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Luís Montenegro apresenta candidatura para voltar a tentar a liderança do PSD (com áudio)

A decisão que é agora oficializada já não é surpresa para ninguém e, desta vez, Montenegro parte com vantagem para tentar conquistar o lugar de presidente do PSD, depois de ter sido derrotado por Rui Rio, em 2020.
6 Abril 2022, 08h35

Luís Montenegro apresenta a candidatura à liderança do PSD esta quarta-feira na sede do partido, em Lisboa. É, para já, o único candidato às eleições diretas, marcadas para 28 de maio, depois de nas última semanas, a maioria dos possíveis adversários terem rejeitado participar na corrida.

A decisão de Montenegro, anunciada à “Lusa” a 29 de março, acabou por não ser surpresa para ninguém; há tentoua  presidência antes, em janeiro de 2020, quando enfrentou Rui Rio e o obrigou a uma inédita segunda volta, tendo arrecadao 47% dos votos e mostrado um partido dividido a meio. Agora, volta a tentar, depois de dois anos discretos na arena pública, e quando Rio sai de cena depois de umas eleições legislativas em que é derrotado por uma maioria absoluta do PS. Diz ter escutado “muitos militantes, autarcas e cidadãos” e “recebido incentivos e sugestões vindos de dentro e de fora do partido”.

Carreira política longa, marcada pelo Parlamento

Luís Filipe Montenegro Cardoso de Morais Esteves, 49 anos, é advogado de formação, mas dedicou-se sobretudo à vida política, que iniciou como presidente da concelhia de Espinho da JSD. Passou também pela Câmara Municipal de Espinho como vereador e até foi candidato às autárquicas em 2001 e 2005, mas perdeu sempre. Destacou-se, sim, como deputado – sempre eleito por Aveiro -, um cargo que exerceu de 2002 a 2018, da liderança de José Manuel Durão Barroso à de Pedro Passos Coelho. Teve o seu ponto alto como líder parlamentar do PSD, entre 2011 e 2017 (foi o presidente de bancada mais duradouro entre os sociais-democratas), quando rosto do ‘passismo’, nos anos da “troika’, e nos primeiros anos da chamada ‘gerigonça’ – confrontou diversas vezes António Costa nos debates quinzenais.

É visto como um sucessor natural Passos Coelho e seu herdeiro político, tendo expressado, pontualmente, as suas divergências com a direção de Rui Rio, ao longo dos anos, especialmente no que toca à possibilidade de acordos com o PS em temas como os fundos europeus, acusando-o de servir de “muleta” do Governo e de aproximar o partido aos socialistas. Agora, depois de os seus mais próximos terem encetado contactos com as estruturas do partido e reunido apoios, submete-se mais uma vez ao voto no partido.

Segundo contou uma fonte próxima do candidato ao “Observador”, grande parte da estratégia e das linhas-gerais da candidatura replicam o esquema da anterior, nomeadamente a questão do índice de felicidade interna bruta, usado pela ONU.

Ademais, terá como prioridade romper definitivamente com a era de Rui Rio, priorizando a agregação e união do partido, a modernização da sua imagem, a atração de novos quadros e acabar com a discussão sobre o posicionamento do partido, fazendo do PSD uma alternativa real ao PS, mais à direita, depois de sete anos afastados do poder e com mais quatro de provável oposição.

Mais do que nunca, tem os apoios que podem determinar a sua vitória: Joaquim Miranda Sarmento, presidente do Conselho de Estratégia Nacional e o homem das finanças de Rui Rio, vai coordenar a moção de estratégia global que Luís Montenegro vai levar ao Congresso do PSD; Carlos Coelho, “formador” de quadros do PSD e ex-eurodeputado, assumirá o papel de diretor de campanha, depois de não ter apoiado publicamente nenhuma candidatura nos últimos anos.

O vice-presidente do PSD Salvador Malheiro, homem forte de Rio, foi rápido a dizer, a seguir à anunciada saída de Rio, que “poucos reúnem condições” de Luís Montenegro para liderar partido, opinião partilhada por Luís Marques Mendes.

Maçonaria, Galpgate e contratos por ajustes diretos

Mas o percurso de Montenegro, casado e pai de dois filhos, também conta com polémicas. Talvez a mais memorável seja a ínfima frase “a vida das pessoas não está melhor, mas a do país está muito melhor”, proclamada em janeiro de 2014, na reta final da intervenção do FMI no país. Contudo, maiores em número e em peso são as que o levaram à justiça ou ao escrutínio do público e da Assembleia da República.

Em 2012, o “Expresso” expôs a ligação de Montenegro à maçonaria, que foi entretanto aprofundada no livro “O Fim dos Segredos” da jornalista Catarina Guerreiro. O antigo líder da bancada do PSD terá sido iniciado na maçonaria, em 2008, na loja Mozart, da Grande Loja Legal de Portugal, que juntava políticos, espiões e empresários. Montenegro ter-se-á afastado, como muitos outros, na sequência do escândalo que eclodiu quando se tornaram públicas estas relações, que acabaram por chegar aos tribunais, no que ficou conhecido como o “processo das secretas”.

Não obstante, o social-democrata sempre negou pertencer a esse tipo de associações: “Não sou da maçonaria, não pertenço à maçonaria”, disse, num debate com Rio, paras  as eleições internas, que acusou de ser incoerente por fazer “julgamentos com base em notícias de jornal”. Numa circunstância diferente, realçou que apenas esteve num jantar.

Entre 2014 e 2018, a sociedade de advogados da qual Montenegro é sócio obteve contratos por ajuste direto das autarquias de Espinho e Vagos (ambas lideradas pelo PSD) no valor de 400 mil euros, o que foi mas a subcomissão de Ética da Assembleia da República concluiu que não havia uma situação de “impedimento”.

Em junho de 2018, foi constituído arguido (a par dos então deputados Hugo Soares e Luís Campos Ferreira e de governantes) pelo alegado crime de indevida vantagem no caso das viagens do Euro 2016, conhecido como “Galpgate”. Montenegro negou as acusações e garantiu que essas viagens foram pagas a expensas próprias, no âmbito de um processo que acabaou por ser arquivado, mediante o pagamento de uma multa.

Em 2019, na campanha interna dos sociais-democratas, foi, tal como o seu adversário Rui Rio, ao programa das manhãs de Cristina Ferreira, então na SIC, onde contou que a sua alcunha de infância era ‘Ervilha’ (por ser “redondinho” e ter olhos verdes) e mostrou os seus dotes musicais num dueto com Tony Carreira, cantando “Sonhos de Menino”. A partir de hoje, o sonho é a presidência do PSD.

 

Fontes: Renascença, Observador, Expresso, TSF, Diário de Notícias, Agência Lusa, Polígrafo.

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