Livro: “Líbano, Labirinto”

Há países que têm tido muita dificuldade em vingar. Não são propriamente estados falhados (há governo, alguma estabilidade e a economia e os serviços funcionam sem grande dependência de ajudas externas), mas, por vicissitudes várias, quando parece que tudo se encaminha para uma melhoria das condições de vida dos seus cidadãos, mais paz e igualdade, eis que algo acontece e o futuro volta a deixar de sorrir. O Líbano é um desses países.

Permanentemente à beira de nova crise, os últimos anos no Líbano têm sido particularmente difíceis – e nem estamos a referir-nos à guerra civil, entre 1975 e 1990. Do assassinato do primeiro-ministro Rafiq Hariri (precisamente um dos grandes responsáveis pelo acordo de paz que pôs fim à guerra civil libanesa), em 2005, a uma portentosa explosão no porto de Beirute, passando pelo acolhimento de milhões de refugiados sírios, fugindo à guerra no seu país, pelas constantes questiúnculas (amiúde com vítimas mortais) entre o Hezbollah e Israel, falhas no abastecimento de eletricidade e bolhas imobiliárias, o chamado País dos Cedros tem tido uma história agitada, que começou logo na sua criação quando, após o colapso do Império Otomano, os franceses extirparam o pedaço à Síria que correspondia praticamente à antiga Fenícia.

Com toda a sua diversidade cultural e religiosa e a tolerância que o caracteriza, o Líbano é uma espécie de oásis no Médio Oriente, conseguindo captar investimento estrangeiro (apesar de não ter petróleo) e turistas, e assumir uma centralidade que, não sendo geográfica, é sem dúvida estratégica.

São vários os jornalistas que têm escrito sobre o país e, em Portugal, o destaque vai para Alexandra Lucas Coelho. Este livro agora publicado, numa bela edição da Caminho, cujo título – “Líbano, Labirinto” – nos remete para um outro livro, da autoria de Miguel Portas – “No Labirinto – O Líbano entre Guerras, Política e Religião” – é uma coleção de pequenas histórias, de acontecimentos do quotidiano libanês, de encontros fortuitos ou não, de tocantes cumplicidades e poderosos e sempre presentes laços familiares, com a qual se tece a vida do cidadão comum. Uma vida que tem sido dura, precisamente devido às particularidades da história libanesa; é aí que reside a sua força.

Alexandra Lucas Coelho tem 14 livros publicados, entre romances, não-ficção e infanto-juvenis. Trabalhou em rádio e no jornal “Público” como repórter, cronista, editora e correspondente – em Jerusalém e no Rio de Janeiro –, tendo recebido vários prémios de jornalismo e de literatura.