[weglot_switcher]

Dez anos depois do Lehman, presidente do FMI diz que “o sistema está mais seguro, mas não o suficiente”

Há novos desafios no sistema financeiro atual e será a resposta a estes riscos que irá determinar se as lições do Lehman Brothers foram aprendidas, segundo a presidente do FMI. “O verdadeiro legado da crise não pode ser adequadamente avaliado após dez anos – porque ainda está a ser escrito”, diz.
5 Setembro 2018, 15h00

Dez anos depois da queda do banco Lehman Brothers – a maior falência da história -, há lições aprendidas, mas também ainda há desafios, segundo a presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Numa publicação no seu blog, Christine Lagarde defendeu que “percorremos um longo caminho, mas ainda não o suficiente”.

“A crise financeira global mantém-se como um dos eventos que definiram os nossos tempos. Irá para sempre marcar a geração que a viveu”, diz Christine Lagarde, lembrando os custos da crise para uma população com ordenados estagnados, associada à “raiva de assistir ao regaste de bancos e à impunidade dos banqueiros”.

Numa altura em que se aproxima o décimo aniversário da falência do Lehman Brothers – a 15 de setembro -, a francesa considera que os pontos de stress são agora óbvios, apontando para a desregulamentação do setor financeiro em prol da inovação, bem como para a tomada de risco desmesurada e imprudente, através da aposta em financiamento de muito curto prazo e em crédito à habitação (cujo incumprimento levou à crise do subprime).

A globalização do setor financeiro levou a uma “rápida e perigosa escalada” da crise a nível global, lembra. “Se a resposta política pré-crise a estes riscos foi inadequada, a resposta imediata à crise foi impressionante”, defendeu Lagarde.

Os governos tiveram que tomar medidas para limitar os problemas da banca, enquanto os bancos centrais iniciaram programas de estímulos não convencionais. Da parte do FMI, veio ajuda financeira num total de 500 mil milhões de dólares a países em crise e uma injeção de liquidez no sistema global de outros 250 mil milhões de dólares.

“Em conjuntos, estas políticas – no contexto de ação coletiva internacional – funcionaram amplamente, no sentido em que o pior cenário possível foi evitado”, afirmou. Lagarde considera que, além das intervenções imediatas, as autoridades globais também pressionaram a banca para melhorar a qualidade do capital e a posição de liquidez.

“Isto é tudo muito bom, mas não é suficiente. Demasiados bancos, especialmente na Europa, estão ainda fracos”, alerta, no entanto. “Percorremos um longo caminho, mas não é suficiente. O sistema está mais seguro, mas ainda não seguro o suficiente. O crescimento recuperou, mas ainda não é suficientemente partilhado”.

“Estamos agora diante de novas linhas de falha pós-crise – da possível reversão da regulamentação financeira, às consequências da excessiva desigualdade, ao protecionismo e políticas voltadas para dentro, ao aumento dos desequilíbrios globais. A forma como reagimos a esses desafios determinará se interiorizámos completamente as lições do Lehman. Nesse sentido, o verdadeiro legado da crise não pode ser adequadamente avaliado após dez anos – porque ainda está a ser escrito”, acrescentou a presidente do FMI.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.