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Jogador da seleção inglesa acusa ministra de “atear o fogo” depois de abusos raciais

Tyrone Mings apontou que Patel “ateou o fogo” quando se recusou a criticar os adeptos que ridicularizaram a equipa por se ajoelhar em protesto contra a injustiça racial sentida.
  • Tyrone Mings
13 Julho 2021, 12h12

O jogador Tyrone Mings da seleção inglesa de futebol criticou a ministra Priti Patel, indicando que esta incitou e ‘ateou o fogo’ dos abusos raciais observados nas redes sociais após Inglaterra perder a final do Euro2020 para a Itália. A ministra do Interior apontou que os jogadores da seleção estavam a fazer uma “política de gestos” quando se ajoelharam.

Os jogadores Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka enfrentaram uma onda de abusos raciais nas redes sociais após a derrota de Inglaterra, onde cada um dos jogadores ingleses falhou um penalti. Vários políticos, a Associação Inglesa de Futebol e o príncipe William (que assistiu à final) já condenaram publicamente os ataques de racismo aos jogadores.

Tyrone Mings apontou que Patel “ateou o fogo” quando se recusou a criticar os adeptos que ridicularizaram a equipa por se ajoelhar em protesto contra a injustiça racial sentida. “Não pode atear o fogo no início de um torneio ao rotular a nossa mensagem anti-racismo como ‘política de gestos’ e depois fingir estar indignada quando acontecer exatamente aquilo contra o qual estamos fazendo campanha”, apontou Mings no Twitter, partilhando a mensagem da ministra.

Relativamente aos apupos que os jogadores sofreram por parte dos adeptos, Priti Patel referiu que “essa é uma escolha para eles [fãs]”.

Priti Patel afirmou na rede social Twitter estar “indignada por os jogadores de Inglaterra, que deram tanto pelo nosso país este verão, terem sido alvo de abusos racistas nas redes sociais”. “[O racismo] não tem lugar no nosso país e apoio a polícia a identificar os responsáveis”, escreveu a ministra do Interior.

A condenação pública do jogador do Aston Villa à ministra foi apoiada pelo ex-ministro Johnny Mercer do partido conservador. “A dolorosa verdade é que este homem está completamente certo. [Estou] muito desconfortável com a posição que nós, conservadores, estamos a forçar desnecessariamente”, lê-se o comentário no Twitter. “Luto ou fico em silêncio? O conservadorismo moderno sempre foi muito mais para mim. Não devemos perder o nosso caminho”, continuou.

Por sua vez, Steve Barclay, secretário das Finanças, defendeu a sua colega do governo, afirmando que Priti Patel recebeu “o mais deplorável racismo” e que a mesma está a “tomar medidas contra grupos extremistas”. “O abuso racista que vimos contra os nossos jogadores de futebol é completamente inaceitável. Acho que o que nos une é a condenação, e a ministra do Interior está a tomar ações”, adiantou Barclay.

O ex-jogador Marvin Sordell comentou com a “BBC Radio 4” que o racismo sentido no mundo do futebol foi um dos “grandes fatores” que o levaram a desistir do desporto. “[O Mings] tem todo o direito a estar com raiva, assim como eu e assim como estou certo de que milhões de pessoas estão em todo o país”, disse no programa.

“Porque havia uma grande oportunidade de mostrar uma liderança forte. E eu acho que estava muito claro naquele momento, como estava muito claro antes disso, que os jogadores que se ajoelham não eram mais nada do que eles a tentar aumentar a consciencialização para um tema que voltou à atualidade”, afirmou.

Também o ex-jogador Gary Neville não se mostrou surpreendido com os assobios contra os jogadores. “O primeiro-ministro disse que estava tudo bem para a população ridicularizar aqueles jogadores que tentavam promover igualdade e a defesa contra o racismo. Tudo começa no topo. Não fiquei surpreendido por ter acordado com estas manchetes. Esperava-as desde que os três jogadores falharam [os penaltis]”, admitiu o antigo jogador da seleção e do Manchester United.

Após as várias manifestações de racismo nas redes sociais, Marcus Rashford admitiu ter tido uma “temporada difícil” e que foi para a final “com falta de confiança”. “Senti-me como se tivesse dececionado os meus companheiros de equipa. Senti-me como se tivesse dececionado todo o mundo. Uma penalidade foi tudo o que me pediram para contribuir para a equipa”, escreveu Rashford no Instagram.

“Tudo o que eu posso dizer é que sinto muito. Gostaria que tivesse sido diferente. Cresci num desporto onde espero ler coisas escritas sobre mim. Seja sobre a cor da minha pele, onde cresci ou, mais recentemente, como decido passar o meu tempo fora do campo. Posso receber críticas do meu desempenho, do meu penalti não ter sido bom o suficiente, mas nunca vou pedir desculpa por quem eu sou e de onde vim”, continua a jogador do Manchester United.

“Sou o Marcus Rashford, 23 anos, homem negro que vem de Withington e Wythenshawe, do sul de Manchester. Se não tenho mais nada, tenho isso”, escreveu Rashford.

O mural de homenagem ao jogador na cidade de Manchester foi vandalizado no domingo passado, após Inglaterra ter perdido nas grandes penalidades para a Itália. No entanto, a comunidade da cidade rapidamente cobriu os insultos racistas com mensagens positivas de apoio a Rashford.

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