Livro: “Entre Dois Fogos”

Não faltam explicações para as motivações de Putin, sejam políticas, geoestratégicas, económicas, históricas ou outras mas, algo incompreensivelmente, não temos quase nenhuma informação sobre a opinião do povo russo sobre a invasão. Neste livro, Joshua Yaffa dá-nos o olhar do outro.

No último ano, devido à invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin, saíram em Portugal diversos livros, alguns publicados anteriormente nas respetivas línguas originais, sobre os dois países, uns mais interessantes e relevantes do que outros. Entre os que valem a pena ler está, sem dúvida alguma, “Entre Dois Fogos”, de Joshua Yaffa, editado em Portugal pela Relógio d’Água, com tradução de Maria João B. Marques.

Poderíamos acrescentar, como complemento a esta leitura, “História da Rússia”, de Orlando Figes (Dom Quixote), e “As Guerras do Trigo: Uma história geopolítica dos cereais”, de Scott Reynolds Nelson (Livros Zigurate), para ficarmos apenas pelas publicações mais recentes.

São várias as razões que justificam a escolha do livro deste jornalista. A mais importante é que “Entre Dois Fogos” apresenta uma explicação clara e plausível, sustentada em acontecimentos históricos, do que realmente pensam (e como pensam) os russos, aspeto que tem estado algo ausente nas inúmeras análises dos comentadores nacionais. Não faltam explicações para as motivações de Putin, sejam políticas, geoestratégicas, económicas, históricas ou outras mas, algo incompreensivelmente, não temos quase nenhuma informação sobre a opinião do povo russo sobre a invasão.

 

 

Chegam-nos alguns – poucos – ecos graças a entrevistas de rua feitas pelos jornalistas ocidentais que ainda permanecem na Rússia, recordam-nos constantemente que a propaganda russa tem um poder e alcance tremendos, recebemos em Portugal russos fugidos da guerra, mas, no Ocidente, não é claro como lidam os russos com um conflito que os afeta igualmente de forma tão brutal.

Sobre este livro disse Anne Applebaum que “é um estudo sobre o compromisso, o oportunismo e os delicados dilemas morais existentes na Rússia de Putin. Através de um conjunto de histórias criteriosamente fundamentadas, Joshua Yaffa demonstra como as pessoas escolhem — por vezes, conscientemente — adaptar-se, mudar e ‘desenrascar-se’ num Estado autoritário.”

De forma cuidada e aprofundada, o autor dá-nos a conhecer nove retratos (num prólogo, sete capítulos e um epílogo) que correspondem a outras tantas histórias pessoais de vidas que poderiam ter sido normais se não tivessem sofrido algum tipo de perturbação pelo Estado russo, fazendo recordar os piores tempos da União Soviética. A contextualização histórica e o grau de pormenor permitem ao leitor colocar-se na pele dessas pessoas e sentir verdadeiramente os dramas humanos que lhe são apresentados, mesmo quando essas pessoas acabam por sucumbir à pressão ou aos encantos do Poder.

Joshua Yaffa é correspondente da “The New Yorker” em Moscovo desde 2016. Estudou na Universidade de Georgetown e fez o mestrado em Jornalismo e Estudos Internacionais na Universidade de Columbia. Tem colaborado com publicações como “The Economist”, “The New York Times Magazine”, “National Geographic” e “Foreign Affairs”.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

 

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