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Líderes da banca em Portugal analisam como vai ser a retoma da economia

O JE celebra o seu quarto aniversário no dia 16 de setembro. Para marcar a ocasião, pedimos a 33 lideres (das áreas da economia, política e sociedade) as receitas que podem ajudar o país a sair de uma crise inesperada. Leia aqui os textos de Miguel Maya, CEO do Millennium bcp, Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Portugal e Francisco Cary, administrador da Caixa Geral de Depósitos.
  • Cristina Bernardo
16 Setembro 2020, 18h10

 

Miguel Maya | Cristina Bernardo

Miguel Maya, CEO do Millennium bcp

Nesta fase em que nos encontramos, acreditar em certezas e garantias sobre a velocidade e a robustez da recuperação, venham essas promessas de quem quer que seja, é um erro que não podemos cometer. Estamos a lidar com algo novo e desconhecido. Não há certezas, não há atalhos, não há fórmulas milagrosas que garantam o sucesso.  Há ciência e há trabalho, são esses os eixos a utilizar para projetar o futuro. O talento e o esforço de cada um de nós devem ser colocados com determinação nas atuações a empreender: para superar a crise, para valorizarmos o nosso potencial e para podermos perspetivar uma vida melhor, com uma economia mais competitiva e numa sociedade mais inclusiva e justa.

A superação da crise económica requer a superação da crise sanitária. Há que apoiar e confiar na ciência e nos profissionais médicos, nos cientistas que estão a trabalhar na cura e na prevenção. No dia-a-dia respeitemos diligentemente as recomendações de prevenção. Para o futuro, haverá que investir mais na qualificação de cientistas e alterar os hábitos e os comportamentos sociais, há que contribuir na primeira pessoa, através das atuações e do voto (sim, pelo voto se escolhem as prioridades), para uma sociedade mais justa e equilibrada e que tenha mais respeito pela biodiversidade.

A lucidez sobre a dimensão das adversidades e das ameaças não nos pode atemorizar nem paralisar, sendo fundamental entender os riscos e ter a perspetiva de que esta crise traz consigo também enormes oportunidades. A natureza da crise e a robustez da resposta ao nível dos estímulos financeiros e fiscais, dos quais há que destacar a enorme relevância política e económica do programa Europeu Next Generation, permitem antever que esta crise seja sucedida por uma forte recuperação; mas será de uma enorme falta de ambição aspirarmos apenas chegar aonde estávamos.

Não podemos desperdiçar esta crise para mudarmos de paradigma, para evoluirmos. As prioridades de atuação não se podem ficar pela resposta às urgências. Há que reformar o funcionamento das instituições, há que definir as prioridades no investimento em educação cientifica (…criação de centros de competência em data science e automação), há que criar condições para que as empresas tenham vantagens em estarem sedeadas e em criarem emprego em Portugal (…enquadramento fiscal e laboral competitivo), há que premiar o mérito e o trabalho de forma relevante para estimular o empreendorismo e a inovação, mas também de forma equilibrada para garantir a coesão. Em suma, mesmo que sem garantias de sucesso, estou convicto que sairemos mais rapidamente e mais robustos desta crise se formos mais exigentes connosco e com os outros.

 

Cristina Bernardo

Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Portugal

A recuperação da nossa economia para níveis pré-Covid irá demorar algum tempo, apontando o consenso de mercado para que ela não aconteça antes de 2023, ou seja, apenas nesse ano voltaremos a ter um PIB a níveis de 2019.

Este caminho de recuperação, embora lento, não está isento de riscos.

Desde logo pela questão sanitária, que tem um impacto significativo na confiança dos agentes económicos e no dinamismo da economia – quando estará disponível uma vacina, qual a profundidade da segunda vaga e terá o sistema de saúde em Portugal capacidade de resposta para ela – são tudo questões para as quais não temos certezas, mas cuja resposta determinará o caminho da recuperação.

Será por isso muito importante aproveitarmos bem os instrumentos de política pública que teremos ao nosso dispor para a recuperação.

Destaco, a este propósito, o acordo europeu relativo ao Plano de Recuperação e Resiliência, que constituirá uma alavanca fundamental para a recuperação do crescimento económico e para o qual será fundamental garantir rapidez e materialidade na execução.

Adicionalmente, considero ser também muito importante que prossigamos uma política de captação de investimento privado, alavancada nas nossas forças competitivas e com um enquadramento fiscal benigno, que permita consolidar a nossa capacidade exportadora e continuar a transformação da economia portuguesa.

Finalmente, creio que será fundamental a economia portuguesa contar com um sistema financeiro sólido e disponível para cumprir com aquela que deve ser sempre a sua missão – proteger as poupanças dos portugueses e apoiar as famílias e as empresas a ultrapassarem este período e a prosperarem.

O Banco Santander Portugal não deixará de cumprir com o seu propósito, apoiando o nosso país no caminho da recuperação e emprestando a solidez do seu balanço à consolidação da confiança.

 

Francisco Cary, administrador da Caixa Geral de Depósitos

Desde logo, há uma condição exógena para a retoma consistente, que é o controlo de facto da pandemia, pela criação e difusão de vacina(s) razoavelmente eficaz(es), conjugada com progressos nas terapêuticas. Assumindo como cenário base que tal virá a acontecer entre o quarto trimestre de 2020 e o primeiro trimestre de 2021, tal será condição suficiente para a mudança de expetativas, fundamental para a recuperação económica, mesmo tendo em conta o tempo que a difusão abrangente das mesmas deverá necessitar. Nesse pressuposto, e para que a nossa retoma possa ser rápida e robusta, elegeria como prioritário no curto prazo: (i) aceleração da implementação de um programa de investimentos públicos, o mais consensual possível, beneficiando do fundo de apoio à recuperação da União Europeia, em áreas já muito estudadas, como a mobilidade urbana, ferrovia, aeroporto, hospitais centrais, etc. (ii) implementação de medidas de apoio ao investimento do lado das empresas e atração de novo investimento estrangeiro, incluindo redução de impostos sobre o emprego e lucros retidos, (iii) redinamização, com eventuais afinações, das medidas de apoio à atração de novos residentes e talento qualificado, capitalizando nas novas tendências de crescimento do teletrabalho, e (iv) implementação de um programa de habitação pública nas grandes cidades, que com intervenção direta sobre a oferta, crie condições razoáveis de acesso à habitação e contribua para a moderação geral dos preços de mercado. E sempre no quadro de uma estratégia de médio prazo de reequilíbrio das contas públicas, que salvaguarde a sustentabilidade das condições de financiamento.

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