Palco polémico
O palco vai custar um total acima de seis milhões de euros, já com IVA: cinco milhões para a estrutura principal e mais de um milhão para as fundações. O contrato foi entregue através de um ajuste direto à Mota-Engil pela autarquia de Lisboa.
O palco-altar vai ter 100 metros de largura, o equivalente ao comprimento de quase um campo de futebol, com 27 metros de profundidade. No seu ponto mais alto vai ter o equivalente a uma altura de três andares, nove metros.
E a estrutura também prevê oito sacristias, com quatro para serem usadas pelos bispos e uma pelo papa, que vai servir para sentar duas mil pessoas, incluindo mil bispos, 200 membros do coro, 90 músicos de orquestra, 30 tradutores de linguagem gestual e convidados, segundo o Diário de Notícias.
Em Lisboa são esperados 1,5 milhões de peregrinos para o evento que vai ter lugar em agosto. O evento deverá gerar um retorno de 350 milhões de euros.
Quando é que vai custar o projeto? E quem vai pagar?
O projeto tem um custo total estimado de 160 milhões de euros, com metade a sair dos cofres públicos, contribuintes, e a outra metade a sair dos cofres da Igreja.
A autarquia de Lisboa vai pagar um total de 35 milhões de euros, , enquanto a de Loures irá pagar cerca de 10 milhões de euros.
Já o Governo vai gastar 30 milhões de euros: 22 milhões para o evento, mais 8,2 milhões para a deslocação do terminal de contentores na Bobadela pela Infraestruturas de Portugal.
O Estado também vai participar no evento através do apoio nas áreas da saúde, segurança, socorro e mobilidade.
Já a Igreja Católica irá assumir um valor na ordem dos 80 milhões de euros, pois vai assumir os custos de acolhimento e de alimentação dos peregrinos.
Sobre o financiamento do projeto, esta semana José Sá Fernandes, coordenador do grupo de contacto, revelou que em 2019 todas as partes concordaram em financiar o projeto.
“Em 2019, a Igreja perguntou a todos os protagonistas da altura – Governo, Câmara Municipal de Lisboa, Presidente da República – se achavam boa ideia a candidatura às JMJ, e disse a Igreja claramente que isto tinha de ser financiado ou pelas câmaras ou pelas câmaras e pelo Estado, e as pessoas concordaram”, revelou o político esta semana.
Havia uma alternativa mais barata
O coordenador do grupo de projeto para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) garantiu que haviam alternativas mais baratas para o altar-palco no Parque Tejo-Trancão.
“Alertei sempre para a câmara não deixar resvalar os custos desta estrutura. Quando o novo executivo camarário tomou posse, há mais de um ano, já existia o esboço de um altar mais simples, com base em contentores, com uma estimativa de custos preliminar de cerca de 1,5 milhões. Em Maio, o executivo de Carlos Moedas apresentou-nos um outro desenho, que custaria cerca de 3 milhões de euros. E agora, há cerca de um mês, surgiu esta nova versão feita também pela SRU, que tem uma pala de cobertura maior e exige fundições mais profundas, algo que encareceu muito a obra”, disse José Sá Fernandes a 26 de janeiro citado pela “Visão”.
24 contratos com o Estado
O Estado já assinou um total de 24 contratos públicos para a organização das JMJ. Na sua maioria, foram atribuídos por ajuste direto, segundo a “SIC”.
Estes contratos dizem respeito a empreitadas e serviços de assessoria e ascendem aos 14 milhões de euros, até agora.
Os contratos destinam-se à construção de vários pontos de encontro na capital, onde vão decorrer em simultâneo dezenas de outros grandes eventos, relacionados com as JMJ.
Segundo palco também polémico
Um segundo palco-altar a ser instalado em Lisboa também foi onda de críticas. Uma estrutura prevista para o topo do parque Eduardo VII previa a construção de torres e 90 plataformas, com um custo de dois milhões.
Mas este projeto foi afastado pela autarquia por ser muito caro, tendo estipulado um orçamento de 705 mil mais IVA para os três palcos que serão erguidos na cidade: Parque Eduardo VII, Terreiro do Paço e Alameda.
O palco do Parque Eduardo VII servirá para acolher o papa, missa realizada pelo cardeal e a via sacra.
Vaticano desmarca-se da polémica
Perante tanta polémica em Portugal, a Santa Sé veio a público desmarcar-se, garantindo que não foi responsável pela construção e custo do polémico altar.
“A organização do ato é local”, disse à ACI Prensa o diretor de imprensa do Vaticano Mateo Bruni no final de janeiro.
Eu é que sou o coordenador das JMJ
No rescaldo da polémica, a autarquia de Lisboa veio a público dizer que o município iria assumir o contado direto com a Igreja, deixando de fora o coordenador do grupo de contacto nomeado pelo Governo, José Sá Fernandes.
“O coordenador sou eu, eu é que vou coordenar diretamente a partir de agora”, disse o autarca Carlos Moedas a 31 de janeiro.
Mas apenas um dia depois o Governo reafirma que Sá Fernandes vai manter-se como coordenador: “José Sá Fernandes é o coordenador do grupo de projeto para a Jornada Mundial da Juventude”, disse fonte do gabinete da ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, à “Lusa”.
Este grupo integra os envolvidos na organização do evento: Governo, Igreja e as autarquias de Lisboa, Loures, Cascais e Oeiras.
A 2 de fevereiro, José Sá Fernandes veio a púbico falar do seu papel: “não sou o coordenador disto tudo. Isto é quase como uma coprodução onde há vários coordenadores para cada uma das tarefas”, disse em entrevista ao “Público”. O político disse que era o “coordenador da JMJ para as tarefas atribuídas ao Estado”, rejeitando a ideia que “estava-se a criar de que eu era o coordenador disto tudo”.