Durante as últimas três décadas, as Nações Unidas têm reunido representantes dos países do mundo em cimeiras globais para tomar decisões sobre o futuro comum do nosso planeta.

Nos últimos dias em Glasgow, assistimos à discussão de medidas que permitissem mitigar o impacto da crise ecológica e humanitária em curso. Os dados do primeiro semestre de 2021 da ACNUR – Agência da ONU para Refugiados,  são alarmantes, o mundo tem agora 84 milhões de pessoas desalojadas.

António Guterres, secretário-geral da ONU, sublinha, a urgência de respostas, na abertura da COP26  ao declarar que “estamos no caminho para um desastre climático” e “o exército da ação climática, liderado pelos jovens, não para, está cada vez maior e mais barulhento e veio para ficar”.

O desafio é gigante quando assistimos todos os dias a relatos que nos remetem para uma crise humanitária que afeta todos a nível individual ou comunitário. As respostas exigem a todos aprender a construir com os outros o futuro sustentável do planeta.

Em Portugal, a Constituição da República é clara e consagra o princípio da solidariedade intergeracional, para que seja possível a todos os cidadãos nacionais ter  “direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender”.

Para o assegurar, o Artigo 66.º – Ambiente e qualidade de vida, refere que “o direito ao ambiente, no quadro de um desenvolvimento sustentável, incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos, (…) promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e a estabilidade ecológica”.

Neste contexto, são exigidas respostas arquitetónicas específicas focadas no beneficio coletivo, em prol  de uma efetiva visão solidária. Precisamos de abordagens que sirvam realmente como modelo alternativo para o agir comum. O fazer dos arquitetos e os instrumentos da arquitetura têm um papel importante a desempenhar no ato de tornar comum pelas práticas coletivas e, em simultâneo, formativo dessas práticas.

Se analisarmos com atenção os projetos dos Arquitetos sem Fronteiras e Architecture for Humanity compreendemos o compromisso da arquitetura com os processos comunitários na definição e desenvolvimento de massa crítica cidadã. O lema Design like you give  damn é o caminho certo para construir um futuro sustentável do planeta. Este pode começar na nossa rua ou no nosso quintal.

O processo SAAL – Serviço de Apoio Ambulatório Local executado, em Portugal, há 47 anos, é, também, um legado de reflexão sobre processos coletivos geradores de transformação coletiva. Arquitetos, cidadãos e associações de moradores desencadearam mudanças profundas no entendimento dos desafios do habitat, bem como da própria prática arquitetónica.

Arquitetos aptos a compreender como o espaço e a sua construção coletiva afeta as relações sociais é, assim, contribuir para lidar de forma projetiva e não reativa ao panorama de crise que temos que enfrentar para um futuro comum do nosso planeta.