[weglot_switcher]

Lagarde deverá adicionar meio bilião de euros ao ‘calibre’ da bazuca anti-crise

O terreno tem vindo a ser preparado há semanas para não haver surpresas. A reunião do BCE deverá resultar em projeções económicas mais sombrias e num aumento e prolongar do Programa de Compra de Emergência Pandémica. O consenso dos analistas aponta para mais 500 mil milhões de euros, até final de 2021, para a arma que mantém as ‘yields’ baixas.
  • BCE
10 Dezembro 2020, 08h00

Recalibrar (re- + calibrar), verbo transitivo: tornar a calibrar; afinar de novo. No dicionário da Porto Editora, a definição vem acompanhada de um exemplo simples, o de recalibrar uma balança, mas o termo aplica-se na perfeição ao processo, bastante mais complexo, que o Banco Central Europeu (BCE) deverá detalhar após a reunião do Conselho de Governadores esta quinta-feira.

Na última reunião, a 29 de outubro, Christine Lagarde afirmou que o banco central da zona euro estava a estudar como recalibrar todos os instrumentos de política monetária, afirmando que essa afinação irá ser anunciada na reunião de dezembro, uma mensagem que viria a reiterar entretanto em diversos discursos, fornecendo algumas pistas.

“A reunião de política monetária do BCE não deve surpreender. Christine Lagarde, o economista-chefe Philip Lane e o vice-presidente Luis de Guindos já sublinharam o que esperar nas suas inúmeras aparições nos media. A mensagem é clara: o BCE pretende assumir um compromisso ainda maior para apoiar a economia e continuar o Programa de Compra de Emergência Pandémica (PEPP) enquanto durar a crise sanitária”, afirmou Franck Dixmier, global CIO fixed income, Allianz Global Investors (GI).

Este fortalecimento da política monetária do BCE é justificado por quatro fatores, adiantou Franck Dixmier. A revisão em baixa das projeções económicas, as incertezas devido à segunda vaga da pandemia e o timing da aplicação da vacina, perspetivas de inflação persistentemente baixa num horizonte de dois anos, com destaque para o principal componente subjacente da inflação-base e a valorização do euro face a outras moedas, algo que representa um desafio para o BCE.

Os analistas do ING recordaram que o staff do BCE em setembro projetava um crescimento de 3,1% da economia da zona euro no quarto trimestre em relação anterior. “Com os segundos confinamentos essas projeções estão datadas e demasiado otimistas, portanto terão que ser revistas em baixa”, vincaram. O Danske Bank até prevê uma contração, de 1,4%.

PEPP: mais poder fogo para a ‘bazuca’ anti-pandemia

Lagarde disse em outubro que o BCE irá recalibrar todos os instrumentos, identificando as melhores formas de os usar e para claramente aumentar, estender, trabalhar na duração, no volume e na atratividade dos instrumentos.  A francesa realçou, no entanto, a 11 de novembro que o PEPP e os empréstimos de longo prazo à banca (TLTRO) deverão continuar a ser centrais na ação do banco central.

Em relação ao PEPP, que foi lançado em março com um ‘envelope’ de 75o mil milhões de euros e depois reforçado com mais 600 mil milhões em junho, a expectativa é de um novo aumento, acompanhado por um prolongamento do prazo final. Se quanto ao questão temporal há consenso entre os analistas sobre uma extensão ate final do próximo ano, do atual prazo de junho, em relação ao reforço do volume há ligeiras diferenças nas expectativas.

Os analistas do Danske Bank esperam um aumento de 400 mil milhões de euros, recordando que o PEPP tem sido o intrumento blockbuster do BCE na resposta à pandemia e que oferece a flexibilidade, em termos de jurisdições, maturidades e classes de ativos, necessária para colocar um tecto na curva de yields nas dívidas soberanas “e dar um sinal que o compromisso para assegurar yields baixas é instrumental”.

O banco de investimento holandês ING estima um aumento de 500 mil milhões de euros, partlilhando assim as previsões de Franck Dixmier da Allianz GI e de Nick Kounis, head of financial markets research do ABN-Amro.

“O BCE precisa de absorver a oferta significativa dos emitentes no próximo ano para assegurar que as yields das obrigações permançam baixas. Acreditamos que essa oferta irá ser ainda maior em 2021, portanto o BCE precisa de ser capaz de conduzir as compras líquidas no próximo ano também”, referiu Kounis, explicando que o valor que deverá sobrar do atual ‘envelope’ no final do ano deverá ser de 600 mil milhões, portanto o BCE poderá ter um arsenal de 1,1 biliões de euros em 2021.

O alemão Commerzbank projeta um aumento de 600 mil milhões de euros, com o BCE a “jogar pelo seguro”, dando a si próprio a capacidade de gerir o ritmo de compras até ao final do próximo ano sem ter de ‘recalibrar’ novamente e dessa forma criando um buffer para o caso de tensões entre os membros. “Esperamos que o BCE seja averso ao risco na decisão de dezembro”, sublinhou.

Programa ‘convencional’ reforçado?

Em paralelo com o PEPP, o BCE mantém ativo o ‘convencional’ Asset Purchase Programme (APP), programa de compra de ativos com maiores restrições em termos de limites por país e classe de ativos, e que permite atualmente a compra de 20 mil milhões de euros em dívida por mês sem prazo limite, além de um ‘bónus’ de 120 mil milhões este ano.

Os vários analistas dizem que o BCE poderá anunciar uma subida de 10 mil milhões a 20 mil milhões de euros por mês no APP, mas salientam que é uma previsão mais incerta, pois esse programa deverá ser reforçado depois da pandemia, quando o PEPP poderá ser reduzido.

O anúncio de condições ainda mais favoráveis para a concessão de liquidez aos bancos por via dos TLTROs (Operações de Refinanciamento Específicas a Longo Prazo) para financiar a economia é, por outra, dado como garantido. Nick Kounis, do ABN-Amro, acredita do que BCE deverá criar três novas tranches deste tipo de empréstimos, com prazos em junho, setembro e dezembro de 2021.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.