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“Há pessoas que, por vergonha, prolongam situações insustentáveis”, revela autor de livro sobre finanças pessoais

Em 150 páginas, o autor explica como os portugueses podem ter controlo das suas finanças, ajudando os cidadãos a controlar os gastos numa altura em que se avizinha uma grave crise causada pela pandemia.
18 Setembro 2020, 17h30

Desde 2009 que explora o tema das finanças pessoais, e agora, Luís F. Lourenço lançou o livro “Domine as suas Finanças Pessoas – E tenha uma vida melhor”.

Em 150 páginas, o autor explica como os portugueses podem ter controlo das suas finanças, ajudando os cidadãos a controlar os gastos numa altura em que se avizinha uma grave crise causada pela pandemia. O livro tem como objetivo preencher a falta de preparação da maioria das pessoas em termos de gestão financeira pessoal, bem como ajudar a pensar na grande incerteza face ao futuro das sociedades, e a necessidade dos portugueses desenvolverem uma prática de consumo consciente.

Em entrevista ao Jornal Económico, Luís F. Lourenço levanta um pouco o véu e aborda a forma como os portugueses podem controlar as suas finanças e como devem gerir os seus os recursos numa altura de pandemia mundial, bem como métodos simples para lidar com a situação financeira atual.

Qual o maior erro que os portugueses fazem quando querem dominar as suas finanças?
Penso que, principalmente, é não enfrentarem esse querer de forma frontal, honesta (para com os próprios), corajosa e com a determinação de fazer o que for necessário fazer, de forma estruturada e sustentável. As situações variam muito de pessoa para pessoa. Há pessoas que, por vergonha, prolongam situações insustentáveis para evitar ao máximo expor casos delicados perante amigos, familiares e conhecidos, na esperança de conseguirem inverter o estado das coisas a tempo. Outras não conseguem alterar o seu nível de vida e de conforto, permanecendo também demasiado tempo em situações insustentáveis. Outras não sabem por onde e como começar a alterar a sua situação e, com a vontade de alcançar resultados rápidos, lançam-se em soluções que não resultam e são por vezes mesmo perigosas. Outras simplesmente dizem que querem dominar as suas finanças, mas quando chega a altura de fazer mudanças não têm a força de vontade suficiente. Enfim, as situações são mesmo variadas, mas, no final, vamos chegar quase sempre ao mesmo: falta de coragem e honestidade para assumir a responsabilidade pela situação presente, bem como determinação para procurar uma solução estruturada e sustentável com vista a alcançar resultados duradouros. Muitas pessoas também não reconhecem que precisam de reforçar as suas competências em gestão financeira pessoal. Consideram que já sabem tudo o que é necessário saber. Só que depois, na prática, não é isso que se vê.

Como devem os portugueses gerir os seus recursos financeiros numa época pós-Covid ?
Devem fazê-lo com a consciência de que o futuro é muitíssimo incerto e a atitude mais aconselhável perante a incerteza é a redução do risco. Em termos financeiros, isso significa que cada um deve proteger mais o dinheiro que possui, poupando-o e aplicando-o de formas racionais e conscientes. Nos dias que correm, cada vez é mais importante que as pessoas tentem preparar-se o melhor possível para situações inesperadas que possam surgir. Neste momento, não sabemos ainda quando a sociedade vai poder começar a funcionar sem restrições relacionadas com a pandemia. Estamos numa fase em que as coisas podem melhorar, assim como podem piorar. Não é, de todo, um momento de arriscar em termos financeiros, mesmo aqueles que consideram estar mais protegidos contra situações de risco.

No entanto, gostava de referir que esta atitude não devia ser somente uma atitude Covid ou pós-Covid. Depois de passada esta pandemia, não sabemos quanto tempo vai levar até surgir outra, ou algum outro tipo de problema que nos possa afetar novamente de uma forma profunda. Consumir de forma consciente deve passar a ser um modo de vida permanente e não ocasional. Ninguém sabe, por exemplo, qual vai ser a sua situação quando chegar a altura da reforma ou quais vão ser os desafios de curto/médio prazo que se podem apresentar no mercado de trabalho. Isto não quer dizer que as pessoas não devem gastar dinheiro. Não é nada disso. O que defendo é que o devem fazer de forma consciente, depois de ponderar e analisar os prós e os contras. É perfeitamente possível que, por exemplo, nesta altura possam surgir oportunidades de realizar bons negócios e é claro que quem puder as deve aproveitar.

Como é que os portugueses podem controlar as suas finanças?
Controlar as finanças é um dos 4 passos essenciais do método de gestão financeira pessoal da “Your Money Watcher”. Para controlar as finanças é necessário monitorizá-las, mantendo um registo das despesas e das receitas que são feitas ao longo do mês. É um processo que pode parecer um pouco mesquinho ou trabalhoso, mas a verdade é que, muitas vezes, o que estamos a fazer é evitar olhar de frente para a realidade. O registo e análise das receitas e das despesas é um passo inultrapassável no processo de controlo e gestão das finanças pessoais. Só dessa forma é possível tomar decisões e medidas de correção. Quantas vezes já ouvimos dizer frases como “não faço ideia como desaparece o dinheiro” ou “o dinheiro parece que tem asas”? Quem faz o registo das suas despesas e receitas nunca diz coisas deste género.

Outra coisa relacionada com o registo das despesas e das receitas é a informação para a tomada de decisão, pois só com dados concretos é possível saber exatamente quanto se está a gastar e em quê. Além disso, este registo permite também uma coisa muito importante, que é saber exatamente quanto se está a poupar (ou não) por mês. Isto é fundamental. Podemos e devemos imaginar a nossa vida financeira como sendo uma viagem de avião ou de carro. Onde iríamos parar sem instrumentos de bordo? Como saberíamos que estávamos na direção certa e a consumir o nível de combustível adequado?

Quais as melhores dicas para lidar com as finanças pessoais numa altura em que se estima uma crise?
Sinceramente é… fugir às dicas(!). Explicando melhor: as dicas são como pensos rápidos, que cumprem a sua função quando queremos somente estancar um pequeno corte. Uma crise, como a que se aguarda, é mais comparável a um acidente que não se pode resolver com recurso a pensos rápidos. Este é o momento para que as pessoas se concentrem em encontrar formas estruturadas de passar a gerir as suas finanças pessoais, em vez de tentar resolver as coisas através de pequenas dicas. Sem querer fazer publicidade a ninguém, devem procurar formação de base e sólida, como a formação em gestão de finanças pessoais da “Your Money Watcher”, que ensina um método estruturado e apresenta níveis de satisfação sempre em torno dos 90% por parte dos participantes. Mas haverá certamente outras disponíveis no mercado.

É importante perceber que, para mudar a forma de lidar com as finanças pessoais, são quase sempre necessárias medidas de fundo. O primeiro passo deve ser a mentalização para a mudança, sem a qual pouco ou nada acontecerá. Depois, ter formação e seguir um método estruturado de forma disciplinada.

Como perceber o que são gastos essenciais?
Se quisermos ser rigorosos, gastos essenciais são somente aqueles que estão relacionados com as necessidades básicas de alimentação, casa, vestuário, educação e saúde. E isto considerando que vivemos num país com uma economia desenvolvida. Para além destes gastos, quer queiramos, quer não, tudo é dispensável. Durante o momento do confinamento tivemos oportunidade de verificar (à força) parte desta realidade. Fomos forçados a não realizar despesas que antes poderíamos considerar fundamentais e que acabámos por verificar que afinal podemos viver sem elas. Muitos dizem que existem gastos que são essenciais como forma de manter a saúde mental, como sair para jantar fora ou viajar. Lamento, mas não concordo. É perfeitamente possível manter uma boa saúde mental através, por exemplo, de passeios à beira mar ou no campo, ou de saídas com amigos simplesmente no jardim, ambos a custo zero. Mais uma vez, é uma questão de mindset e de capacidade para fazermos uma mudança na nossa forma de ver as coisas. Se alguém considerar que jantar fora ou comprar um casaco de pele são despesas essenciais, está enganado. Podem ser essenciais para manter um estilo de vida, mas não são essenciais para viver e poder fazê-lo de uma forma feliz. O que é essencial é aquilo que nos permite viver com saúde e com dignidade.

O que pode ensinar o seu novo livro aos portugueses?
O meu livro começa por ajudar as pessoas a entenderem melhor o que é uma relação saudável com o dinheiro e o enorme impacto que isso tem nas suas vidas futuras. Depois apresenta dados reais sobre o estado em que se se encontram as famílias e a sociedade, unicamente com o objetivo de sustentar as sugestões e ideias que são apresentadas.

Após a leitura da primeira parte do livro, acho que ninguém pode dizer que não toma melhores decisões em termos de finanças pessoais por não estar consciente ou informado. Na segunda parte, o livro ensina como implementar o método de gestão financeira pessoal da “Your Money Watcher”, com resultados já comprovados por milhares de pessoas em Portugal e nos EUA. De uma forma simples e prática, são apresentados os 4 passos do método, com exemplos e sugestões de aplicação por cada pessoa individualmente. O livro é acompanhado pelas ferramentas de gestão financeira da “Your Money Watcher” para aplicação prática e imediata do método.

Foi minha intenção que o livro tratasse o tema das finanças pessoais de uma forma abrangente, começando por uma abordagem conceptual, passando pela apresentação de um conjunto de ideias, alertas e sugestões com vista a uma melhor gestão financeira pessoal, e acabando com o ensino de um método comprovado e prático que permitisse a cada um implementar imediatamente os conceitos na sua vida. Acho que o mercado tinha falta de um livro assim.

Quais as ferramentas que os portugueses devem apreender para melhorarem as suas finanças?
A nível de conceitos financeiros é fundamental que conheçam os conceitos de ativos e passivos para construírem um balanço pessoal (património financeiro líquido), de despesas e receitas fixas e variáveis para construírem as suas demonstrações de resultados (resultados líquidos), e de elaboração de um orçamento pessoal a curto / médio prazo. Isto eu digo que é o básico. Os conceitos seguintes serão sobre avaliação financeira de créditos (taxas de juro, custos de gestão, penalizações, custos de oportunidade) e de investimentos (alternativas, métodos de avaliação, risco versus rendibilidade esperada, custos de oportunidade). O mais importante é querer sempre evoluir e desenvolver o conhecimento e a consciência sobre o que influencia uma boa gestão financeira pessoal, incluindo estar atento e informado sobre o que se passa em termos sociais e económicos. Mas atenção, nada disto é complicado ou está fora do alcance de qualquer pessoa comum, ao contrário do que se pode pensar quando se ouve falar de alguns termos.

Existe iliteracia financeira em Portugal?
Por parte das pessoas existe uma grande lacuna em termos de literacia financeira e há muito para evoluir. Do lado da oferta, existem projetos em curso como o programa nacional de formação financeira (PNFF), elaborado por um grupo de trabalho criado pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros (CNSF), com representantes dos três reguladores financeiros – Banco de Portugal (BdP), Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e Instituto de Seguros de Portugal (ISP). Este plano iniciou-se em 2011 e está agora no seu segundo período de implementação (2016-2020). Trata-se de um plano abrangente e muito completo que intervém junto de ministérios e organismos públicos, associações empresariais e do setor financeiro, associações de consumidores, centrais sindicais e universidades, com o objetivo de permitem a adaptação da formação financeira às necessidades de públicos-alvo específicos. Infelizmente, pouco se sabe acerca deste plano e dos resultados que estarão porventura a ser alcançados.

Depois existem outras instituições que intervêm de uma forma mais específica, como a Deco e algumas outras empresas. Sem querer de forma alguma retirar valor à oferta existente, que tem certamente ajudado muitas pessoas e a sociedade em geral, quero sublinhar que acho muito importante a existência de uma formação de qualidade e estruturante e acessível a todos, pois só assim se pode contribuir de uma forma concreta e efetiva para uma sociedade mais equilibrada, sólida e capacitada. Foi por isso que escolhi o método da “Your Money Watcher” para incluir no meu livro.

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