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Líbano: eleições devem manter Hezbollah como força dominante

As eleições parlamentares num país em profunda crise económica e mesmo, dizem alguns, identitária, deve manter o partido xiita apoiado pelo Irão e seus aliados em maioria. A ida às urnas foi mais numerosa que o esperado.
15 Maio 2022, 19h43

Ainda sem resultados fechados – e sem os mecanismos de aferição costumeiros nos países ocidentais – as eleições parlamentares que decorreram este domingo no Líbano devem manter estáticas as complexas relações de força e de poder em presença.

Segundo avança a cadeia Al Jazeera, os eleitores correram para as assembleias de voto em número bem maior que o esperado, o que constitui a primeira novidade positiva. Foram as primeiras eleições desde que a economia do Líbano começou a desmoronar no final de 2019, levando centenas de milhares a protestar nas ruas contra os governantes, acusados de corrupção e nepotismo.

Para aqueles que participaram nos protestos de 2019, as novas eleições parecem ter sido vistas como uma oportunidade para erradicar o ‘establishment’ político do Líbano e expulsar partidos sectários e corruptos. Mas nada indica que seja isso que vai acontecer.

Cerca de 3,9 milhões de eleitores tiveram oportunidade de selecionar os seus representantes entre 718 candidatos distribuídos em 103 listas em 15 distritos e 27 subdistritos – um aumento de 597 candidatos e 77 listas em relação às eleições de 2018. O presidente Michel Aoun pediu aos cidadãos que votassem em grande número, num discurso público no sábado passado. “A revolução das urnas é a mais honesta” disse Aoun, citado pela Al Jazeera.

O maior partido sunita do Líbano, o Movimento Futuro, apoiado pelos sauditas, não participou nas eleições – o que foi considerado um mau sinal e uma evidência clara que uma das maiores fissuras da sociedade libanesa – entre os sunitas e os xiitas do Hezbollah – vai continuar.

Segundo tudo indica, deverá ser precisamente o Hezbollah – partido considerado terrorista tanto por norte-americanos como melos vizinhos israelitas, entre outras razões por ser apoiado pelo Irão – e os seus aliados a conservarem a maioria no parlamento.

Recorde-se que o líder do Movimento Futuro, o ex-primeiro-ministro Saad Hariri, deixou a política no início deste ano, criticando o crescente poder e influência do Hezbollah. Ninguém acredita que Hariri se mantenha longe por muito tempo, mas enquanto não regressa, essa ausência pode ser capitalizada precisamente pelo movimento que o ex-líder pretende combater. O Movimento Futuro tem atualmente tem dois terços dos lugares reservados aos movimentos sunitas.

A União Europeia enviou 170 observadores às eleições, que distribuiu por todo o país, a quem se juntaram elementos da ong Associação Libanesa para as Eleições Democráticas. Esta última disse à Al Jazeera que foram registados vários desacatos entre partidários do Hezbollah )e do Amal, partido que costumeiramente o apoia) e forças cristãs maronitas libanesas, em várias cidades do sul e do leste.

Entretanto, já se sabe que cerca de 142 mil dos 244.442 eleitores da diáspora foram às urnas na semana passada (entre 6 e 8 de maio em 48 países), com uma participação de 63,05%, segundo adiantou o Ministério dos Negócios Estrangeiros – o que é bem mais que os 49% atingidos em 2018.

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