Lula da Silva investe contra Banco Central do Brasil e diz que a sua independência é “bobagem”

Presidente brasileiro tem vindo a criticar o Banco Central por manter a taxa de juro nos 13,75%, apesar de a inflação estar abaixo dos 6%. Desde 2021 que a instituição está blindada do poder político, mantendo a sua independência face a Brasília.

Lula da Silva criticou a política monetária do Banco Central do Brasil (BC), depois de ter decidido manter a taxa de juro em 13,75%, que vigora desde agosto de 2022.

O Comité de Política Monetária (Copom) do BC tomou a decisão na semana passada de manter a taxa básica, conhecida por taxa Selic, intacta.

Agora, Lula da Silva investiu contra a decisão do banco. “Tem muita gente que fala: ‘Pô, mas o presidente não pode falar isso’. Ora, se eu que fui eleito não puder falar, quem que eu vou querer que fale? O catador [apanhador] de material reciclável? Quem que eu vou querer que fale por mim? Não. Eu tenho que falar. Porque quando eu era presidente eu era cobrado”, disse o presidente brasileiro na segunda-feira, citado pelo portal “G1”.

“É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”, acrescentou.

A taxa está no nível mais elevado desde janeiro de 2017 e subiu 11 pontos percentuais entre janeiro de 2021 e agosto de 2022.

Já a inflação no Brasil é de causar inveja a muitas economias ocidentais: 5,79% no final de 2022. O Copom espera que atinja 5,6% no final de 2023, e 3,4% no final de 2024.

Lula da Silva também defendeu que os empresários têm de reclamar das decisões do BC, caso contrário a política monetária não muda.

“É preciso, Josué, que você saiba que, se a classe empresarial não se manifestar, se as pessoas acharem que vocês estão felizes com 13,5%. Sinceramente, eles não vão baixar juros”, disse, referindo-se a Josué Gomes, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

A classe empresarial precisa de “aprender a reivindicar, precisa aprender a reclamar dos juros altos. Precisa aprender a reclamar porque quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava”, segundo Lula da Silva.

A 18 de janeiro, Lula da Silva já tinha criticado a ideia de um banco central independente do Governo, uma mudança que teve lugar durante o Governo de Jair Bolsonaro em 2021, após aprovação pelo Congresso Nacional. O objetivo da lei foi blindar a atuação do BC do poder político.

“Nesse país se brigou muito para ter um Banco Central independente, achando que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer com a minha experiência, é uma bobagem achar que o presidente do Banco Central independente vai fazer mais do que fez o Banco Central quando o presidente era que indicava”, disse na altura em entrevista à “GloboNews”.

Na ocasião, também comparou o atual presidente Roberto Campos Neto (que termina o seu mandato em dezembro de 2024) com o presidente durante parte dos seus mandatos anteriores: Henrique Meirelles entre 2003 e 2010.

“Eu duvido que esse presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto] seja mais independente do que foi o [Henrique Meirelles]. Duvido. Por que com um banco independente, a inflação está do jeito que está?”, questionou Lula da Silva.

Mas várias vozes já criticaram o presidente: “Lula realmente quer abolir a autonomia do Banco Central”, disse o jornalista Alexander Busch, correspondente de vários jornais alemães no país.

“Lula não poderá escolher um sucessor para a presidência do Banco Central até 1º de janeiro de 2025. No entanto, pode nomear previamente os diretores de sua preferência. Isso é até provável, mas só aumentaria o potencial de conflito na disputa entre o governo e o Banco Central. Se Lula quiser colocar o BC novamente sob o controle do governo, isso custaria tão caro para ele politicamente que seria mais uma missão suicida para seu governo”, segundo a opinião publicada no “Deutsche Welle”.

“A questão permanece: por que ninguém ousa dizer a Lula que ele está dando um tiro no próprio pé?”, acrescenta o jornalista.

“Temos incertezas em relação ao futuro fiscal e uma expectativa ainda alta de inflação que continuam a trazer um cenário mais conservador. Por isso, a taxa de juros tende a permanecer mais alta no decorrer do ano”, disse por sua vez Maurício Godoi, professor da Saint Paul Escola de Negócios, citado pela “G1”.

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