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Líbano: bloco pró-Hezbollah perde maioria parlamentar

Contra todas as previsões, os xiitas do Hezbollah e os seus aliados perderam lugares nas eleições parlamentares. Cresce a presença de independentes, o que dá sinal de que a tradicional relação de forças está a perder adesão social.
17 Maio 2022, 16h10

Ao contrário do que avançava uma larga maioria dos analistas internacionais, o partido xiita Hezbollah e os seus aliados perderam a maioria no parlamento libanês na sequência das eleições de domingo passado, segundo avança o Ministério do Interior esta terça-feira.

O bloco pró-Hezbollah garantiu 58 lugares, menos do que os 65 (em 128) necessários para garantir a maioria, e abaixo dos 71 que controlavam na anterior composição parlamentar. O Movimento Patriótico Livre, um dos aliados do Hezbollah, deixou de ser o maior bloco parlamentar cristão maronita do país, conquistando 18 lugares, menos dois que os conseguidos pelo seu rival apoiado pelos Estados Unidos e Arábia Saudita, as Forças Libanesas.

Dois importantes aliados do Hezbollah, o líder druso Talal Arslan (que concorria na região de Aley) e o líder sunita Faysal Karame (em Trípoli), também perderam os seus lugares para candidatos considerados anti-sistema. O mesmo aconteceu, aliás, com dois candidatos ligados ao Hezbollah no sul do Líbano, que também perderam para candidatos anti-sistema.

Ao todo, 16 candidatos independentes ‘invadiram’ o parlamento, num quadro em que, depois das eleições de 2018, as últimas, apenas um independente havia logrado ser eleito. Para os analistas, este enorme crescimento dos independentes vem colocar em causa um sistema que está estranhamente balizado pelos partidos religiosos, que tentam, através de uma lei eleitoral que merece reservas de quase todos os parceiros internacionais do Líbano, eternizar-se no poder.

Esta é talvez, dizem os analistas, a ilação mais importante a retirar das eleições de domingo: numa sociedade estratificada e praticamente imóvel, o cidadão comum parece rever-se cada vez menos nos partidos tradicionais que eternizam as suas incompreensíveis agendas – sempre ligadas à guerra e ao confronto – e mantêm a corrupção e o nepotismo em níveis muito elevados. O sistema sectário de partilha do poder determina que o presidente seja um cristão maronita, o primeiro-ministro um muçulmano sunita e o presidente do parlamento um muçulmano xiita.

Nove outros candidatos que concorrem em plataformas críticas do sistema e aos partidos políticos dominantes também foram eleitos, entre eles o empresário milionário Fouad Makhzoumi.

A esta mudança do rumo político do país não será alheio o facto de o maior partido sunita do país, o Movimento Futuro, ter decidido não se apresentar ás eleições. O seu líder, o ex-primeiro-ministro Saad Hariri, deixou a política no início deste ano. Ao contrário do que vaticinavam os analistas, a ausência do Movimento Futuro acabou por não resultar numa transferência de votos para o Hezbollah e seus aliados.

Segundo a cadeia de notícias Al Jazeera, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já deu os parabéns ao país. “Apesar das circunstâncias desafiadoras, as autoridades demonstraram o seu compromisso de aderir à Constituição e honrar as tradições democráticas do Líbano”, disse Guterres em comunicado. O português pediu decisões rápidas em relação ao futuro governo – que terá pela frente a reconstrução económica do país e a tentativa de convencer a comunidade internacional de que o país está em condições de cumprir as suas obrigações em termos de ajuda externa.

O novo parlamento do país terá agora de nomear um primeiro-ministro e formar um novo governo para retomar as negociações com o FMI.

Observadores libaneses da Associação Libanesa para as Eleições Democráticas, uma ONG local, contaram pelo menos 3.600 violações da lei, e afirmaram que partidários do Hezbollah e de outro partido xiita, o Amal, atacaram e ameaçaram os seus observadores.

Já o chefe da missão da União Europeia, György Hölvényi, disse também esta terça-feira que as eleições foram “ofuscadas por práticas generalizadas de compra de votos, clientelismo e corrupção”.

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