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“Lisboa podia ter mais 5% de turistas com novo aeroporto e centro de congressos”

António Pereira diz que o sector do turismo está a ajudar a economia, mas precisa de apoio para poder continuar a crescer.
  • Cristina Bernardo
5 Dezembro 2017, 07h15

Há mais de 40 anos com atividade profissional no sector e no grupo em vários continentes, António Pereira dirige o Sheraton de Lisboa, um dos ex-líbris da hotelaria da capital, há dez anos. Em entrevista exclusiva ao Jornal Económico, este responsável viaja pela evolução do turismo em Portugal, destaca o posicionamento do Sheraton e aponta, sem hesitações, as falhas que estão a fazer perder receitas a Portugal, à economia da capital e ao sector turístico e hoteleiro.

Com tantos anos de experiência, como vê a evolução das unidades hoteleiras, no mundo e em Portugal?
Os hotéis eram normalmente vistos como dormitórios. Hoje, felizmente, continua a haver procura de hotéis para dormir, mas sobretudo para ter novas experiências, gastronómicas, mas não só, pela interação que as pessoas têm, seja para conversar, seja para trocar relatos de experiências sobre destinos e ofertas hoteleiras. Desta forma, a hotelaria está muito diferente do que era há cerca de dez anos.

Como vê o boom no sector nos últimos anos?
Neste momento, o sector está a ajudar a economia de uma forma muito significativa. Tanto a economia do país, como da cidade de Lisboa. Os hotéis estão e deverão continuar a estar na moda, sendo muitas vezes considerados a primeira opção para servir os turistas que visitam Portugal e a sua capital.

No seu entender, a que se deve esse fenómeno? Sempre fomos hospitaleiros, sempre tivemos boa comida, bons vinhos, bom clima, boas paisagens…
Há uns anos, o destino Portugal não era conhecido nos mercados emissores mais longínquos. Por exemplo, nos Estados Unidos, pensavam que Portugal era parte de Espanha. Nesse aspeto, foi muito meritório o trabalho realizado pela ATL – Associação de Turismo de Lisboa e pelo Turismo de Portugal, tendo lançado várias campanhas promocionais. Ou seja, uma campanha promocional do destino turístico Portugal continuada no tempo, mas que se tem sentido de uma forma mais intensa desde há três ou quatro anos.
Por outro lado, a TAP também começou a entrar em mercados e os vistos gold também tiveram a sua influência. Tudo isso fez com que as pessoas mais mediáticas também escolhessem Portugal e Lisboa para sua residência.
Assim, o mercado nacional começou a ser falado no mundo inteiro. Passou a haver uma reação do tipo “quero lá ir porque toda a gente já me falou bem”. E foi isto que fez com que crescêssemos de uma forma significativa no turismo em 2015 e em 2016, e também este ano, em 2017. Um crescimento no país, no Porto, em Lisboa, no sector hoteleiro, no Airbnb, que tem uma oferta igual ou superior à hoteleira, enfim, um crescimento generalizado.

Como é que o Sheraton Lisboa tem beneficiado com esse crescimento do turismo?
Claro que o Hotel Sheraton Lisboa, estando situado numa cidade com essa procura, ostentando uma marca internacional proprietária de um dos canais de distribuição mais potentes do sector, dispondo do melhor programa de fidelização no sector hoteleiro, também tem crescido, e até a um nível superior.

Como?
Posso dizer-lhe que os índices de ocupação hoteleira da cidade de Lisboa se têm situado entre os 65% e os 66% nos últimos dois ou três anos, e que o Sheraton apresenta uma taxa de ocupação de 75% neste momento. Nós estamos com um crescimento acima do da cidade. Também lhe posso dizer que, no nosso segmento de hotelaria, o de unidades de cinco estrelas, apresentamos as melhores taxas de ocupação e os melhores Revpar, ou seja a taxa de receitas por pessoa. Nesses indicadores, o Hotel Sheraton tem crescido mais de 20% ao ano nos últimos dois ou três anos, e vai crescer mais 15% este ano, face a 2016.

Quais são os vossos principais clientes estrangeiros?
Pela nossa localização geográfica, os mercados emissores europeus são os nossos principais clientes. Estamos a falar dos mercados emissores inglês, alemão e espanhol, que está a voltar, depois de ter diminuído de forma significativa com a crise. O mercado brasileiro também está a voltar e, depois, há o mercado americano, que está a regressar com a nova imagem de Portugal e com o esforço da TAP. No que respeita a mercados emergentes, a China começa a aparecer e temos também de destacar o surgimento de um mercado significativo, que são os países árabes.

E qual a percentagem de clientes nacionais no Sheraton Lisboa?
Os clientes nacionais representam 35% do nosso total de clientes e têm estado a crescer devido ao aquecimento da economia, principalmente no segmento corporate, do mercado com negócio, com business, e também no segmento dos city-break, para ver eventos e toda a oferta cultural e artística da cidade. Na vertente nacional, o segmento corporate representa 70% da procura do nosso hotel. Na vertente internacional, o segmento de city-break tem muita procura e só em segundo lugar vem o segmento de corporate, devido à realização crescente de congressos, eventos e iniciativas de incentivos.

Mas pode dar-me algum dado económico-financeiro preciso sobre a atividade do hotel?
Como dado aproximado, posso dizer-lhe que, desde a abertura do Sheraton Lisboa, só na vertente do alojamento, passaram pelo hotel mais de 5,8 milhões de pessoas, ocupando 3,8 milhões de dormidas, gerando uma receita superior a 500 milhões de euros. Neste período, contribuímos para ações sociais num valor superior a um milhão de euros.

No bom momento que atravessamos, há algo que o preocupe em termos de futuro para o sector?
Existem algumas infraestruturas em Portugal e em Lisboa que é necessário, fundamental, que sejam adaptadas. Tivemos alguma preocupação em aferir que o novo aeroporto de Lisboa só será uma realidade daqui a três anos e que temos de sobreviver até lá com a infraestrutura existente. Para que não passe a haver falta de procura pelo nosso destino, é necessário que se criem meios para minimizar os problemas com que já estamos a lidar todos os dias. Muitos dos nossos clientes que chegam em voos de curta e média distância passam mais tempo na alfândega do que no próprio voo. É preciso que haja solução ao nível do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

O novo aeroporto é a única questão que falhou?
Infelizmente, não. A cidade de Lisboa também deverá adaptar-se à nova procura turística com a construção de um novo centro de congressos, moderno, confortável, que responda às necessidades e às finalidades exigidas para esse tipo de equipamento. Neste momento, por falta deste equipamento, estamos a perder turistas e negócio para destinos concorrentes. E não seria menos importante olhar coisas aparentemente menores, como o processo para garantir um moderno meio de transporte, tendo em conta as críticas de há muito em relação aos táxis. Isso e o facto de termos o eterno problema dos museus fechados à segunda-feira, como se nesse dia não houvesse turistas. E, ainda no aeroporto, é necessário modernizar toda a operação de handling. Estas são as preocupações que tenho como hoteleiro, mas que teria também como investidor ou acionista de uma empresa que quisesse investir no setor hoteleiro em Lisboa. Estas são as coisas que entendo que se devia fazer para podermos conviver por mais três ou quatro anos, na melhor das hipóteses, sem o novo aeroporto do Montijo.

E está confortável com a solução do Montijo?
Quanto ao Montijo, considero que continua a estar perto de Lisboa. Neste aspeto, penso que poderia ser um elemento diferenciador se conseguíssemos ter uma forma moderna, alguma capacidade de ligação fluvial entre o aeroporto e o centro de Lisboa.

No seu entender, quais são as perdas que o turismo em Lisboa e no país estão a registar por não haver um novo aeroporto e um novo centro de congressos a funcionar?
Na minha opinião, se houvesse um novo aeroporto e um novo centro de congressos a funcionar de forma adequada em Lisboa, a capital teria, no mínimo, mais 5% de turistas do que tem neste momento.

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