“Estamos, neste momento, no ponto onde duas estradas divergem. Mas, ao contrário das estradas do famoso poema de Robert Frost, estas não são igualmente justas. A que vimos percorrendo há muito é enganadoramente fácil, uma imensa auto‑estrada lisa, onde avançamos a grande velocidade, mas em cujo final está o desastre. O outro braço da bifurcação da estrada – a ‘menos percorrida’ – oferece-nos a última, a única hipótese de chegarmos a um destino que garanta a preservação da nossa Terra.”

Foi assim, em “Silent Spring”, que Rachel Carson descreveu a situação a que havíamos chegado em 1962. Hoje, 60 anos depois, a importância e atualidade do livro são de tal forma que a Imprensa da Universidade de Lisboa decidiu publicá-lo em português. “Primavera Silenciosa” é uma das mais relevantes novidades deste primeiro trimestre de 2023.
Após a Segunda Guerra Mundial, o uso de pesticidas químicos era já uma realidade fora de controlo, o que levou Carson a questionar publicamente se as entidades governamentais e os cientistas estavam cientes da ameaça que aqueles representavam para a vida no planeta e se o domínio da natureza pelo ser humano seria o melhor caminho para um futuro sustentável.
Para além de colocar perguntas difíceis, mesmo embaraçosas para os organismos estatais competentes – sempre baseadas em provas científicas –, Carson instigou o público a pressionar o poder governamental e os cientistas, defendendo que aquele tem o direito de saber.
Graças aos seus estudos sobre a vida marinha, Rachel Carson trabalhou assuntos como as mudanças climáticas, a subida dos níveis do mar, o aumento das temperaturas que provocam o derretimento dos glaciares, a erosão das linhas costeiras com os seus efeitos dramáticos nos peixes e microrganismos, mas também na salinidade, e o fim de populações inteiras de aves e animais. Com Carson, davam-se os primeiros passos na fundação de uma ética ambientalista, que regule a nossa atuação no respeito pela natureza e em prol da própria sustentabilidade humana.
Rachel Carson (1907–1964) foi ecologista nata, ainda antes da ciência estar definida, e bióloga marinha. O seu percurso começou no Colégio para Mulheres da Pennsylvania, onde a propensão para a literatura deu lugar a uma especialização em biologia e, mais tarde, a um mestrado em zoologia. Ao escrever artigos jornalísticos sobre História Natural percebeu que podia unir os seus dois interesses, a ciência e a escrita.
No final da década de 1950, Carson era considerada a escritora de artigos científicos mais respeitada dos Estados Unidos da América. Ao longo da sua vida, recebeu várias distinções e prémios, entre os quais o Prémio Nacional do Livro, uma bolsa Guggenheim, o prémio de Conservacionista do Ano da Federação Nacional da Vida Selvagem e a medalha de ouro da Associação Zoológica de Nova Iorque. A título póstumo, foi-lhe atribuída a Medalha Presidencial da Liberdade.
Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.