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Kwanza angolano afunda no primeiro teste ao novo regime cambial

O Banco Nacional de Angola realizou esta terça-feira o primeiro leilão de divisas depois de ter anunciado o abandono do câmbio fixo face ao dólar e ao euro. A medida pode ser positiva para o país, mas também pode resultar numa queda a fundo do valor do kwanza.
10 Janeiro 2018, 09h50

O valor do kwanza angolana afundou, na primeira prova de fogo ao novo regime cambial do país. Em plena crise de divisas, fruto da dependência do petróleo como base de quase toda a riqueza, Angola decidiu abandonar o câmbio fixo face ao dólar e ao euro e deixar o valor do kwanza nas mãos do mercado.

A medida poderá levar a uma desejada desvalorização da moeda, mas também poderá obrigar o banco central a voltar a intervir para impedir uma queda incontrolável.

“Os níveis das reservas internacionais em  Angola estão em níveis significativamente baixos. Por outro lado, o spread entre a taxa de câmbio formal e a do mercado informal tem uma diferença bastante significativa”, explicou o economista e professor da Católica Luanda Business School, Salim Valimamade, ao Jornal Económico.

Com as Reservas Internacionais Líquidas do país em mínimos históricos – 15 mil milhões de dólares -, o Banco Nacional de Angola (BNA) anunciou o abandono da taxa de câmbio administrada, ou seja, determinada pelo banco central, independentemente da relação entre a procura e a oferta. A paridade apontava para que o dólar valesse 167 kwanzas e o euro 187 kwanzas, mas no mercado paralelo, a moeda norte-americana transaciona próximo de 430 kwanzas e a europeia acima dos 500 kwanzas.

“Esta medida vem no sentido de deixar o mercado definir a taxa mais ajustada, dentro de certas bandas de flutuação e, por outro lado, diminuir esse spread entre o mercado informal e o formal, por forma a evitar as situações de arbitragem e desvirtuar os preços”, referiu Valimamade.

Moeda desvaloriza 10% no primeiro leilão

O fim da taxa de câmbio fixa implica que o valor é determinado em leilões e o primeiro teste do mercado ao novo regime cambial aconteceu esta terça-feira. O BNA leiloou 83,6 milhões de euros em divisas, um “montante integralmente absorvido” pelos bancos comerciais que participaram.

A taxa de câmbio média foi, assim, fixada em 185 kwanzas por dólar e 220 kwanzas por euro, o que significa uma depreciação de 10% face à divisa norte-americana e de 16% face à europeia. Depois da primeira desvalorização real da moeda em quase dois anos, a taxa será atualizada a cada novo leilão, mas o Valimamade considera que as autoridades angolanas quererão manter o intervalo de flutuação entre os 225 e os 235 kwanzas por dólar.

“O mercado irá definir a nova taxa, mas sujeita à intervenção do banco central consoante os seus objetivos”, explicou o economista, acrescentando que “a crise de divisas tem dificultado as atividades das empresas, limitando o pagamento das importações de bens e serviços”.

Valimamade lembrou ainda que o Estado e os bancos comerciais necessitam de negociar linhas de financiamento externo para financiar investimentos e atividades. O respetivo pagamento do serviço da dívida tem sido mais dificultado devido a escassez de divisas, limitando as atividades dos bancos e do Estado, afetando o crescimento económico angolano.

“Naturalmente que esta medida poderá provocar uma perda de valor  do kwanza face ao dólar, o que poderá a curto prazo aumentar os preços na economia, mas que será útil para proteger as reservas internacionais e diminuir o spread do mercado informal”, concluiu.

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