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Le Pen aproxima-se de Macron nas sondagens antes da primeira volta das presidenciais francesas

O sucesso da candidata é multi-fatorial: o contexto político mudou e Le Pen adaptou-se; Macron tem sido acusado de proximidade a Putin devido às conversas que tem encetado para atingir a paz na Ucrânia; e o candidato rival da extrema-direita, Eric Zemmour, não foi astuto na questão dos refugiados ucranianos.
8 Abril 2022, 12h01

“Nada é impossível”, alertou o presidente Emanuel Macron depois de sondagens sugerirem que a seu rival de extrema-direita, Marine Le Pen, está mais perto do que nunca de ganhar depois de terminado o último dia de campanha. Há um mês, estava a dez pontos do atual chefe de Estado.

Segundo a “BBC”, Le Pen é agora vista como a clara favorita para desafiar a presidência no domingo, estando taco a taco com Macron. Se ela chegar à segunda volta, no dia 24 de abril, as sondagens indicam que, pela primeira vez, Le Pen está dentro da margem de erro.

O sucesso da candidata é multi-fatorial: o contexto político mudou e Le Pen adaptou-se; Macron tem sido acusado de proximidade a Putin devido às conversas que tem encetado para atingir a paz na Ucrânia; e o candidato rival da extrema-direita, Eric Zemmour, não foi astuto na questão dos refugiados ucranianos, ficando para trás nas intenções do voto popular, recondicionado para a líder do Reagrupamento Nacional (antiga Frente Nacional).

“Eu diria que a campanha [de Zemmour] foi destruída pela Ucrânia”, disse Gilles Paris, especialista em eleições do “Le Monde”. “A sua atitude pró-Rússia foi um fardo, enquanto Marine Le Pen foi inteligente o suficiente para adotar um ponto de vista mais moderado. Ela estava pronta para aceitar refugiados [imediatamente], enquanto Zemmour levou dois dias para entender que esses refugiados eram bem aceites em França.”

O presidente Macron perdeu a maior parte da “vantagem de guerra” quando enfrentou críticas da Polónia por conversar com tanta regularidade com o presidente da Rússia. Quando foi questionado sobre isso na campanha eleitoral esta semana, explodiu: “Não sou eu quem simpatiza com Putin. Não sou eu quem procura financiamento da Rússia. São outros candidatos.”

Esta foi uma clara alusão a Le Pen, que foi publicamente apoiada por Putin na última corrida presidencial, estando ainda a pagar um empréstimo de um banco russo. Contudo, a candidata tem conseguido desviar a discussão sobre a guerra na Ucrânia, concentrando-se no tema central da sua campanha, o aumento do custo de vida, que continua a dar frutos.

Ainda promete limites rígidos à imigração, para além de restrições aos direitos dos migrantes, mas abandonou, o plano de deixar a UE e enfatizou a sua vida pessoal como mãe solteira de gatos. Isto permitiu-lhe conquistar alguns eleitores tradicionais de direita que antes a viam como muito extremista, e cidadãos que a veem agora como “evoluída”.

Melina, uma assistente de cuidados que assistiu a um comício de Macron esta semana, disse que a situação económica mudou a forma de ver a política. “Há muitos franceses que trabalham, mas são forçados a dormir nos carros porque não podem pagar um apartamento e ninguém os ajuda. É uma vergonha”, disse.

Uma empregada de mesa, Sophie, votou em Macron há cinco anos, porque estava “com medo” de votar em Marine Le Pen, mas este dissipou-se. “Ela evoluiu”, disse. “Aprendeu com os erros. É mais humana, e nós a entendemos quando fala.”

Por seu lado, o atual presidente francês tem visto a sua popularidade a diminuir e muitos o consideram o “presidentr dos ricos”, apesar das suas promessas eleitorais, há cinco anos, de combinar o centro-esquerda e o centro-direita.

Macron ainda está melhor posicionado para vencer esta eleição, mas Hervé Berville, deputado do partido governante República em Movimento, disse à “BBC” que desta vez há uma preocupação genuína.  “Veja o que aconteceu nos últimos seis anos: Brexit, Trump… Não estamos a tentar assustar as pessoas, estamos apenas a tentar dizer-lhes que questões eleitorais importam, que a votação importa”.

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