Cravinho diz que sobrestimou currículo de ex-diretor geral e admite que errou

O governante, que tutelou a Defesa entre 2018 e 2022, falava na comissão parlamentar de Defesa, onde foi ouvido a requerimento do PSD, audição em que também participou o secretário de Estado da Defesa Nacional, Marco Capitão Ferreira.

Cristina Bernardo

O ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou hoje que “sobrestimou” o currículo do ex-diretor-geral de Recursos da Defesa, atual arguido numa investigação judicial, e que foi “um erro” nomear Alberto Coelho para uma empresa pública.

“Eu sobrestimei os 19 anos de diretor-geral, sobrestimei aquilo que tinha sido todo o currículo do doutor Alberto Coelho, (…) sobrestimei essa análise, essa parte da análise, e sobrestimei a outra parte que vem presente no relatório da auditoria [da Inspeção-Geral da Defesa Nacional]. Portanto, há aí um erro, que eu reconheço a posteriori”, afirmou João Gomes Cravinho.

O governante, que tutelou a Defesa entre 2018 e 2022, falava na comissão parlamentar de Defesa, onde foi ouvido a requerimento do PSD, audição em que também participou o secretário de Estado da Defesa Nacional, Marco Capitão Ferreira.

Gomes Cravinho frisou que, na altura em que decidiu nomear Alberto Coelho para a empresa pública ETI – Empordef Tecnologias de Informação, o ex-diretor tinha “40 e tal anos de serviço, 19 anos como diretor-geral e um serviço prestado ao ministério”, a que acresce o facto de a Inspeção-Geral de Defesa Nacional (IGDN), numa auditoria à derrapagem das obras no antigo Hospital Militar de Belém, ter considerado que não estava “em causa a boa-fé” de Alberto Coelho nessas obras.

“A minha presunção naquele momento, e penso que do lado da IGDN terão pensado a mesma coisa (…) é que, na ânsia de mostrar resultados, de mostrar a obra, o diretor-geral tinha atropelado todos os procedimentos devidos e tinha produzido a obra, mas com muitas inconformidades legais, como diz o relatório da IGDN. Naquele momento não tinha razões para duvidar da boa-fé, e o relatório da IGDN também coloca nesses termos as suas conclusões”, salientou.

O atual ministro dos Negócios Estrangeiros disse que “lamenta muito” ter feito essa nomeação e reiterou que, se tivesse na altura a informação que tem hoje, “nunca a teria feito”.

“A avaliação que fiz na altura foi que o capital de conhecimento, o percurso do doutor Alberto Coelho, teriam utilidade. Não tinha elementos que permitissem pensar em má-fé e, portanto, a nomeação para a ETI seguiu o seu percurso. Agora, se foi um erro? Claro que foi um erro”, reconheceu.

Questionado pelo deputado do Chega André Ventura sobre se a ideia de nomear Alberto Coelho para a Empordef partiu de Marco Capitão Ferreira, na altura presidente da idD – Portugal Defence, Gomes Cravinho respondeu que ambos tinham “um diálogo regular, corrente” e que o nome de Alberto Coelho surgiu nessa discussão.

“Agora, quem se lembrou em primeiro momento, em que momento da conversa, em qual conversa das muitas que a gente vai tendo? Não lhe sei dizer, até porque não tem importância nenhuma. Eu assumo a minha responsabilidade, e o senhor Marco Capitão Ferreira também seguramente que a assume”, frisou.

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