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Livro: “O Espelho do Mar”

O mar enquanto confidente e detonador da verdade interior é aqui ilustrado por Joseph Conrad numa narrativa extraordinária, pela pluma e voz de um homem que serviu na marinha mercante entre os 16 e os 36 anos de idade, e que ficou marcado indelevelmente por esse mesmo elemento.
3 Junho 2023, 11h51

“Mar, metade da minha alma é feita de maresia”

A sugestão desta semana começa com este belíssimo verso de Sophia de Mello Breyner, uma poeta cuja obra está visceralmente ligada ao mar.

Também o autor de “O Espelho do Mar” viveu essa paixão intensa: a de viajar no mar, apesar de Joseph Conrad ser, para muitas pessoas, conhecido sobretudo como o autor de “Coração das Trevas” – que escreveu depois da sua viagem pelo rio Congo, a bordo de um navio a vapor, de onde regressou um homem transformado e transtornado, e com uma visão da vida e do mundo ainda mais pessimista do que era marca do seu caráter.

Contudo, Conrad é, talvez, o escritor que melhor descreveu o mar e a condição humana da solidão e isolamento perante a imensão do mar. Pelas mãos dos editores da Guerra & Paz e com tradução de Beatriz Figueiredo e João Maria Lourenço, agora os leitores portugueses podem ter acesso a este texto magnífico.

Conrad nasceu Józef Teodor Konrad Korzeniowski, na cidade de Berdychiv (que começou como fortaleza lituana, depois cidade polaca e é, hoje, ucraniana), em 1857 – acrescente-se, como meras curiosidades, que esta cidade ficara já como um marco na história da literatura pois, apenas sete anos antes, Honoré de Balzac aí casou com a abastada viúva polaca Eweline Hanska, após uns longuíssimos dezoito anos de corte, de paixão impetuosa consumada intermitentemente, de longas viagens e de uma gravidez mal sucedida. Tal como foi aqui que nasceu, também, em 1905, o autor da obra-prima “Vida e Destino”, Vassili Grossman. Um país com História, a Ucrânia.

Regressando a Joseph Conrad, deixou o seu país natal em direcção a Marselha e, depois, ao Reino Unido, onde viria a naturalizar-se. Serviu na marinha mercante durante duas décadas, entre os 16 e os 36 anos de idade, numa época que incluiu a gradual substituição dos veleiros pelos navios a vapor, experiência que lhe daria extenso material para a sua futura obra literária.

Para além do já referido “Coração das Trevas”, há que nomear “Nostromo” e “Lorde Jim”, naturalmente, mas este “O Espelho do Mar” merece particular destaque e não apenas por nunca ter sido publicado em Portugal. Este é um livro de cariz autobiográfico, onde a relação de Conrad com o mar, o fascínio que este exercia sobre ele, apesar de todos os perigos – ou talvez, por causa deles – e a capacidade deste em fazer vir à tona “a verdade interior de quase uma vida inteira”, nas palavras do autor, que morreu em 1924.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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