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Livro: “Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX”

A sala escura enquanto espaço de emoções e memórias. Eis a proposta de Margarida Acciaiuoli, que neste livro recorda os espaços que marcaram a cidade de Lisboa, os seus habitantes e o seu imaginário.
29 Maio 2021, 10h23

 

Agora que voltámos a poder ir ao cinema, depois de meses reduzidos à pequenez dos ecrãs caseiros, parece que já nem nos lembrávamos de quão maior é o impacto quando os filmes são exibidos nas salas construídas para o efeito.

A experiência de ver as películas nas dimensões para as quais foram pensadas desperta emoções e provoca uma relação com a história e as personagens que é tremendamente diferente, avassaladoramente mais intensa e, portanto, potencialmente geradora de memórias mais duradouras.

Inclusive, a história das salas de cinema (e do cinema) é, ela própria, tema muito explorado pela indústria cinematográfica. Basta recordarmos filmes como “Cinema Paraíso”, de Giuseppe Tornatore, de 1988, onde a personagem principal – ele próprio realizador de cinema – é confrontado com as suas memórias de infância, recheadas da magia do cinema; ou “A Última Sessão”, filme de 1971, realizado por Peter Bogdanovich, num deslumbrante preto e branco, onde o fim da única sala numa vila do norte do Texas está associado o seu declínio económico.

As cidades têm os seus marcos, estes contribuem para a sua identidade e, portanto, para a identidade dos seus habitantes e para o seu imaginário. Naturalmente, quando o cinema era sobretudo uma atividade social, esse imaginário era partilhado por mais pessoas.

Tanta recordação cinematográfica fez-nos puxar da estante o livro “Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX”, de Margarida Acciaiuoli, uma edição da Bizâncio.

Tal como em tantas outras cidades por esse mundo fora, tempos houve em que as salas de cinema proliferavam em Lisboa, dos múltiplos cinemas de bairro às salas memoráveis: como o São Luís, o Chiado-Terrasse, o Tivoli, o Éden, o São Jorge e tantos outros.

Tempos houve em que ir ao cinema era um ato elegante, que merecia indumentária apropriada, e também um ato social – ia-se para ver e ser visto. As grandes salas de cinema foram desaparecendo da cidade e, hoje, nesta retoma das idas ao cinema, a oferta está quase limitada aos centros comerciais (ainda que com poucas mas honrosas exceções, como o Ideal ou o Nimas e, claro, a Cinemateca) e fazemo-lo, quase sempre, no intervalo ou no final de umas compras.

Em “Os Cinemas de Lisboa” a autora descreve a história deste percurso, aliando o rigor da pesquisa às memórias afetuosas que muitos de nós temos em relação a esta ou àquela sala de cinema especial (seja por nela se ter visto “E Tudo O Vento Levou”, “O Leopardo”, “O Último Tango em Paris” ou “Grease”). Recordar esses tempos, como em qualquer exercício de nostalgia, é reviver momentos felizes, muitas das vezes relacionados com a nossa infância ou início da idade adulta.

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