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Livro sobre benefícios dos animais para os idosos

Em alguns países europeus já são muitos os profissionais de saúde (sobretudo psiquiatras) que recomendam e “prescrevem” a adopção de animais aos seus utentes mais velhos.
2 Junho 2022, 06h15

É já no próximo dia 4, em Lisboa, no Instituto do Animal, às 18 horas, que será apresentado o livro, resultante de uma tese de doutoramento, “Os benefícios dos animais de companhia para os idosos”, tendo no painel de oradores a Professora Ilda Rosa (médica veterinária); a professora Catarina Casanova (antropóloga); o dr. João Parente (médico psiquiatra e psicoterapeuta) e o Paulo Anes (escritor). Esta, é uma matéria que paulatinamente vai escalando a sensibilidade nos diversos quadrantes de saber na sociedade portuguesa, porém, por cá, estamos muito aquém da prática e consciencialização de outros países, quanto à sua valorização e importância na sociedade e ecossistemas.

E neste contexto, não me limito a re-enaltecer o comprovado benefício (recíproco) inter-espécies ao nível psicológico, físico e emocional, mas a mencionar a igualmente comprovada repercussão socioeconómica desta prática noutros países. Por exemplo, a implementação de terapias ou simplesmente atividades assistidas por animais em unidades de saúde mental, hospitais ou instituições de acolhimento (permanente ou temporário) de idosos pode reduzir os gastos inerentes à saúde deste subgrupo populacional. Em alguns estudos efectuados, neste âmbito e particularmente de enfoque económico, as conclusões foram de que haveria uma poupança de cerca de 50% na administração de medicamentos. Mas os resultados apontavam para outros aspectos: as atividades e terapêuticas com animais reduziam o tempo de internamento dos utentes nas unidades de saúde e diminuíam a necessidade de circulação dos profissionais, libertando-os desta forma para a rentabilização de outras funções igualmente necessárias aos serviços. Mesmo a adopção de animais, com implicações benéficas nos idosos, como o combate ao sedentarismo, a implementação de rotinas de exercício e actividades com consequente melhoria ao nível cardiovascular e mental nestas pessoas, implica uma notável poupança nos recursos ao Sistema Nacional de Saúde (quando as consultas de geriatria ocupam cerca de 70% do total do SNS).

Em alguns países europeus já são muitos os profissionais de saúde (sobretudo psiquiatras) que recomendam e “prescrevem” a adopção de animais aos seus utentes mais velhos. Há mesmo psicólogos e psiquiatras no Brasil que já usam animais nas suas consultas como mediadores terapêuticos e facilitadores da comunicação com os seus pacientes. Prática, esta, que parecendo recente, na realidade já foi inovado no Séc. XVIII no retiro de York quando um médico de saúde mental, se apercebeu que a interação dos doentes com os animais que por ali circulavam, no pátio, implicava melhoria de humor e de sociabilização entre os vários intervenientes. Dois séculos depois, foi Levinson, também médico psiquiatria, que, “acidentalmente”, retomaria a terapia intermediada por animais quando o seu próprio cão lhe entrou pelo consultório e despontou numa criança autista, as primeiras manifestações de comunicação e de interação com o clínico, o que lhe facilitou a terapêutica.

Sendo evidentes os benefícios dos animais para a saúde humana, é incompreensível que ainda hoje, no nosso país, esta abordagem esteja aquém de muitos outros países europeus onde, inclusive, já se legislou sobre a matéria.

Talvez a apresentação do livro possa contribuir para colocar o seu debate na ordem do dia de múltiplos profissionais da saúde, mas também economistas e legisladores…E fomente a necessária cultura de proteção e bem-estar animal, face à múltipla beneficiação da humanidade.

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