Nos idos anos 60 do século passado, a propósito da necessidade de olharmos para o planeta como a nossa verdadeira morada, Kennedy proferiu uma frase que fica na história: “O laço essencial que nos une é que todos habitamos este pequeno planeta. Todos respiramos o mesmo ar. Todos nos preocupamos com o futuro dos nossos filhos. E todos somos mortais”.

Estas singelas palavras dão uma dimensão holística e, extraordinariamente atual, da humanidade: o conceito da aldeia global, do conhecimento e da tolerância; a necessidade de entendimento sobre a governação global da racional utilização dos recursos e da preservação do clima; a sustentabilidade e o respeito intergeracional; a inalienável importância da vida. A esse propósito, dizia um brilhante professor de economia que a ciência económica de nada vale se não tiver como objetivo a progressiva melhoria do bem-estar social dos indivíduos.

Na entrada dos anos 20 deste século, são frequentes as diversas análises sobre tendências de comportamento sobre o consumo e estilos de vida. Não será difícil encontrarmos estudos que apontam para a vertiginosa transformação que as nossas vidas poderão ter com o emergente aperfeiçoamento tecnológico. Que nos tornará a vida tão fácil quanto complexa.

A migração (integral?) para o ambiente digital abre um mundo para a produtividade pessoal, para o conhecimento, para o acesso a informação sem paralelo no percurso da humanidade, que nos facilita a vida. Mas, coloca-nos um complexo desafio nos campos da privacidade, da segurança e da ética. Amplia-nos os níveis de ansiedade, quando afinal nos deparamos com a latente impossibilidade de adotarmos o mesmo ritmo que a transformação nos impõe, como que ultrapassados por um progresso criado por nós próprios.

Esquizofrénico? Vejamos o que se colhe dos próprios estudos sobre tendências dos consumidores. Pela primeira vez, vejo indicadores com alguma expressão que revelam outros caminhos. Como que uma espécie de regresso às origens, os indivíduos mostram preferências por experiências de consumo que privilegiem o que é genuíno, sustentável e de equilíbrio emocional. Segundo o estudo “Euromonitor International’s Lifestyle Survey 2019”, as prioridades sobre decisões de compra de bens e serviços locais, orientados por princípios éticos e de sustentabilidade, que preservem a autenticidade e as comunidades locais já representavam, em média, 25% dos inquiridos.

Outro dado curioso aponta para uma maior consciencialização sobre sustentabilidade. Quando questionados sobre a possibilidade de privilegiar um consumo baseado num estilo de vida minimalista, de consumo apenas quando necessário, e de reutilização, as respostas positivas variavam entre 32% na América do Norte e Europa, e 41% na Ásia, Médio Oriente e África.

Mas, talvez das coisas mais interessantes que me têm vindo a despertar a atenção, e também sublinhado neste estudo, é a tendência global das novas gerações para a autoproteção da saúde mental, do equilíbrio sensorial como forma decisiva de melhorar o bem-estar individual e coletivo. Talvez um auto protetor de overdose de estímulos que vamos revelando não ter capacidade para absorver.

A nós, gestores, cabe a tarefa de lidarmos com a complexidade dos instrumentos, para simplificar a vida dos nossos clientes. Com a consciência bem desperta de que o interruptor que liga e desliga a atenção está lá, cada vez mais presente, e que condicionará o nosso negócio e a sustentabilidade das nossas organizações. Afinal, o que os consumidores pretendem é simplicidade e bom senso, no contexto dos valores sociais emergentes em cada fase do desenvolvimento da sociedade. O “simples” é a maior fonte de oportunidades.