A 10 de dezembro, Reiquiavique, capital da Islândia, será o palco escolhido para a Academia Europeia de Cinema anunciar os vencedores dos Prémios do Cinema Europeu (EFA, na sigla inglesa). O filme “Ice Merchants”, de João Gonzalez, é um dos cinco nomeados em 2022, na categoria de Melhor Curta-Metragem. Na corrida estão também “Love, Dad”, de Diana Cam Van Nguyen, “Granny’s Sexual Life” de Urška Djukic e Émilie Pigeard, “Will My Parents Come to See Me” de Mo Harawe, e “Techno, Mama”, de Saulius Baradinskas.
Depois de, em 2020, o filme “O Tio Tomás, A Contabilidade dos Dias”, de Regina Pessoa, ter merecido a nomeação para os Prémios do Cinema Europeu, “Ice Merchants” (Portugal, França, Reino Unido) – produzido pela Cola Animation, com coprodução da Wild Stream – junta-se aos candidatos de 2022.
Para além da nomeação para os EFA, o filme de João Gonzalez soma nove prémios em festivais qualificantes para os Óscares da Academia norte-americana, 34 prémios e menções especiais e mais de 90 seleções oficiais festivais de todo o mundo, um cenário já histórico no cinema português. O mais recente galardão, o Animest Trophy, na Roménia, representa a quinta qualificação para uma nomeação aos Prémios da Academia (Óscar).
“Ice Merchants” é um drama familiar “ambientado numa realidade impossível, trazido à vida com a colaboração da equipa de artistas mais talentosa e trabalhadora que eu poderia ter desejado”, realça o realizador, esclarecendo que aquilo que sempre o fascinou, e continua a fascinar no cinema de animação, “é a liberdade que nos oferece para criar algo a partir do zero.” Como esta curta-metragem que conta a história de um homem e do seu filho, que saltam de paraquedas todos os dias, da sua casa fria e vertiginosa presa no alto de um precipício, para se deslocarem à aldeia que se situa na planície abaixo, onde vendem o gelo que produzem durante a noite.
A categoria de Curtas-metragens Europeias é organizada pela Academia de Cinema Europeu, em parceria com festivais de cinema de toda a Europa, cabendo a cada festival participante a missão de apresentar a candidatura de uma curta-metragem, selecionada por um júri independente. Esses mesmos festivais escolhem, a partir da lista final, composta por 29 candidatos, um total de cinco filmes a nomear para o Prémio do Cinema Europeu. A última etapa consiste na votação dos grandes vencedores por parte dos 4.400 membros da EFA.
De realçar que a categoria de Melhor Documentário Europeu parece dominada pelo contexto político atual, caso de “A House Made of Splinters” de Simon Lereng Wilmont, sobre a vida num orfanato no Leste da Ucrânia durante a invasão da Rússia, “Mariupolis 2” de Hanna Bilobrova e do realizador Mantas Kvedaravičius, que morreu em Mariupol em abril, e de “The March on Rome” de Mark Cousins, sobre o fascismo italiano, no centenário da marcha de Mussolini sobre a capital daquele país.
Também nomeados para melhor documentário europeu estão “The Balcony Movie”, de Paweł Łoziński, feito a partir da varanda do realizador, e “Girl Gang”, de Susanne Regina Meures, sobre uma influencer alemã.
Os Prémios do Cinema Europeu são uma iniciativa da Academia de Cinema Europeu, cuja 35.ª cerimónia está marcada para 10 de dezembro em Reiquiavique, Islândia. A organização irá ainda atribuir um prémio de honra, de inovação em storytelling, ao realizador italiano Marco Bellocchio pela minissérie “Esterno note”.
João Gonzalez, da formação musical à animação autoral
João Gonzalez é um realizador, animador, ilustrador e músico português com formação clássica em piano. Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, fez mestrado no Royal College of Art, no Reino Unido, após concluir a licenciatura na ESMAD (Portugal). Foi nessas instituições realizou dois filmes multipremiados, “Nestor” e “The Voyage”. Em 2022, tornou-se no primeiro realizador de animação português a ser premiado no Festival de Cannes, ao vencer o Prémio do Júri para a Melhor Curta-Metragem em competição na Semana da Crítica com “Ice Merchants”. A sua formação musical alia-se amiúde à sua prática em animação autoral, seja no papel de compositor, seja na qualidade de instrumentista nos filmes que dirige.