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Lar de Reguengos: Federação dos Médicos exige a António Costa “respeito” e o apuramento de responsabilidades

Em causa estão sete segundos de um vídeo de uma conversa em off, após a conclusão da entrevista que o Chefe do Executivo deu ao semanário “Expresso”. Numa conversa privada com os jornalistas, António Costa alegadamente chama “cobardes” a médicos envolvidos no caso do surto de covid-19 em Reguengos de Monsaraz. A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) repudia afirmações do primeiro-ministro que diz serem “chocantes”.
  • António Pedro Santos/Lusa
24 Agosto 2020, 12h35

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) diz que foi surpreendida e repudia as declarações de António Costa sobre a ação destes profissionais de saúde, numa conversa privada com o semanário “Expresso”, divulgadas através de uma gravação amadora nas redes sociais.

“A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) foi surpreendida com a divulgação de um vídeo, que repudia veementemente, no qual o Sr. Primeiro-Ministro, em conversa privada com jornalistas do jornal Expresso, afirma, ainda a propósito do ocorrido no lar de Reguengos de Monsaraz: «É que o presidente da ARS mandou para lá os médicos fazer o que lhes competia e os gajos, cobardes, não fizeram»”, avançou nesta segunda-feira, 24 de agosto, a FNAM.

Para a FNAM estas declarações, proferidas por um chefe de Governo, “são chocantes e totalmente inapropriadas, insultando de forma vergonhosa e indigna todo um grupo profissional cuja competência, capacidade de trabalho e resiliência para exercer a sua profissão em condições cada vez mais degradadas, pondo os interesses dos doentes acima de qualquer outra consideração, não pode ser contestada”.

Por outro lado, acrescenta a FNAM, “não são verdadeira” as afirmações que o primeiro-ministro vem proferindo desde há uma semana, acusando os médicos de se terem recusado a prestar serviço no referido lar. “Os médicos têm vínculo com a sua entidade empregadora, que não é o lar de Reguengos de Monsaraz, e têm obrigações para com os utentes da unidade onde desempenham funções – o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Alentejo Central – e que se viram privados de acesso ao seu médico”, explica a Federação em comunicado.

A FNAM assegura que o desempenho dos médicos durante todo o decurso da pandemia por SARS-CoV-2 “foi exemplar, sujeitando-se à reorganização dos serviços, a uma carga horaria excessiva, a limitações de acesso a equipamentos de proteção individual adequados, com casos de profissionais infetados, que culminou numa morte e em sequelas respiratórias permanentes em muitos outros”.

Além disso, realça, os médicos constituem o único grupo profissional para quem ainda está suspenso o limite de horas extraordinárias, apesar de o país já não se encontrar em Estado de Emergência ou de Calamidade. “Apesar de todo o esforço e dos riscos assumidos, o Governo nada tem feito para melhorar as condições de trabalho dos médicos”, alerta a FNAM.

Segundo a Federação, também em Reguengos de Monsaraz, os médicos prestaram assistência aos utentes do lar, de forma voluntária, “apesar das condições desumanas em que os encontraram, e cumpriram a sua obrigação de denúncia desta situação de abandono e da falta de segurança em que lhes foi exigido desempenhar as suas funções”.

A FNAM acrescenta ainda que “os médicos, ao contrário de gestores e outros administradores, em que, diz, não houve infetados em consequência da sua atividade – e sendo os gestores os verdadeiros responsáveis pelo atual caos reinante nos serviços de Saúde –, foram e continuam a ser fundamentais para a garantia do acesso a cuidados de saúde de qualidade e mesmo para a recuperação económica do país”. Exige, por isso, que sejam  tratados com “respeito e consideração por todos e sobretudo pelo primeiro-ministro de Portugal”.

“Não estando surpreendidos com esta atitude (ela infelizmente é um comportamento frequente dos gestores), entendemos que o Sr. primeiro-ministro tem a obrigação de garantir o interesse público e não os interesses individuais ou de alguns”, frisa a FNAM, dando conta de que os médicos “não aceitam trabalhar sob intimidação, seja do primeiro-ministro ou de qualquer outro membro do Governo”.

A FNAM conclui o comunicado a exigir que o primeiro-ministro “se retrate das declarações insultuosas que proferiu e que o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, a Diretora-Geral da Saúde e as Ministras da Saúde e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social assumam as suas responsabilidades no caso de Reguengos de Monsaraz”.

Em causa está um pequeno vídeo, de sete segundos, que circula nas redes sociais, o qual mostra António Costa numa conversa privada com os jornalistas do Expresso alegadamente chamando “cobardes” a médicos envolvidos no caso do surto de covid-19 em Reguengos de Monsaraz.

O Expresso repudiou, numa nota da Direção, a divulgação desse conteúdo, afirmando que “os sete segundos do vídeo ilegal descontextualizam quer a entrevista, quer a conversa que o primeiro-ministro teve com o Expresso”.

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