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JP Morgan: EUA não dão sinais de recessão e ações em Wall Street não estão caras

Manuel Arroyo, o novo diretor de estratégia da JP Morgan Asset Management Ibéria, antecipa que a volatilidade vai aumentar e os retornos vão diminuir. Ainda assim, considera que há oportunidades nos setores ‘value’.
  • REUTERS/Eric Thayer
18 Outubro 2018, 07h40

A gestora de ativos do banco JP Morgan continua otimista sobre a economia e o mercado acionista norte-americano, que prefere às ações europeias. Manuel Arroyo, o novo diretor de estratégia da JP Morgan Asset Management Ibéria, considera que o aumento da volatilidade obriga os investidores a uma re-orientação para os fundamentais.

“O crescimento económico global não vai terminar nos próximos trimestres. O que há é uma divergência”, explicou Arroyo, num encontro com jornalistas, esta quarta-feira, em que apresentou o outlook para o quarto trimestre do ano.

O diretor de estratégia admite que esperava que o crescimento sincronizado a nível global continuasse até ao final do ano, mas que o “descolar” foi mais rápido que o esperado devido a “fatores temporários”, como a guerra comercial ou a desaceleração das exportações europeias.

Apesar disso, considera que os fundamentais macroeconómicos continuam sólidos. Nos EUA, a JP Morgan Asset Management antecipa que o maior ciclo de expansão da história continue pelo menos mais um ou dois anos. “Não há indicadores económicos que apontem para uma recessão a curto prazo”, garante, acrescentando que as ações norte-americanas vão acompanhar os ganhos económicos.

Depois das ações cíclicas, as financeiras

O crescimento económico do país, aliado aos resultados empresariais sólidos são a principal razão para Manuel Arroyo considerar que “os principais mercados não estão caros”. “Também não estão baratos, mas estão na média histórica”, afirmou. A gestora de ativos aposta há vários anos em Wall Street e não tenciona mudar a estratégia tão cedo.

“Não é uma questão de não gostar da Europa, mas preferimos os EUA”, disse. Ao contrário dos mercados emergentes, que acumulam perdas, ou da Europa, que segue na linha de água no acumulado do ano, Wall Street mantém-se em terreno positivo.

O índice industrial Dow Jones soma quase 4%, enquanto o financeiro S&P 500 ganha quase 5% e o tecnológico Nasdaq tem uma valorização superior a 10%. No entanto, os principais índices já foram alvo de dois selloffs este ano, em fevereiro e outubro. A gestora de ativos está já a acautelar os próximos anos, para os quais antecipa retornos cada vez mais difíceis e maior volatilidade.

“Depois da aposta em setores cíclicos, de crescimento, estamos a olhar para o setor financeiro”, afirmou. O diretor de estratégia não nomeou empresas, mas usou como exemplo o fundo de ações JP Morgan – America Equity Fund, que no setor financeiro investe em títulos como a AIR, T. Rowe Price, Capital One, Wells Fargo, Loews ou Ally Financial.

“As empresas growth têm tido uma performance melhor e, essas sim, estão caras. No value, ainda vemos oportunidades”, referiu Arroyo. Apesar disso, o mesmo fundo continua a apostar em alguns títulos de crescimento, como é o caso das gigantes tecnológicas Alphabet, Apple, Microsoft ou Amazon.

Inflação vai determinar futuro das yields

Mesmo estando otimista quanto ao desempenho das ações e da economia dos EUA, Manuel Arroyo lembra que há fatores de incerteza até porque “os EUA já estão numa fase madura do ciclo”, o que influencia a política monetária do país. Após a crise, a Reserva Federal dos EUA tem implementado um percurso de normalização, que levou as taxas de juro de referência – federal funds rate – para o intervalo atual entre 2,5% e 2,75%.

A JP Morgan Asset Management antecipa que o banco central liderado por Jerome Powell realize uma nova subida ainda este ano, em dezembro (que seria a quarta em 2018). Em 2019, apontam para dois aumentos, um em cada semestre.

O diretor de estratégia lembra que a performance da dívida face às ações está intimamente relacionada com o ciclo de taxas de juro. As Treasuries superam as ações quando termina o ciclo de subidas dos juros.

“Historicamente, entre os 5% e os 6%, mas neste caso poderá ser mais cedo, dependendo da inflação”, explica. “Apesar das subidas dos juros, não tem havido sinais de arrefecimento da economia. O único que começa a dar sinais é o mercado imobiliário”.

Guerra comercial ofusca importância das eleições

Por último, há ainda riscos a nível político. Nas eleições intercalares de novembro, o partido de Donald Trump poderá vir a perder o controlo da Câmara dos Representantes. Caso aconteça, “vai perder a possibilidade de implementar novos estímulos”, sendo que a reforma fiscal implementada no início do ano irá contribuir para 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no acumulado de 2018, segundo a estimativa da gestora de ativos.

“De qualquer forma, Donald Trump parece mais interessado na política internacional”, diz Arroyo. Considera que o pior cenário possível – de uma guerra comercial global – está descartado.

Está ainda em cima da mesa a hipótese da implementação nos EUA de uma taxa alfandegária de 25% à importação de todos os produtos vindos da China, o que teria um “impacto limitado” para os EUA. Do lado da China, o efeito seria maior, mas o controlo monetário poderia atenuar o embate. “A grande dúvida é o impacto na confiança dos empresários”, acrescenta.

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