As empresas familiares têm um papel muito forte na economia portuguesa e abrangem uma quantidade significativa de indústrias de diferentes dimensões. Estas empresas são, na sua maioria, caracterizadas pela sua visão de longo prazo e resiliência e são geridas pelos valores familiares que se cristalizam nos valores das próprias empresas. Frequentemente são geridas pelos próprios membros da família cuja principal motivação é o crescimento do negócio assim como a ambição de deixar algo melhor do que encontraram para as gerações futuras.

Um dos maiores desafios enfrentados pelas empresas familiares é a sucessão e com ela o choque geracional que pode ocorrer. A sucessão é difícil, pois envolve não só o início da gestão por uma nova geração, e com ela uma nova liderança, mas também uma potencial mudança da cultura. A dicotomia entre a tradição e a vontade de fazer diferente e inovar, é o grande desafio, dicotomia desafiada pelo paradoxo entre tradição e inovação. É a tensão que as empresas familiares enfrentam entre a continuidade, a tradição e cultura e a necessidade de adaptação às mudanças sociais e económicas que melhor descreve este paradoxo.

A tradição dita que a cultura e valores são passados de geração em geração e desempenha um papel fundamental na construção da identidade das empresas. Além disso, a tradição, passa também pela transmissão do conhecimento e forma de gerir. Embora a tradição possa evoluir com o tempo é valorizada como um fundamental para a preservação da história e do legado das empresas e, muitas vezes responsável pelo seu sucesso.

A inovação está relacionada com a transformação, a criação e implementação de novas formas de trabalhar e ideias diferentes, para que as empresas se possam adaptar aos mercados em constante evolução. A inovação tem um papel crucial no desenvolvimento das empresas permitindo-lhes evitar ficar estagnadas e aumentando a sua competitividade, com o objectivo de reforçar a sua posição no mercado.

Para as empresas, conseguir um equilíbrio perfeito entre tradição e inovação, é um enorme desafio. Enquanto a tradição transmite a continuidade e responsabilidade, a inovação traz vantagens claras na modernização das empresas e no desenvolvimento do negócio. No entanto, é fundamental que a cultura, valores e tradição das empresas e famílias sejam tidas em conta nos processos de inovação para manter a identidade das empresas. Este equilíbrio é imprescindível para o sucesso das empresas e para a sua longevidade.

Para garantir o sucesso da sucessão e preparação das gerações futuras, e superar o paradoxo da tradição e inovação, é essencial, entre outros, o debate sem preconceitos entre gerações, o planeamento estratégico das empresas e a formação dos futuros líderes. Esta preparação é fundamental para as novas gerações enfrentarem os desafios que irão encontrar nas suas empresas quando passarem pelo processo de sucessão, desafios esses não só a nível das relações familiares como também da resistência e confiança dentro das próprias empresas. Para ajudar nestes processos muitas vezes o que assistimos é à nomeação de gestores que tragam uma visão independente, fresca com novas perspectivas para a empresa.

Em conclusão, o paradoxo entre tradição e inovação cria enormes desafios ao nível da liderança e sucessão nas empresas familiares. O equilíbrio deste paradoxo é indispensável para o sucesso das empresas e tem de ser acompanhado por uma liderança capaz de preservar o legado e ao mesmo tempo ter a capacidade de criar e ouvir novas ideias. Quando as empresas conseguem atingir este equilíbrio potenciam, simultaneamente, da estabilidade trazida pela tradição e do potencial de crescimento e competitividade trazidos pela inovação.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.