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“Lusofonia não se pode tornar num instrumento geoestratégico”, destaca ex-ministro angolano

A declaração de Carlos Feijó surge depois de António Martins da Cruz, ex-ministro Negócios dos Estrangeiros português, dizer que a política externa “tem de ser feita em torno dos nossos interesses”, sendo em específico a CPLP um espaço onde os podemos afirmar, a par das nossas ambições.
16 Setembro 2022, 12h18

“A Lusofonia não se pode tornar num instrumento geoestratégico usado por alguns países que a compõe contra outros”, afirmou Carlos Feijó, ex-ministro de Estado angolano, na conferência organizada pelo Jornal Económico (JE) e que decorre esta manhã no ISEG. A sua declaração surge depois de António Martins da Cruz, ex-ministro Negócios dos Estrangeiros português, dizer que a política externa “tem de ser feita em torno dos nossos interesses” e não pode ser guiada por “estados de alma”.

Martins da Cruz destacou que a Lusofonia – um espaço onde vamos conseguindo expressar “os nossos interesses e ambições” – é uma das três prioridades da política externa, tendo por base o património histórico, a afetividade e comoção; enquanto a Europa, para além dos traços políticos que a unem ao bloco, concentra a maioria do nosso comércio externo, e o espaço atlântico, em específico os EUA, se constroem na nossa necessidade de defesa.

Para o antigo embaixador, contudo, a CPLP, apesar de ter muitas oportunidades, conta com vários limites: geográficos, políticos e económicos. A nível geográfico, porque é descontínua, encontrando-se espalhada por três continentes, o que influencia a economia porque estão integrados em blocos económicos próprios, mas também a política, porque porque há fidelidades regionais  distintas. Sublinhando que há dezenas de organismos internacionais na América Latina e em África, Martins da Cruz  destaca que a CPLP não se pode comprar com a francofonia e Commonwealth.

“A CPLP não tem patrões, mas cooperações horizontais em que todos os ministros tem reuniões das suas pastas, para além de com provedores de justiça, reguladores da comunicação social, e outros. É um ativo que nos ajuda a bilateralizar relações num quadro multilateral”, disse.

Reveja aqui conferência de aniversário do Jornal Económico

Feijó, quando questionado sobre a oportunidade da paz ajudar a responder a desafios de países da Lusofonia, ressalva que a paz hoje não tem o mesmo sentido para um cidadão angolano, português ou da Guiné-Bissau. “A paz não é só ausência de guerra, mas deve significar que não há desigualdades, exclusão social. E não sei se algum dos nossos países resolveu estes problemas”, frisou.

Primeiro, do ponto de vista do chefe da Casa Civil de Angola, tem de haver reconciliação, com componente política, económica, e cultural dentro de cada país. Depois, sim, essas dimensões devem ser aprofundadas a nível da Lusofonia.

Também Alberto Galhardo Simões, sócio da sociedade de advogados CMS Portugal, defende que se deve olhar para cada país com a sua individualidade. “É um erro crasso olhar para os países da Lusofonia como se olha para Portugal. São realidades completamente distintas, nomeadamente ao nível da matriz de risco em África. De qualquer forma, os grandes países da lusofonia estão mais ou menos estáveis do ponto de vista político, em paz”, indicou.

Olhando mais para o lado dos negócios e investimento, e referindo-se mais especificamente para Angola e Moçambique, sublinha que são países que “têm feito enorme esforço para se abrir à iniciativa privada e investimento privado”, apesar de terem custos de desenvolvimento três ou quatro vezes maiores. “Há mecanismos financeiros que ajudam nesse financiamento, mas não deixa de ser uma preocupação”, referiu.

Hoje, Angola é “muito amiga dos investidores”, depois de alguns setbacks desde o fim da guerra civil. “Ganhou maturidade e há grandes oportunidades ao abrigo do plano de privatizações, e derivadas ainda da aposta nas renováveis, em especial energia solar fotovoltaica”. Já Moçambique representa uma grande oportunidade mas que teve o “grande constrangimento da instabilidade de Cabo Delgado. Apesar de esforços, ainda não houve retoma de alguns projetos que se viram obrigados a retirar”, acrescentou o advogado.

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